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A inclusão de vitaminas em dietas de bovinos confinados e seus efeitos sobre a carcaça produzida

As vitaminas são considerados aditivos e podem ter diferentes efeitos sobre o metabolismo, bem como a qualidade dos cortes produzidos. Diferentes respostas vão depender da dose utilizada, do sistema e até do clima em que os animais estão inseridos.

As vitaminas são considerados aditivos e podem ter diferentes efeitos sobre o metabolismo, bem como a qualidade dos cortes produzidos. Diferentes respostas vão depender da dose utilizada, do sistema e até do clima em que os animais estão inseridos. A vitamina A atua de várias formas no organismo animal sendo essencial para o crescimento ósseo e manutenção do tecido epitelial. O ácido retinóico, um derivado da vitamina A, regula a diferenciação e proliferação celular e retarda o processo de diferenciação adipogênica. Portanto, é possível que a vitamina A influa na diferenciação de adipócitos, e consequentemente na quantidade de lipídeos intramuscular (marmoreio) da carne bovina.

A concentração sérica da vitamina A é inversamente correlacionada com o marmoreio, sendo que essa correlação se apresenta mais acentuada em animais mais novos, sugerindo que vitamina A pode atuar sobre os graus de marmoreio durante o período inicial de deposição de gordura. O tecido adiposo intramuscular possui um número maior de células, com menor diâmetro e volume por grama, do que o tecido adiposo subcutâneo. Isso sugere que o tecido adiposo intramuscular seja um depósito de adipócitos imaturos (Oka te al. 1998).

Animais deficientes em vitamina A possuem uma menor concentração plasmática e na pituitária de hormônio do crescimento. A presença do hormônio do crescimento inibe a deposição de gordura e consequentemente o marmoreio, sendo assim, sugere-se que a vitamina A atua sobre o hormônio do crescimento e consequentemente sobre o marmoreio.

Há influencia da vitamina A sobre marmoreio em bovinos de corte e, mantendo-se baixos níveis séricos dessa vitamina, pode-se aumentar o grau de marmorização dos cortes (Oka te al. 1998).

Outra vitamina de grande importância é a vitamina D, a qual pode interferir sobre a maciez, característica de maior importância para os consumidores de carne bovina, sendo essencial para produção de cortes diferenciados. Pesquisas em todo o mundo buscam técnicas de se melhorar a maciez da carne bovina, sendo esse o principal ponto na diferenciação de cortes cárneos. Algumas marcas de carne buscam alternativas para que possam assegurar maciez nos cortes que contenham sua marca.

Nesse contexto, a administração de vitamina D3 para bovinos nos últimos 10 dias antes do abate, proporciona aumento na concentração de cálcio plasmático, importante na ativação das proteases dependentes, como a calpaína, melhorando a maciez da carne de animais suplementados. Doses de 0, 2.5, 5,0 e 7.5 x 106 UI vit. D durante 10 dias levou a um aumento linear na concentração de cálcio sanguíneo.

O aumento da concentração de cálcio plasmático através da administração de vitamina D3 vem sendo estudado desde a década de 50, com resultados positivos, na tentativa de diminuir as incidências de paresia pós parto em vacas de leite. O aumento do cálcio plasmático como efeito da suplementação de vitamina D3 se deve provavelmente ao aumento da absorção de cálcio no intestino e da reabsorção renal.

Segundo Swanek et al. (1999) a suplementação com 7.5×106 UI por animal/dia durante 10 dias, elevou as concentrações de cálcio para 53 mM de cálcio no músculo, melhorando a atividade das enzimas proteolíticas e conseqüentemente a maciez dos cortes obtidos. Em outro trabalho, Pedreira (2002), utilizando a dose de 5×106 UI por animal/dia melhorou a maciez avaliada em painéis de degustação.

A suplementação com vitamina D nas doses 5 a 10×106 UI animal/dia não interfere no consumo de matéria seca, podendo ocorrer diminuição de consumo com doses extremamente elevadas ou em longos períodos de suplementação.

Vitamina E é reconhecidamente um nutriente essencial no desenvolvimento de todas as espécies animais, inclusive os bovinos, sendo que sua deficiência pode levar a morte e reabsorção embrionária, degeneração de retina, hemólise de eritrócitos e afetar a biossíntese de prostaglandina. Apesar de todas funções citadas anteriormente, o principal papel da vitamina E é o de anti-oxidante biológico.

A vitamina E se apresenta em diversas formas químicas e físicas: tocoferol, d-alfa-tocoferol, acetato d-alfa-tocoferil, acetato alfa-tocoferil. A forma mais encontrada no mercado é acetato d-alfa-tocoferil. A introdução da vitamina E na dieta pode ser feita através da absorção em substrato sólidos como farelo ou milho triturado. A suplementação com vitamina E visa aumentar concentração da mesma no músculo, possibilitando uma maior estabilidade da coloração da carne através do seu papel anti-oxidante.

A aparência (cor e textura) é uma das únicas, ou muitas vezes, a única forma de avaliação da qualidade da carne pelo consumidor no momento da compra. A coloração da carne é devido a três pigmentos: deoximioglobina, oximioglobina e metamioglobina. Deoximioglobina tem cor púrpura, observada na carne fresca. Após alguns minutos de exposição ao oxigênio a deoximioglobina se torna oxigenada formando o pigmento oximioglobina, que é brilhante e de cor vermelho cereja. Depois de horas ou dias de exposição, a oximioglobina dá lugar a um pigmento de cor marron denominado metamioglobina pela substituição da molécula de oxigênio por uma molécula de água. O ciclo de mudanças na coloração da carne e reversível e dinâmico, podendo ocorrer alterações nos pigmentos oxi e metamioglobina. Um típico exemplo desse processo são as carnes embaladas a vácuo (ausência de O2) que apresentam cor amarronzada (metamioglobina) e minutos após serem abertas se tornam de cor vermelho cereja (mioglobina).

Já a oxidação de lipídeos é um processo degradativo, resultando em rancificação em carnes não cozidas e um gosto característico em carnes já processadas. Apesar do cozimento não alterar a concentração de alfa tocoferol no músculo, a capacidade de impedir a oxidação de lipídeos fica substancialmente diminuída nas carnes cozidas em relação à carne fresca.

A suplementação com vitamina E (300/UI animal/dia) durante 9 meses melhorou o tempo de prateleira da carne de 4.9 dias (controle) para 7.4 (suplementado). Dose de 360 UI/animal/dia promove a estabilidade da coloração igual à dose de 1290 UI/animal/dia no período de 7 dias, porém não para o período de 21 dias (Liu et al. 1995). Suplementação de 500 mg/animal/dia durante 126 dias aumentou a estabilidade da coloração dos músculos.

A vitamina E endógena (suplementação) se apresenta mais eficiente do que a exógena (aplicação pós abate) na estabilidade da cor e de lipídeos na carne, provavelmente devido a um contato somente superficial e não intra membrana.

Suplementação com vitamina E não vai afetar o desempenho dos animais, características da carcaça (qualidade e produtividade), nem a contagem microbiana na carcaça de animais tratados.

Com a suplementação de vitamina E, ocorre um aumento na concentração desta vitamina nos lipídeos, protegendo contra a oxidação durante o período de exposição da carne em prateleira.

A utilização desta tecnologia pela indústria ainda deve demorar, pois mais pesquisas são necessárias para o perfeito entendimento do mecanismo de ação do alfa tocoferol sobre a formação da metamioglobina. A suplementação de 500 UI/animal/dia durante 126 dias promove estabilidade da cor de carnes comercializadas frescas, porém no caso de armazenamento ou exportação que o período necessário de estabilização seria de 60 a 120 dias, seria necessário uma dose maior, de aproximadamente 63.000 UI/animal/dia, durante 126 dias (Liu et al., 1995).

Além das considerações descritas acima, Carter et al., (2005) observaram diminuição do uso de medicamentos e melhor adaptação dos animais em confinamento, com a inclusão de 2000 UI/animal/dia na dieta inicial.

Referências bibliográficas:

CARTER J.N.; GILL, D.R.; KREHBIEL, C.R.; CONFER, A.W.; SMITH, R.A.; LALMAN D.L.; CLAYPOOL, P.L.; MCDOWELL, L.R. Vitamin E supplementation of newly arrived feedlot calves. J. Anim. Sci, v. 83, p. 1924-1932, 2005.

LIU, Q.; LANARI, M.C.; SCHAEFER, D.M. A review of dietary vitamin E supplementation for improvement of beef quality. . J. Anim. Sci, v. 73, p.

OKA, A.; YOSHIYUKI, M.; MIKI, T.; YAMASAKI, T.; SAITO, T. Influence of vitamin A on the quality of beef from the Tajima Strain of Japanese Black Cattle. Meat Sci., v. 48, n. ½, p. 159-167, 1998.

PEDREIRA, A.C.M.S. Características qualitativas do músculo Longissimus dorsi de animais Bos indicus tratados com vitamina D3. Tese de Doutorado. ESALQ/USP, Piracicaba/SP, 2002

SWANEK, S.S.; MORGAN, J.B.; OWENS, F.N.; GILL, D.R.; STRASIA, C.A.; DOLEZAL, H.G.; RAY, F.K. Vitamin D3 supplementation of beef steers increases longissimus tenderness. J. Anim. Sci, v. 77, p. 874-881, 1999.

2 Comments

  1. Ronaldo Mendonça dos Santos disse:

    Parabéns pelo artigo! À respeito da vitamina D, há necessidade de suplementação dessa vitamina para animais que são expostos ao sol? Para animais que são alimentados com pasto ou silagem haverá necessidade de adicionar vitamina A exógena (parenteral ou oral)?

    Att.,
    Ronaldo Mendonça dos Santos.

  2. André Alves de Souza disse:

    Prezado Ronaldo,
    Nos casos de suplementação com vitaminas visando a melhora dos cortes da carcaça, é utilizado uma dose bem acima das quantidades “normais” para suprir as exigências dos animais. Seria uma “super” suplementação.
    Essas vitaminas podem ser fornecidas de forma oral pu parenteral, sendo mais econômico e prático o fornecimento oral. No caso da vitamina A, deve-se restringir a ingestão da mesma, visando aumento do número de adipóciots intramuscular, ok?

    Um forte abraço.

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