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A importância do protocolo de avaliação para características de carcaça

Por Fabiano Araújo1, Camila Guedes2 e Roberto D. Sainz3

A importância do protocolo de avaliação para as características de carcaça e seus benefícios para os programas de melhoramento genético

A utilização da ultra-sonografia para a avaliação de características de carcaça em Programas de Melhoramento Genético já é uma realidade no Brasil. Entretanto, o uso desta tecnologia para estimar valores genéticos (DEPs) requer o cumprimento de protocolos que garantam a qualidade e a confiabilidade dos dados coletados, através de técnicos capacitados e padronização das técnicas utilizadas para as avaliações.

Assim sendo, as imagens devem ser coletadas na posição certa, bem focadas, com os aparelhos devidamente calibrados e com qualidade adequada para obtenção de medidas acuradas de musculosidade (área de olho de lombo), acabamento (espessura de gordura subcutânea) e marmorização (gordura intramuscular).

A necessidade do desenvolvimento de protocolos uniformes para as avaliações de carcaça fez com que surgisse em 1998 uma aproximação maior das Associações de Raça com as Universidades e técnicos. Isto ocorreu principalmente com a decisão da Associação Americana de Angus em subsidiar pesquisas em parceria com a Iowa State University, voltada ao desenvolvimento de parâmetros genéticos e conseqüentemente protocolos para as características de carcaça.

Atualmente a UGC (Ultrasound Guidelines Coucil) é responsável pela regulamentação da prática de avaliação de carcaça por ultra-sonografia. Todos os aparelhos, softwares e também técnicos de laboratório e de campo são submetidos à certificação que comprovam a sua qualidade ou mesmo habilidade para a avaliação de carcaça. Esta prática veio com o intuito principal de regulamentar a ultra-sonografia para carcaça, beneficiando os Programas de Avaliação Genética, Associações de Raças e conseqüentemente a pecuária em geral.

No Brasil, foi criado o Centro de Referência em Tecnologia de Ultra-som (CRTU) para atender as necessidades dos Programas de Avaliação Genética e das Associações de Raças, permitindo a padronização do sistema de avaliação, utilizando assim, dados de diferentes técnicos dentro de um mesmo critério e tecnologia. As finalidades do laboratório são: treinamento adequado dos técnicos, com um sistema de credenciamento dos mesmos; avaliação e seleção dos aparelhos e softwares utilizados, de maneira que os resultados sejam uniformes e confiáveis; monitoramento da qualidade dos dados; e capacitação e atualização dos técnicos.

Além disso, para a implementação da avaliação de carcaça dentro dos Programas de Melhoramento Genético foram necessários estudos de cada característica e o comportamento da fisiologia dos animais diante das diferenças ambientais, de manejo, entre grupos genéticos etc. Assim, com a definição dos parâmetros genéticos, herdabilidades e correlações, foi possível a implementação das DEPs (Diferenças Esperadas na Progênie) para as características de carcaça medidas por ultra-sonografia e definições de protocolos para avaliação específica de cada raça zebuína, respeitando as diferenças fisiológicas e anatômicas entre elas.

As herdabilidades para características de carcaça são moderadas a altas, ou seja, entre 0,3 e 0,4 (TABELA 1). A maioria dos estudos nesta área têm sido desenvolvidos principalmente para as raças Bos taurus e seus cruzamentos, geralmente alimentados com dietas de alta energia.

Tabela 1. Herdabilidades e correlações genéticas das principais características da carcaça, medidas diretamente ou por ultra-sonografia.


Entretanto, alguns trabalhos foram realizados no Brasil com o objetivo de definir parâmetros genéticos, herdabilidades e correlações genéticas para raça Nelore, já que ela é responsável pela grande maioria da genética bovina brasileira (Tabela 2). Este processo de pesquisa se estende para um melhor estudo da fisiologia e conseqüentemente uma avaliação da variabilidade desta raça, diante as diferenças de sexo, ambiente, manejo nutricional etc.

Desta forma, foi possível implementar as DEPs para as características de carcaça e definir protocolos para avaliação da raça Nelore. Assim, desde 2003, o Programa de Melhoramento Genético da Raça Nelore (PMGRN – ANCP), incorpora as avaliações para área de olho de lombo (AOL), espessura de gordura entre a 12a-13a costelas (EG) e espessura de gordura na garupa (EGP8), com mais de quinze mil animais avaliados diretamente.

Tabela 2. Herdabilidades e correlações genéticas das principais características da carcaça, medidas por ultra-sonografia, em gado Nelore.


AOL= área de olho de lombo, EG= espessura de gordura na costela, P8= espessura de gordura na garupa
Fonte: Yokoo, M.J.; 2005.

1. Protocolo de avaliação

A definição da melhor idade para a avaliação de carcaça depende dos valores estimados de herdabilidades e correlações genéticas de cada raça, uma vez que cada uma apresenta diferentes fisiologias de crescimento e características peculiares.

A avaliação deve ser realizada a uma idade suficiente onde o animal já tenha condições de expressar o seu potencial genético, o que permite a detecção de variabilidade entre os animais, e ao mesmo tempo a uma idade que se valorize a precocidade.

Atualmente existem 28 raças que já possuem avaliações genéticas para carcaça através da ultra-sonografia. Apresentamos abaixo as idades padrões para avaliação.

Tabela 3. Idades (dias) adotadas para a avaliação de carcaça por ultra sonografia1.


1 – Estas idades padronizadas são para animais em regime de confinamento, que apresentam uma boa condição, ou seja, um bom plano nutricional para que os animais possam seu potencial ou variabilidade dentre as características avaliadas. Portanto, estes animais devem ser avaliados nesta faixa etária com peso mínimo de 300kg. Somente no caso do Nelore temos um padrão para animais criados e recirados a campo.
Fonte: Aval, protocolo – 2006.

1.2. Protocolo para coleta de dados

Durante as avaliações nas fazendas, os técnicos devem preencher uma planilha com a identificação de cada animal avaliado, data de nascimento, peso, regime alimentar e grupo de manejo. As pesagens devem ser realizadas dentro de um período de sete dias da avaliação de carcaça.

É importante ressaltar que o grupo de manejo ou Grupo de Contemporâneos deverá ser identificado separadamente e com um mínimo de 5 animais por grupo. O número de progênies necessárias para uma avaliação acurada dos touros para características de carcaça, através da ultra-sonografia, é correlacionado diretamente com as herdabilidades das características.

1.3. Formação de grupos contemporâneos

Para a avaliação genética do rebanho, é necessária a formação criteriosa de grupos de manejo, pois a avaliação genética é baseada na comparação entre animais que recebem o mesmo tratamento, mesmo manejo, do nascimento até a data da coleta de dados, seja ao desmame, ao sobreano ou mesmo ao abate. Assim, a utilização de grupos de contemporâneos tem o principal objetivo eliminar os efeitos do ambiente, manejo e sexo; e comparar os animais unicamente pelos seus valores genéticos.

A tabela abaixo apresenta resultados de pesquisas referentes às variações que comumente ocorrem dentro de rebanhos ou mesmo entre eles.

Tabela 4: Médias estimadas para a área de olho de lombo (AOL), espessura de gordura subcutânea (EG) e espessura de gordura subcutânea na garupa (EGP8), de acordo com o sexo, manejo alimentar e estação de nascimento de bovinos da raça Nelore.


Assim, logo após o nascimento os animais devem ser agrupados da melhor maneira possível, procurando grupos de manejo uniformes e em grande número para maior precisão na comparação da performance. Deve-se separar machos de fêmeas, para facilitar as comparações genéticas dentro do mesmo sexo.

Quanto maior o grupo comparado e menor a variação de idade, dentro do mesmo sexo, maior será a confiabilidade das DEPs obtidas, ou seja, maior a acurácia das avaliações genéticas.

Portanto, recomenda-se ao criador definir estações de monta e nascimento. Estas, não deverão exceder três meses, assim todos os animais nascerão na mesma estação e sofrerão as mesmas influências ambientais. Com esta técnica é possível formar grupos com descendentes de vários touros e com diferenças mínimas de idade, aumentando a acurácia das avaliações.

É de extrema importância incluir todos os animais do rebanho nos grupos para serem avaliados. Eventualmente, o criador elimina dados de animais considerados inferiores quando comparados aos outros do rebanho. Assim diminui-se o número de animais na análise, e os resultados tornam-se viciados, pois a análise perde sua “base”, ocorrendo redução no progresso genético do rebanho. Ainda, isto prejudica os valores genéticos estimados para os animais que permanecem na base de dados, uma vez que a média dos valores seria maior.

Considerações finais

A ultra-sonografia é uma técnica importante no monitoramento da musculosidade e do grau de acabamento dos bovinos, sendo a melhor maneira de predizer nos animais vivos as características de carcaça importantes para a produção e melhoramento genético.

Entretanto, a precisão dos resultados é altamente dependente da habilidade dos técnicos que coletam as imagens e daqueles que as interpretam, e dos protocolos estabelecidos para padronização das técnicas. Por isso, é necessário que os técnicos recebam rigoroso treinamento na operação dos equipamentos de ultra-sonografia e sejam posteriormente avaliados para garantir que estão realmente qualificados para realizar as análises.

Além disso, os técnicos também devem seguir rigorosamente os protocolos já estabelecidos. Somente quando as medidas são realizadas por equipamentos adequados e por técnicos capacitados, os resultados serão satisfatórios.

Ainda, novas pesquisas devem ser realizadas no Brasil para estimar parâmetros genéticos, herdabilidades e correlações de raças ainda não estudadas, a fim de definir protocolos para avaliação específica da raça, respeitando as diferenças fisiológicas entre elas e o efeito do ambiente.

Referências bibliográficas

AVAL SERVIÇOS TECNOLÓGICOS S/S (AVAL PROTOCOLO – 2006). O uso da ultra-sonografia para avaliação de carcaça bovina. Uberaba, 2006.

Yokoo, M.J. Estimativas de efeitos genéticos e ambientais para características de carcaça medidas pelo ultra-som em bovinos da raça Nelore. Jaboticabal: Faculdade de ciências Agrárias e Veterinária, Universidade Estadual Paulista (UNESP), 2005, 89p. Dissertação (Mestrado). Faculdade de ciências Agrárias e Veterinária, Universidade Estadual Paulista (UNESP), 2005.

RITCHIE, H. 2001. Available technology tools to produce and deliver final products. Symposium: Using Science and Marketing in Producing and Delivering Value-Added Products in the New Economy. Western Section of the American Society of Animal Science, Bozeman, Montana.

_______________________________
1Fabiano Araújo é Medico Veterinário, mestre em Animal Science pela UC Davis, diretor técnico da AVAL Serviços tecnológicos.

2Camila Guedes é Engenheira Agronôma pela ESALQ/USP, mestre em Zootecnia pela FZEA/USP, técnica da AVAL Serviços Tecnológicos.

3Roberto D. Sainz é Professor Doutor da Universidade da Califórnia – Davis, diretor executivo da AVAL Serviços tecnológicos.

0 Comments

  1. camilo pasquini disse:

    Sou diretor da Vetcursos empresa que promove eventos para médicos veterinarios no estado de Mato Grosso e estou realizando um simpósio e um curso de aperfeiçoamento para profissionais de alimentos, gostaria de saber se há interesse em ministrar uma palestra e ou participar do evento. Aguardo contato.
    Camilo Pasquini
    camilo_pasquini@yahoo.com.br

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