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A geopolítica do Índico – por Marcos Jank

Por Marcos Sawaya Jank

O mapa mais conhecido e utilizado no mundo é a famosa projeção de Mercator, criada em 1569 pelo cartógrafo flamengo Gerardus Mercator. Nesse mapa, a Europa aparece no centro, e a área de maior destaque são o Atlântico e as terras que o circundam. Isso não ocorreu por acaso, já que foram essas as regiões que dominaram a economia e a geopolítica global naquele momento e nos quatro séculos seguintes.

A projeção de Mercator divide o oceano Pacífico em duas partes, uma na ponta direita do mapa e outra na esquerda. A Ásia – continente que detém a maior parte da terra (30%) e 60% da população do planeta – aparece à direta do mapa, com menor destaque.

Mas é logo abaixo da Ásia que se encontra o Oceano mais complexo e estratégico da atualidade – o Índico. Três dos cinco países mais populosos do planeta gravitam em torno do Índico – China, Índia e Indonésia, que somam juntos quase 3 bilhões de pessoas. O Índico é também o berço do grande arco islâmico do planeta, que começa nas bordas superiores do Saara e termina no arquipélago da Indonésia.

Situam-se nele, também, três grandes estreitos –Bab el Mandeb, Hormuz e Malaca – cuja importância estratégica remonta às grandes navegações. Setenta por cento do petróleo do planeta e 50% do tráfego de contêineres do mundo passam por pelo menos um desses estreitos.

Metade da necessidade futura de energia do planeta virá da Índia e da China, que em breve vão se tornar os dois maiores consumidores do planeta. A demanda de petróleo da China vem dobrando a cada dez anos. A região vive também uma intensa disputa por carvão, gás natural, minerais, metais, madeira e produtos agropecuários. Myanmar, a antiga Birmânia, por exemplo, é o país onde China e Índia colidem nessa “disputa” por espaço e recursos naturais.

Ocorre que a China quer evitar o longo caminho necessário para trazer petróleo e enviar as suas mercadorias, que hoje passa pelo conflitivo mar do Sul da China e pelo estreito de Malaca, que liga o Índico ao Pacífico entre Indonésia, Malásia e Cingapura. O ex-líder Hu Jintao denominou essa imensa vulnerabilidade na rota de bens e energia da China como o “dilema de Malaca”.

Por isso, a China vem se movimentando para construir estradas, ferrovias, oleodutos e portos que lhe deem acesso direto e rápido ao Índico. Recentemente o país assinou um acordo multibilionário com o Paquistão, principal rival da Índia, para construir estradas e portos naquele país. A segunda alternativa dos chineses é cruzar Myanmar, até a baía de Bengala. A China tem colocado fartos recursos em Myanmar.

No excelente livro “Monsoon – The Indian Ocean and the Future of American Power”, Robert Kaplan discute o grande jogo da disputa pela hegemonia da região. De um lado, a China quer se expandir verticalmente para ter acesso ao Índico. Do outro, a Índia tenta se expandir horizontalmente nas mesmas áreas.

Tudo indica que são as águas quentes do oceano Índico que vão abrigar o núcleo central da geopolítica mundial do século 21.

Por Marcos S. Jank, especialista em questões globais do agronegócio, para a Folha de São Paulo.

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