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A diferença talvez esteja no nosso constante esforço em mudar as pessoas para depois percebermos mudanças nos animais – Adalberto e Fernanda Macitteli Benez

O bem-estar animal tem sido preocupação crescente entre pesquisadores, produtores e consumidores de todo o mundo que passaram a exigir com maior intensidade uma conduta humanitária no tratamento dos animais, no que diz respeito à produção, transporte e abate.

Assim, para mostrar o que está acontecendo de mais atual no Brasil e no mundo frente a área de bem-estar animal, na cadeia produtiva bovina, o BeefPoint preparou algumas entrevistas com diversos pecuaristas que já adotam medidas de manejo que visam as boas práticas de manejo, compartilhando casos de sucesso na pecuária de corte.

Confira abaixo o trabalho que Adalberto José Benez e sua esposa Fernanda Macitteli Benez estão desenvolvendo na área de bovinocultura de corte e bem-estar animal na região Norte e Sul do Mato Grosso:

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Adalberto José Benez, filho e neto de pecuaristas, empresário e representante de uma empresa de Nutrição Animal é casado com Fernanda Macitelli Benez, que é zootecnista formada pela Unesp, Jaboticabal/SP.

Fernanda, possui mestrado em Produção Animal é doutoranda em Comportamento e Bem estar Animal na Unesp, Jaboticabal/SP e professora na Universidade Federal de Mato Grosso, sendo responsável pelas disciplinas de bovinocultura de corte e comportamento e bem-estar animal.

Há dez anos o casal iniciou as atividades na pecuária bovina, engordando novilhas da raça Nelore em arrendamentos na região sul do Mato Grosso. Atualmente possuem arrendamentos na região sudeste do estado e trabalham com as fases de cria (com ênfase em cruzamentos), recria e engorda.

O bem-estar animal é uma das ferramentas que utilizam para incrementar o desempenho dos animais e a lucratividade, além de trazer benefícios para os próprios animais e trabalhadores. A implantação de algumas técnicas de manejo que melhorem o bem-estar dos animais foi realizada de forma crescente e lenta, uma vez que sempre houve a preocupação de que os trabalhadores entendessem a importância econômica das técnicas como também a importância das mesmas.

BeefPoint: Quais técnicas/práticas você desempenha em sua sua fazenda que resultou em bons resultados, quando o tema é bem-estar animal? 

Adalberto e Fernanda Benez: Iniciamos os trabalhos conversando com os funcionários e tentando mudar um pouco algumas práticas comuns dentro do curral, como o uso de ferrão, gritos, número de animais na seringa, vacinação e vermifugação realizada em tronco coletivo.

Para facilitar o manejo no curral também começamos a mostrar para os funcionários o quanto poderia facilitar o manejo se eles se aproximassem mais dos animais durante momentos em que podemos oferecer algo positivo, como na suplementação.

Hoje são ações rotineiras: no momento da suplementação pelo menos um funcionário permanecer 15 minutos no meio dos animais (vocalizando), o uso de bandeira em invés de ferrões e choques, treinamento e instruções sobre o comportamento dos animais, descarte de fêmeas que apresentam temperamento muito ruim antes de entrarem em reprodução, no momento da cura do umbigo dos bezerros (primeiro contato com o homem) há preocupação de que a ação seja o menos aversiva possível, o embarque dos animais é realizado pelos funcionários, além de outras atividades.

Este ano implantaremos a desmama lado a lado e a bonificação aos funcionários por redução de taxa de mortalidade nos bezerros.

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BeefPoint: Conte pra nós qual a aceitabilidade de sua equipe quanto às técnicas de bem-estar animal. Como é feito o treinamento de seus funcionários?

Adalberto e Fernanda Benez: Inicialmente, como tudo que é novo, houve resistência por parte dos funcionários. A maioria (inclusive diaristas que nos auxiliam) achava engraçado e sem utilidade nossos pedidos. Com o tempo (vamos ser sinceros: anos!) percebemos que se eles não entendessem a teoria e o motivo das novas ações, nossos esforços estariam sendo em vão.

Então, com explicações teóricas durante o manejo e muita paciência, estamos conseguindo evoluir. A partir do momento em que uma pessoa consegue perceber que se importar com o bem-estar dos animais traz benefícios e facilidade na realização dos manejos diários fica mais fácil implantar algumas práticas.

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BeefPoint: Quais instalações de sua propriedade são adequadas para as técnicas de bem-estar?

Adalberto e Fernanda Benez: Não foram realizadas alterações nas instalações. Por trabalharmos em arrendamentos onde as estruturas não são nossas, focamos na melhoria do manejo. Com animais calmos e equipe bem treinada estamos conseguindo bons resultados sem ter que mudar as estruturas.

Entretanto, é claro que as instalações podem auxiliar, e muito no manejo, mas se as pessoas não forem conscientes sobre a importância do bem-estar dos animais as alterações nas mesmas serão inúteis.

BeefPoint: Por que decidiu adotar medidas de bem-estar animal em sua propriedade? Teve o apoio de alguma empresa e/ou profissional da área?

Adalberto e Fernanda Benez: Decidimos começar a adotar ações rotineiras pensando no bem-estar dos animais por acreditarmos que não há necessidade do ambiente de trabalho ser estressante aos animais e ao humano, pois é mais que comprovado que há alterações fisiológicas que comprometem o desempenho de ambos. Também entendemos que temos que ter ética na produção dos animais, respeitando-os como seres vivos.

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Temos a apoio constante de colegas e professores que trabalham na área, tentando colocar em prática resultados de seus estudos e experiências. Aproveito para agradecer ao professor Mateus Paranhos da Costa e os integrantes do Grupo Etco por sempre estarem mostrando aos pecuaristas o valor do bem-estar dos animais.

BeefPoint: O que a sua propriedade difere das demais? As que utilizam boas práticas de manejo e as que não utilizam?

Adalberto e Fernanda Benez: Difícil afirmar nossas diferenças. Talvez a diferença esteja no nosso constante esforço em mudar as pessoas para depois então percebermos mudanças nos animais.

BeefPoint: Em relação ao manejo de bovinos, quais os erros mais comuns cometidos  em sua propriedade?

Adalberto e Fernanda Benez: Há muito ainda para ser melhorado. Cremos que possamos melhorar muito o manejo no curral, também não conseguimos ainda fazer com que todas as oportunidades junto aos animais sejam aproveitadas para reforça-los positivamente.

Achamos que o manejo com os bezerros recém nascidos deve ser melhor estudado, afinal o primeiro contato com o homem não pode ser visto como uma ação tão aversiva. Estamos estudando uma maneira de aproveitar melhor o momento da suplementação no creep-feeding para realizar maior contato físico com os bezerros, visando obter animais menos reativos após a desmama.

BeefPoint: Que mensagem você deixaria para os pecuaristas que pretendem praticar técnicas relacionadas ao bem-estar animal? 

Adalberto e Fernanda Benez: Investir no bem-estar dos animais não é um custo a mais para a fazenda e sim um investimento que pode trazer retornos econômicos de diferentes formas como: no ganho de peso dos animais, na redução da mortalidade, no aumento da taxa de prenhez, na redução da manutenção das instalações e nos acidentes de trabalho.

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