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A carne bovina é o próximo minério: BTG põe as fichas na Minerva

A carne bovina é o novo minério de ferro e a Minerva Foods nunca esteve tão bem preparada para surfar a chegada do ciclo de oferta abundante de gado no Brasil. Dedicada às exportações, o que a livra das agruras da economia doméstica, a companhia controlada pela família Vilela de Queiroz já abocanha quase 10% das exportações globais de carne bovina, um espaço que só cresce diante da voracidade de uma classe média cada vez maior na Ásia. 

As avaliações aparecem num relatório de 16 páginas enviado a clientes nesta segunda-feira pelo BTG Pactual. Ao atualizar a tese de investimentos em BEEF3, o banco passou a recomendar a compra das ações da Minerva, com preço-alvo de R$ 20 — um potencial de valorização de mais de 55%.

Há pouco, o papel da Minerva subia 2%, cotado a R$ 13,06. A companhia está avaliada em R$ 7,9 bilhões e negocia a um múltiplo (EV/Ebitda 2022) de 4,7 vezes, 14% abaixo da média histórica para o ativo, disseram os analistas Thiago Duarte e Henrique Brustolin. Na leitura dos analistas, a Minerva está barata e, diante da demanda externa e da vidara do ciclo da pecuária no Brasil, o melhor está por vir, com forte crescimento de faturamento e Ebitda nos próximos anos. 

Os analistas do BTG Pactual projetam que a receita da Minerva deve saltar dos US$ 5 bilhões atingidos no ano passado para US$ 5,8 bilhões e US$ 5,8 bilhões em 2023. Num negócio de commodities que tipicamente opera com spreads — preço do carne sobre o boi —, há mais Ebitda e lucro a caminho. Normalmente, a Minerva entrega margens perto dos 10%, com uma gestão de capital de giro considerada por analistas como acima da média. 

Ao revisitarem a tese de investimentos, Duarte e Bustolin chamaram atenção para os sinais encorajadores para o ciclo da pecuária. Nos últimos anos, a oferta de gado no país ficou bastante restrita, num efeito conhecido cíclico na pecuária. Quando os preços do bezerro sobem, atingindo níveis históricos como nos últimos anos, os pecuaristas são estimulados a segurar as vacas no pasto para produzir mais animais. 

Diante do comportamento dos pecuaristas, as vacas passaram a representar 34% do total dos animais abatidos pelos frigoríficos brasileiro, o menor patamar em 20 anos, notou o BTG. A retenção de vacas no pasto, porém, acaba estimulando a produção de bezerros, o que num segundo momento aumenta a oferta de gado. É justamente o que está ocorrendo agora. Nesses momentos de virada de ciclo, que costumam durar de dois a três anos, os frigoríficos conseguem ótimas margens.

Na Minerva, a virada do ciclo — o Brasil ainda é o mais importante país para a companhia — se complementa à demanda asiática (especialmente da China). Desde 2019, o preço da carne bovina exportada pelo Brasil aumentaram 59%, em dólar. Não à toa, a Minerva aumentou o faturamento mesmo reduzindo o volume de produção, um reflexo dos anos com mais restrição na oferta de gado. 

Os produtores de carne bovina também estão bem posicionados na comparação com as indústria de frango e porco quando o assunto é atravessar o choque de custos com a inflação de grãos nas alturas. Ao contrário do que ocorre com players como BRF e Seara, os frigoríficos de carne bovina (Minerva, Friboi e Marfrig) não são integrados verticalmente. Assim, não precisam comprar ração para os produtores. 

Pelo status embutido no consumo de carne bovina — o produto também é aspiracional na Ásia —, a proteína consegue repassar mais facilmente os preços e não lida diretamente com os custos mais altos. No Brasil, aliás, o peso dos grãos na criação de bovinos é bem menor, tendo em vista que a vasta maioria do gado é criada a pasto.

Financeiramente, a Minerva também está em melhor posição do que no passado, disseram os analistas do BTG. Depois de ciclos de aquisições na América do Sul que obrigaram a companhia a levantar dinheiro no mercado, diluindo os acionistas, para pagar dívidas, desta vez a firma está com a alavancagem controlada (abaixo de 2,5 vezes) e vem conseguindo conciliar a remuneração os sócios (R$ 942 milhões desde 2020). 

Os analistas do BTG acreditam que os pagamentos de dividendos devem continuar em patamar elevado nos próximos anos — até por desejo dos principais acionistas, os Vilela de Queiroz e a saudita Salic. Duarte e Bustrolin também veem espaço para a companhia reduzir as despesas financeiras, um trunfo e tanto em momentos de aperto monetário. 

Em dezembro, a Minerva detinha um volume substancial de caixa (R$ 7,3 bilhões), acima da política de caixa mínimo de R$ 5,8 bilhões. Pelos cálculos do BTG, a companhia pode quitar R$ 1,5 bilhão em dívidas, o que tem potencial para uma economia de R$ 130 milhões em juros anuais. De certa forma, a Minerva já vem fazendo isso, com a recompra e cancelamento de bonds. 

Na semana passada, a companhia recomprou e cancelou em US$ 83,5 milhões em títulos que venciam entre 2028 e 2031. Desde 2020, o grupo já resgatou US$ 422 em bonds, o que permite uma economia de US$ 25 milhões em juros anuais.

Fonte: Pipeline – Valor Econômico.

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