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A bovinocultura a pasto se ressente da diminuição do consumo

Caso a pressão baixista persista, maior será o tempo de ajuste, desfavorecendo a intensificação produtiva e o grau tecnológico a ser adotado em alguns fatores de produção. Do exposto, os gargalos a serem seriamente considerados são, pela ordem: alta tributação, super oferta, câmbio baixo e crescente terminação de animais pelos frigoríficos. Somente se esses quatro fatores condicionantes forem solucionados, a bovinocultura voltará à normalidade. Caso não ocorram mudanças no modelo econômico e no comportamento do governo em relação ao pecuarista, poderá haver ruptura na produção, com riscos ao desabastecimento de carne e desalojamento de grandes contingentes do campo. O momento é para que o pecuarista pense em diversificar os investimentos fora da porteira, sem desistir da pecuária.

A atual crise econômica restringe consideravelmente o consumo de carne bovina, pois a carga tributária brasileira atinge forte com o cutelo os habituais consumidores de carne, os quais são pressionados pela diminuição drástica da renda.

O compromisso de pagar “impostos” e “taxas” de toda ordem, no primeiro quadrimestre de 2010, afetou a renda e transmutou o consumo dos alimentos, deixando de lado a carne bovina. O fenômeno se perpetua, pois os impostos baixam circunstancialmente em alguns setores atingidos pela crise econômica, mas as “baixas” se esquivam dos alimentos e dos remédios. Daí surge um Brasil singular, do ponto de vista do desalinhamento na política econômica conduzida nos últimos governos.

A criação de gado a pasto surge fulgurante, pois as condições do clima favoreceram a produção de carne com qualidade natural. No entanto, o consumo simplesmente se derruiu e a exportação míngua com o real supervalorizado.

A recuperação do preço do boi, no ultimo mês do quadrimestre, ainda não oferece rentabilidade ao setor. A baixa foi contida pelo sábio escalonamento da oferta e pelo retardamento sistemático da reposição do estoque, feitas pela pecuária a pasto. O único ponto positivo no período foi a remuneração obtida pelo criador e fornecedor de bezerros e de bois magros de forma adequada. Espera-se que continue assim.

O fenômeno contrasta vigorosamente com a renda subsidiada da população. Renda esta que é praticamente anulada em razão da enorme tributação incidente sobre a proteína animal. A grande maioria da população não se beneficia da excelente produção de carne, que continua inacessível à quase totalidade dos brasileiros.

E o pecuarista, sem rumo, ainda persiste em produzir.

Mas diante das incertezas, das ameaças ambientais e fundiárias, perdendo sempre espaço jurídico e enfrentando a exclusão aos direito humanos e à propriedade, ele está se constituindo num pária da nação.

A única saída é continuar adubando apenas superficialmente os solos de pastagem, mas obrigatoriamente começar a diminuir a área de renovação dos mesmos, racionalizar o uso de produtos sanitários e de suplementação de alimentos no coxo e, principalmente, diminuir paulatinamente o plantel e a mão de obra.

É preciso ficar menor sem enfraquecer, até que, novamente, ocorra o equilíbrio entre a demanda econômica e a oferta, para somente depois voltar a crescer. O ciclo pecuário necessita urgentemente de ajustes na oferta para que não sucumba.

No próximo quadrimestre, o preço do boi vai estar à mercê da crescente terminação de bovinos, na chamada integração agropecuária, “empurrando” os confinadores para o último quadrimestre do ano. Nesse confronto, a pecuária a pasto deve também ofertar animais nesse período, para mostrar sua força em fornecer animais prontos, em qualquer momento do ano.

A diminuição do plantel não significa, de modo algum, o esmorecimento nos cuidados no manejo adequado dos animais e dos pastos.

Caso a pressão baixista persista, maior será o tempo de ajuste, desfavorecendo a intensificação produtiva e o grau tecnológico a ser adotado em alguns fatores de produção.

Do exposto, os gargalos a serem seriamente considerados são, pela ordem: alta tributação, super oferta, câmbio baixo e crescente terminação de animais pelos frigoríficos. Somente se esses quatro fatores condicionantes forem solucionados, a bovinocultura voltará à normalidade.

Caso não ocorram mudanças no modelo econômico e no comportamento do governo em relação ao pecuarista, poderá haver ruptura na produção, com riscos ao desabastecimento de carne e desalojamento de grandes contingentes do campo.

O momento é para que o pecuarista pense em diversificar os investimentos fora da porteira, sem desistir da pecuária.

0 Comments

  1. José Ricardo Skowronek Rezende disse:

    A rentabilidade pecuária sempre foi apertada. Em qualquer época e pais que conheça. Só os muito eficientes é que conseguem crescer organicamente. Verdade que se aplica a quase todos os mercados concorrencias perfeitos. Mas acho que no Brasil estamos em uma conjuntura de rentabilidade acima da média histórica do setor. Especialmente para os criadores. E o crescimento da integração lavoura pecuária / confinamento de animais levará obrigatoriamente a um rearranjo estrutural do setor. E ai, neste rearranjo, podem existir oportunidades de melhores ganhos para aqueles que souberem aproveitar.

    Att,

  2. Helio Cabral Junior disse:

    Caro Celso,

    Mais um lúcido artigo! Parabéns!

    Ao americanos a poucos anos atrás viram a necessidade de fazer um downsize em seu rebanho ( diminuir o número de cabeças ) para equilibrar a relação oferta/procura e assim o fizeram com incentivos governamentais e lograram sucesso no reequilíbrio da atividade.

    Aqui, a receita é muito parecida para o sintoma semelhante, entretanto, nosso pais que por certo tem políticos, políticas ( ou falta delas ) e leis mais “sábias” que todo o resto do mundo, querem obrigar os agropecuaristas a aumentarem sua produtividade.

    Adotemos a sábia e correta medida de redução do rebanho para equalizar a equação e no mesmo instante já teremos fiscais do Incra ávidos a aumentarem o estoque de terras passiveis de desapropriação por não atenderem aos índices de produtividade e a reboque turbas do MST e congêneres prontos à invasão/ocupação.

    Sem contar um petismo e demais “múmias vivas” ( comunistas e outros ) a sorrirem pois em suas míopes visões, estarão tirando dos “ricos fazendeiros” para distribuírem aos pobres.

    Situação estranha, pois conhecemos a doença, sabemos da eficácia do remédio mas ao aplicá-lo corremos o risco de complicar muitos pacientes.

    Cordialmente,

    Helio Cabral Jr

  3. celso de almeida gaudencio disse:

    Prezado José Ricardo Skowronek Resende, as afirmações estão todas corretas.
    Quando menciona que se aplica a quase todos os mercados concorrências perfeitos, se leva em conta que o valor da carne não tem elasticidade econômica, mesmo quando o preço é baixo não há aumento de consumo. Boi não é automóvel, esta correta à afirmativa de concorrência.
    O crescimento dos confinamentos é salutar, pois sempre há quem remunere o gado precoce.
    A chamada integração lavoura pecuária, pelo uso de plantas forrageiras após lavoras anuais é um sistema de economia complementar, compondo os diferentes sistemas de terminação de bovinos com qualidade natural a pasto. Particularmente adoto este sistema num estado mais ao Sul a mais de 20 anos.
    O reajuste estrutural do setor tem que considerar que a pecuária a pasto, deve ofertar bois prontos de forma escalonada em qualquer circunstância. Se quinhentos mil pecuaristas ofertar 36 animais na entre safra, teremos disponíveis para abate 18 milhões de cabeça. Mãos a obra mostre sua força.
    A rentabilidade histórica do momento deve ser analisada por diferentes ângulos, considerar a relatividade dos valores das coisas, houve época em que se comprava um alqueire vendendo três bois gordo, e com base nesta equação, que se construiu o enorme rebanho brasileiro, pela formação de uma vasta área com pastagens artificiais. Em 1961, já dispúnhamos do segundo rebanho mundial e a pecuária sempre soube crescer frente à demanda.
    Claro, quando se faz hoje o retorno econômico da atividade, não se considera o valor da terra e da infra estrutura necessária ao empreendimento, isto é coisa do passado. Diz-se que é rentável pelo valor correspondente em dólar, sem considerar se é o real que tem mais valor ou se é o dólar que esta desvalorizado, mas a verdade é, ao vender bois pouca coisa pode ser comprado de bens duráveis.

  4. Manoel Terra Verdi disse:

    Interessante, fico curioso para saber a qual das crises o Sr. Gaudencio está se referindo. Será que é a nacional (?), ou a que está se instalando na Europa. De qualquer forma o que vemos é a economia brasileira aquecida, capaz até de fazer o representante dos banqueiros de turno no BC, aumentar os juros, e evitar que cresçamos (proibido aqui no Brasil) em um nivel mais elevado. Será que é o reflexo do problema grego que fará a Europa parar de consumir a carne brasileira (?), acho que isto aconteceu já a algum tempo. Será que a renda das familias está diminuindo(?), as estatisticas falam exatamente o contrario. Alias o desemprego anda em um dos níveis baixos da série histórica. Quanto ao problema tributário, o setor acabou de ser agraciado com a isenção do PIS e da COFINS na industria da carne , o Supremo Tribunal desmoralizou a cobrança do FUNRURAL, e o governo de São Paulo zerou o ICMS da carne. Com estas medidas, se considerarmos ainda que os encargos tributários do setor é alto, não podemos negar que no mínimo êle foi muito abrandado.
    Temos problemas, sim. Com o cambio, e no meu ver é o principal deles. É até surpreendente a elasticidade do preço a que o mercado internacional tem se submetido para poder conciliar a valorização do real com a remuneração do produtor brasileiro. Espero que este processo tenha continuidade, embora olhe com preocupação para o quadro que nos mostra que nos meses de março e abril de 2010, no comparativo com estes meses dos anos anteriores tivemos o menor embarque e o mais alto preço dos ultimos 5 anos.
    Em anos recentes, nos acostumamos a ver exportações crescentes e rebanho decrescente. Para este cruzamento, nos parecia, em termos de preço que o ceu seria o limite. Nos esquecemos que melhorias nutricionais (confinamentos e melhoria de pastagens) e geneticas, mesmo com um rebanho ligeiramente menor nos levaria a um aumento na produçaõ de carne. Quando o aumento da exportação perdeu rítmo o quadro se equilibrou, e com isto passamos a ter ocilações moderadas, pequenas altas e baixas sazonais. Temos que nos esforçar para que a exportação aumente, e que o mercado interno, nosso grande consumidor, continue a crescer, para que mesmo aumentando a nossa oferta o quadro torne a se desequilibrar a nosso favor.

  5. celso de almeida gaudencio disse:

    Prezado Manoel Terra Verdi, enquanto profissional trabalhei em ecossistemas rurais dentro do enfoque sistêmico. Ao trabalhar em sistemas tem-se que olhar todos os ângulos da questão.
    Claro que vosso posicionamento é lógico, não discordo disso. Adotei o entendimento e não alógica.
    A crise econômica atual e anterior tem varias vertentes e atingem especialmente os que estão diante da economia formal. É claro que a informal tem seu peso na economia com um todo e é talvez dela que ocorre crescimento econômico. Mas, estou me referindo à economia formal, achatamento salarial, achatamento dos valores da aposentadoria. Basear-se no aumento do emprego não é suficiente para afirmar que não estamos em crise de renda, por isso, falei na atual, esquecendo as anteriores. O FUNRURAL foi estabelecido para aposentar no meio rural os que não contribuíram. Principalmente para aposentadoria dos classificados como agricultura familiar. O Supremo Tribunal considerou improcedente tal imposto, talvez baseado na atual situação confortável da previdência ou pelo excesso de carga tributária ou que os recursos estavam sendo destinados a outras despesas. Falar que a carne foi agraciada com isenção do PIS e da COFINS, novamente foi devido à tributação elevada, e com isso o pecuarista deve estar sendo mais bem remunerado na hora de vender o boi, ou alguém também em crise devido aos impostos esta se beneficiando dessa benesse. Alguém crê nisso. O governo de São Paulo esta de parabéns ao isentar a bovinocultura de ICMS, daí o preço do boi paulista ser mais bem remunerado, espero que isso tenha aumentado o consumo no Estado.
    O rebanho decrescendo é difícil avaliar se as estatísticas por razão incógnita, não separava o gado de corte da aptidão de leite. Assim, que se iniciou separar o rebanho de corte, as estimativas dos parâmetros zootécnicos cresceram e o nosso índice produtivo aumentou, para infelicidade dos invasores. A tecnologia é e foi sempre crescente, já em 1961 o Brasil possuía o segundo rebanho mundial e sempre soube acompanhar a demanda, investido na implantação de uma vasta área de pastagem artificial. O melhor preço conseguido no exterior pode esta ligada ao mercado mais exigente e o menor volume pode estar relacionado à crise lá fora, então, usar dados médios é temerário. Faço minhas a vossa torcida para haver aumento de consumo, já que a crise econômica externa não nos atingiu, e a pecuária que não usa de capital de fora da porteira tenha retorno compatível com a excelente proteína animal que produz.

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