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Uma nova pecuária com ILP

Informa o prestigioso periódico O Estado de S.Paulo em sua edição de 14 de maio último que o preço da carcaça alcançou R$80 por arroba, o bezerro R$620 cada um e que o desmatamento na Amazônia caiu 60% em 3 anos. Haveria correlação entre as 3 notícias? Não seria exagero concluir, que a pecuária de corte acha-se em processo de contração. Onde e como poderíamos aumentar a oferta de forragem natural, digo de capins, como alternativa aos pastos novos em terra virgem de mata alta?

Informa o prestigioso periódico O Estado de S.Paulo em sua edição de 14 de maio último que o preço da carcaça alcançou R$80 por arroba, o bezerro R$620 cada um e que o desmatamento na Amazônia caiu 60% em 3 anos.

Haveria correlação entre as 3 notícias?

Segundo o IBGE, nos últimos 30 anos o rebanho de bovinos, nos estados de MT e PA em conjunto, passou de 4,5 para 32,4 milhões, com acréscimo de 27,9 milhões de cabeças.

Essa notável evolução é responsável pelo auspicioso aumento das exportações de carne vermelha, sem prejuízo do abastecimento do consumo interno.

Lembrando que os bovinos vivem de capim, pelo menos na fase da pecuária de cria e na maior parte do setor de engorda, investigamos a evolução da área de pastagem ocorrida no mesmo intervalo de tempo.

Verifica-se, segundo o IBGE, que os dois estados em conjunto, sejam PA e MT, tinham 10,2 milhões de ha em 1975, e 36 milhões em 2006, seja um acréscimo de 21,8 milhões de hectares.

Lembrando que os pastos nativos dos cerrados ralos, campos e varjões já eram pastoreados desde muitos anos, é lícito admitir que todo o acréscimo foi feito a partir de floresta primária, geralmente de mata alta.

Comparando os acréscimos da população bovina nesses dois estados e com o aumento da área de pastagem, nota-se que os pastos formados a partir de 1975 suportam uma pressão de pastoreio de 1,28 cabeças por ha, valor esse dentro das previsões para a média entre áreas novas e as de vários anos.

A evolução da área de pastagem representou uma abertura média de 730.000 ha/ ano, ritmo que, ao que se noticia, está em declínio. Paralelamente tem havido uma redução da capacidade de suporte devido à natural queda da fertilidade do solo, que ocorre após os primeiros anos de vegetação exuberante.

Ao mesmo tempo, as pastagens decadentes estão sendo substituídas por lavouras mais rentáveis do que a pecuária em pasto degradado, sendo questionável tanto o retorno dessas áreas para pecuária, como o prazo para que isso venha a acontecer.

Não seria exagero concluir, então, que a pecuária de corte acha-se em processo de contração, principalmente quanto à fase de criação, pois a etapa de engorda pode, em tese, ser substituída pelo confinamento, apesar de os bois assim alimentados representarem menos de 10% do abate nacional.

Não existem milagres. Pastos em decadência ao lado de menor entrada de pastagens novas resultarão na redução do rebanho de cria e na menor oferta de bezerros. Teremos, por conseguinte, menos bois a engordar, seguido de menor disponibilidade de carne vermelha a consumir e a exportar. Não será de estranhar se viermos a limitar as exportações para assegurar o consumo interno.

Onde e como poderíamos aumentar a oferta de forragem natural, digo de capins, como alternativa aos pastos novos em terra virgem de mata alta? O custo dos pastos recuperados se distancia cada vez mais do custo dos pastos novos face aos preços crescentes dos fertilizantes, sem os quais a renovação é impraticável.

Somente os pastos de inverno, no intervalo entre duas culturas de verão, poderão vir a ser uma solução.

Está comprovado que as braquiárias, sejam consorciadas ao milho ou arroz, sejam sobre-semeadas na soja, podem oferecer forragem suficiente para um ganho de peso vivo acima de 200 kg /ha (7,5 @ de carcaça) durante 3-4 meses de intervalo entre dois plantios de verão.

É o que vem se chamando de integração lavoura pecuária (ILP), sistema adaptável às variadas situações climáticas do país e condicionado a deixar resíduos em quantidade satisfatória para o plantio direto subseqüente. O procedimento é passivo de aperfeiçoamento, seja introduzindo uma leguminosa no sistema, seja oferecendo grão a ser consumido diretamente da planta consorciada.

Forragem mais barata que essa somente aquela produzida na terra fértil de mata alta recém aberta, fator básico da estrondosa expansão mencionada inicialmente para os estados do Pará e Mato Grosso. Nesses sertões, graças à diligência dos pioneiros, a floresta cedeu lugar a verdejantes capinzais forrageiros, dando origem uma pecuária pujante, de baixo custo, que trouxe indiscutível riqueza e prosperidade ao país.

Teremos que superar alguns entraves para que o pastoreio de inverno venha a se tornar uma rotina de grande escala, principalmente na fase de engorda, quando os bois acabados seguem para os abatedouros sem retornar aos criatórios originais, assim poupando frete.

Os grandes chapadões são quase sempre carentes de água que precisa ser transportada seja por encanamentos seja por carros tanque. Há necessidade de currais móveis para recebimento, manejo e carregamento dos animais. Há que organizar o comércio, quer baseado na aquisição de animais pelo próprio produtor, ou quando este oferece a forragem para ser consumida por bois capões de terceiros.

São dificuldades superáveis para tirar vantagem de nosso clima favorável que oferece luz, umidade e calor no fim de verão e início de outono, possibilitando, assim, o estabelecimento de forrageais de inverno para uma nova pecuária.


Foto. Faz. Aparecida, Mogi Mirim/SP – Vacas prenhes alimentadas com cana + 0,5% de uréia por 4-5 meses, após apresentarem 90% de prenhez na desmama (8 meses)

0 Comments

  1. Helio Cabral Junior disse:

    Caro Dr. Fernando Penteado,

    O Sr. tem que parar com esta irritante mania de ficar falando e escrevendo verdades.

    O Sr. já imaginou os milhares de “ecologiqueiros” que ficam com “cara de tacho” e histericamente clamando por sua condenação em um tribunal da “santa inquisição verde”?

    É bem verdade que por outro lado suas sábias palavras sempre trazem alento àquele produtor que teima em acreditar como o Sr. que a vocação do Brasil é produzir o “boi de pasto”, que em pelo menos 90% de sua vida consumiu forrageiras tropicais (volumoso) e que quando suplementado no cocho para equalizar a estacionalidade produtiva destas forrageiras em um período do ano, o é em sua quase totalidade com uma outra forrageira que é a cana de açucar acrescida de ureia mais sulfato.

    Pensando bem Dr. Fernando, continue com esta adorável mania de falar e escrever verdades pois faz bem ao Brasil!

    Cordialmente,

    Helio Cabral Jr

  2. Antonio Carlos Gonçalves disse:

    Valeu colega, vamos integrar para não se queixar. A terra, o boi e o produtor devem agradecer ao senhor pelas valiosas informações.

  3. Ricardo Mickenhagen disse:

    Dr Cardoso,

    Como era esperado o senhor fez uma proposta séria e coerente. Minha tristeza é ver milhares de hectares de Pastagens no Estado de São Paulo, Mato Grosso do Sul entre outros, com elevado nível de Degradação.

    Além do sistema ILP recomendado por V.Sa penso que se deveria facilitar a correção destes solos com Calcários e sua Fertilização com Adubos Fosfatados contendo micronutrientes.

    Se não se tomar providências urgentes neste sentido a Pecuária ficará sempre no extrativismo com baixos indices zotécnicos.

    Abraços com a admiração de sempre.

  4. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Caros Roberto Mesquita, Helio Cabral Jr, Antonio Gonçalves e Ricardo Mickenhagen:

    Agradeço penhorado as amáveis palavras com que me disinguiram, tão gratificantes para um agrônomo senior (ESALQ-1936) que procura, desinteressadamente, transmitir sua longa experiência e seu modo de pensar.

    O Ricardo propõe facilitar calcários e adubo. O problema é como fazer só para pasto, sem desvio para outras culturas. Na India e na China parte dos impostos vai para subvencionar fertilizantes para tudo e para todos.

    Por aqui, subsídio virou tabú. Qual uma sugestão prática dentro do contexto atual? Eu honestamente não sei.

    Grande abraço a todos vocês, com meu muito obrigado.

    Fernando Cardoso

  5. Rogerio Faria disse:

    Dr Fernando,

    Realmente as vossas palavras são de uma sapiência incrível. Realmente temos que buscar uma maneira mais razoável de se recuperar as pastagens eu tenho recomendado o uso de leguminosas.

    Basta lembrarmos que o Sr. Hirofume Kage (Carlos Kage) de Guaira-SP recuperou seus solos que eram de péssima qualidade com o plantio de diversas leguminosas.

    Lembro-me de uma publicação da Agroceres há quase 40 anos atrás em que um pesquisador australiano disse que os elementos mais importantes para a produção de pastagens eram a luminosidade e o calor e que para ocorrer a sintese de proteinas vegetais havia necessidade de Nitrogênio (N) e Enxofre (S) e isso poderia ser barateado pelo uso de leguminosas tanto na alimentação do gado como no plantio nas áreas que necessitassem a recuperação das pastagens.

    Algo interessante que presenciamos durante muitos anos é que os produtores de gado de corte ou mesmo de leite, acham que é somente tirar e não repor nada nas pastagens. Um bovino adulto que vai para o abate, muitas vezes foi concebido na propriedade, nasceu e somente será retirado quando está no peso de 17 a 18@ – Pergunto aos proprietarios das fazendas, se estes sabem o quanto de Ca, P e Mg e outros elementos este animal esta levando embora e o que ele faz com o dinheiro da venda? Será que ele retorna pelo menos 10% do valor do animal para que se compre adubo, por mais barato que seja para repor o que foi levado?

    Existem soluções práticas e de grande interesse para que possamos minimizar os custos de recuperação de solos degradados bem como recuperação e formação de pastagens.

    Devemos deixar de ficar pensando em comprar carros caros e fazer mansões nas fazendas e investirmos no que dá suporte à pecuária de corte em nosso país e é o elemento mais barato que é a produção de volumosos de qualidade.

  6. Ricardo de Macedo Chaves disse:

    Sr. Fernando Cardoso.

    É gratificante poder ler as sábias palavras de um mestre que dedica sua vida a atividade agronômica. Como era esperado o senhor nos coloca uma proposta séria e coerente, realmente possível de ser executada.

    Fico ainda triste em ver que existem milhares de hectares de pastagens em vários Estados do Brasil, com elevado nível de degradação.

    Além do sistema ILP recomendado por você, imagino que deveríamos trabalhar mais seriamente a correção destes solos com calcários e sua fertilização com adubos fosfatados contendo micronutrientes, assim recuperando os solos já explorados poderíamos minimizar os níveis impostos pela abertura de novas fronteiras da pecuária.

    É verdade que suas sábias palavras podem trazer esperança àquele produtor que ainda acreditar como você, que a vocação do Brasil é produzir o “boi verde”, que consumiu forrageiras tropicais (volumoso) por quase toda sua vida e que quando é suplementado no cocho, para diminuir os impactos das estacionalidades produtivas destas forrageiras em determinado período do ano, o é em sua quase totalidade com uma outra forrageira que é a cana de açúcar acrescida de uréia mais sulfato.

    Ainda é tempo de colocarmos a tecnologia a serviço da produção agropecuária e diminuirmos os danos a natureza aumentando a rentabilidade do agronegócio.

    Fica aqui meus agradecimentos,
    Abraços cordiais.

  7. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Caro Rogério:

    Desejar, todos nós desejamos. Daí a expressão: “pensamento desiderativo”.

    Receitas, todos nós temos. Só que nem sempre dão resultado.

    Desconheço pasto permanente consorciado com leguminosas em mãos particulares. Gostaria de conhecer melhor o sucesso do Sr.Kage. Poderia dar-me mais notícias?

    Grande abraço, F.Cardoso

  8. Ulisses Lucas Camargo disse:

    Dr Fernando,

    O raciocínio é brilhante.

    Gostaria apenas de ressaltar que em meu estado (MS), temos ainda sérios problemas de manejo de pastagem, que colaboram em muito para o rápido processo de degradação das pastagens, em alguns casos levando a sérios problemas com erosão de solo.

    Quero dizer: de todas as técnicas para aumentar a produtividade e a longevidade das pastagens, o manejo correto das pastagens, talvez seja a mais barata e a mais viável no atual momento que vivemos.
    Adubação, correção de solo, conservação de solo, suplementação a pasto, reforma de pastagem, realmente fazem milagre, mas nem todos possuem recursos para tais atitudes.

    Então, como primeiro passo, vamos manejar melhor nossos pastos, ajustando a lotação, fazendo pastejo rotacionado, localizando cochos e bebedouros em locais estratégicos, vacinando o gado corretamente.

    Não podemos esquecer, que aqui em Mato Grosso do Sul, ainda existem fazendas nas quais não se dispõe de estradas em condições de transitarem carretas para levar insumos como calcario e adubo.

    Quanto as leguminosas, trabalho com produção de sementes de leguminosas e implantação de consorciação gramínea/leguminosa. As dificuldades são muitas, do tipo: O capim domina a leguminosa, A leguminosa domina o capim, alguns casos de intoxicação por estilosantes, muitos casos de sucesso também, tenho certeza que esse caminho merece muita pesquisa e vai ajudar muito a precuaria.

    Cordialmente,

  9. Fernando Penteado Cardoso disse:

    Prezados amigos:

    Venho esclarecer alguns aspectos dos comentários recebidos sobre meu artigo: Uma Nova Pecuária.

    Em nenhum momento eu disse que não havia tecnologia para recuperação de pastagens degradadas. Conheço-as e as pratiquei ao longo de minha vida profissional, tendo a oportunidade de promover inéditos experimentos de adubação em terras arenosas de campo nativo de Brotas/SP, com duração de 5 anos.

    Minha tese de que nossa pecuária de corte acha-se em contração apóia-se em 4 fatores básicos:

    1º – Os extensos pastos formados em terra fértil de mata alta estão em declínio acompanhando a natural perda da fertilidade inicial do solo. Menos fertilidade, menos capacidade de suporte, menor número de vacas e menor número de bezerros a se transformarem em bois para abate;

    2º – A velocidade do declínio é muito maior do que o ritmo previsível de recuperação, lembrando que até recentemente esse declínio era compensado por novas áreas de pastagens entrando em uso. Além desse declínio, tem havido e deve continuar a substituição de pastos de baixo suporte por culturas, como já vem acontecendo.

    3º – Os custos de recuperação das pastagens são muito mais altos do que formar uma pastagem nova em terra fértil, em termos de capacidade de suporte por ha. Minhas avaliações dizem que somente os pastos de inverno formados nas áreas de cultura, entre colheita e novo semeio, apresentam custos comparáveis aos das pastagens novas. Todavia esse novo sistema é de lenta evolução;

    4º – As novas restrições sobre desmatamento estão a indicar que teremos menos pastos novos a entrar no sistema produtivo. Vão fazer falta.

    A análise dessa conjuntura deve considerar que nos últimos 30 anos a pecuária de corte se expandiu em MT+PA no ritmo de 730.000 ha/ano de novas pastagens, na maior parte em terras férteis, com exuberante vegetação das gramíneas nos primeiros anos, decorrente de muito húmus e muito resíduo vegetal, reforçados por valiosa adubação de cinzas. Quem já viu de perto sabe do que se trata.

    Oxalá pudéssemos recuperar pastagens a custos similares aos da formação de pastos novos em terra fértil. Infelizmente, não é o que acontece. Vão fazer falta.

    Grande abraço

    Fernando Cardoso

  10. George Pastor Ramos disse:

    Caro Dr Fernando Penteado,

    Embora venhamos discutindo a problemática da Agropecuária na Mídia e Publicações Técnicas e Científicas há muito, considero de extrema valia “recomeçar-se” a enfrentar o problema de foma séria e consistente. Suas colocações são pertinentes quanto ao diagnóstico.

    Todavia, se todos os envolvidos, Pecuaristas, Políticos, Cientistas e Técnicos, não partirem para implementações de programas diversos de ações corretivas, dentro em breve a nossa produção e produtivdades estarão muito aquém das atuais.

    Já se sabe há muito, que os recursos são escassos. Na produção vegetal necessitamos de minerais (macro e micro nutrientes), energia, água, gás carbônico e algum substrato para fixação da Planta (Solo, por exemplo).

    Nossos Solos, de modo geral, são pobres, face de não dispormos, ao longo das eras geológicas, de vulcões para revirarmos as camadas magmáticas com as sedimentares e assim reciclarmos nutrientes, bem como outros fenômenos, tal como ocorreu nas Zona Temperadas do Globo.

    Acho que estamos num momento crucial da produção alimentar no Mundo todo, vez que todos os governos vem manipulando Políticamente a Agropecuária há Milênios, sem dar os apoios necessários, logo um dia os recursos naturais seriam exauridos e a produção Alimentar entrando em colapso – como prevê-se agora.

    De modo que é muito bom falar, falar, falar, a fim de que possamos acordar todos, no sentido de revertermos este processo – enquanto há tempo. Senão teremos que seguir o modelo dos EUA, onde os custos são muito altos, face o uso intensivo de insumos e instalações diversas, o que seria incompatível conosco em vários aspectos, sobretudo na falta de recursos finaceiros.

    Muito obrigado,

    Saudações.

  11. Apolo Ventura Lemos disse:

    Ótimo artigo.

    Informações relevantes do Sr. Fernando Cardoso. Gostaria de saber informes (estudos) com relação ao ganho de 200 kg/ha período 3 a 4 meses com essa consorciaçao ja que teriamos indices de ganho de peso diario de 1.666 kg/pv a pasto.

    Grato.

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