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Sustentabilidade na pecuária – O potencial de geração de renda do sistema silvipastoril e os benefícios para o meio ambiente.

Os chamados SAFs (sistemas agroflorestais) são sistemas de produção agropecuária que fazem uso sustentável da terra e dos recursos naturais, combinando a utilização de espécies florestais, agrícolas, e, ou, criação de animais (corte, leite, eqüinos, ovinos e caprinos), numa mesma área, de maneira simultânea e, ou, escalonada no tempo. Promovem o aumento ou a manutenção da produtividade, com conservação dos recursos naturais e a utilização mínima de insumos.

1- Definição do sistema silvipastoril:

Os chamados SAFs (sistemas agroflorestais) são sistemas de produção agropecuária que fazem uso sustentável da terra e dos recursos naturais, combinando a utilização de espécies florestais, agrícolas, e, ou, criação de animais (corte, leite, eqüinos, ovinos e caprinos), numa mesma área, de maneira simultânea e, ou, escalonada no tempo. Promovem o aumento ou a manutenção da produtividade, com conservação dos recursos naturais e a utilização mínima de insumos.


Fotos: Votorantim – Vazante MG.

Do universo de áreas utilizadas pela agropecuária nacional temos um grande percentual de áreas degradadas ou com baixa produtividade, além das regiões atingidas pelo fenômeno da morte de capim, como o braquiarão no norte do país.

Para que estas áreas voltem a produzir com níveis de rentabilidade aceitável, será necessário algum investimento em recuperação da fertilidade destas áreas. Neste momento temos a possibilidade de integrar as atividades (agricultura, pecuária e floresta) em sistemas de uso da terra e dos recursos naturais (SAFs- sistemas agroflorestais) que combinam a utilização de espécies florestais, agrícolas, e/ou criação de animais numa mesma área.

O sistema silvipastoril integra o consórcio das pastagens, florestas e a criação de animais. Temos várias possibilidades de implantação dependendo do estágio de degradação em que se encontram as pastagens.

Recuperação de pastagens com correção de solo, adubação e veda

Neste modelo deveremos implantar a floresta que deverá ficar sem a presença de animais até que as árvores dependendo da espécie atinjam um porte tal que os animais não venham a danificar as mesmas. No caso do eucalipto temos colocado animais na área com aproximadamente 12 meses de plantio dependendo do índice pluviométrico da região, do desenvolvimento da floresta e da categoria animal (preferencialmente bezerros nos primeiros meses de pastejo).

Neste caso como já era necessário o investimento para recuperação da área os custos de implantação da floresta serão exclusivamente os inerentes à sua implantação (controle de formigas, subssolagem, fosfatagem, plantio, adubação e tratos culturais).

Existem várias modalidades de composição de espaçamentos já determinados pela pesquisa que vão determinar tanto o custo como a produtividade do sistema.


Foto. Plantio eucalipto 10 X 2 Fazenda Morada Nova – Inhaúma -MG

Recuperação de pastagens na integração com a agricultura

Neste modelo pode-se recuperar a área com plantios de culturas como arroz, soja, milho ou sorgo, e em seguida realizar a implantação da forrageira. A implantação da floresta ocorrerá no primeiro ano e após a implantação da forrageira as árvores já tem porte suficiente para receber os animais.

O que pode ser implantado depende da capacidade de investimento, aptidão do produtor, e da necessidade específica de cada fase do projeto de uma propriedade, além de características como índice pluviométrico da região, localização, capacidade de estocagem de safras, etc.

Buscamos com esta metodologia que a receita de produtos agrícolas possa pagar a recuperação total ou parcial da pastagem.


Foto: Fazenda Mogiguaçu – Paragominas PA. (reforma de pasto com integração lavoura pecuária floresta.)

2- Potencial de geração de renda da integração com o silvipastoril:

Foi simulada uma fazenda com 1.000 hectares de silvipastoril no sistema de recria e engorda à pasto num horizonte de 11 anos para que pudéssemos mostrar além das vantagens ecológicas, o potencial de geração de renda com a integração das atividades.

Clique na imagem para ampliá-la.

Neste modelo não foi computado o capital em terra devido à grande variação regional.

Foi captado financiamento bancário com taxa de 6,75% ao ano como forma de viabilizar o aporte inicial para a formação dos 1.000 hectares de silvipastoril.
Temos ainda o potencial de venda do excedente de 4.972 kg de carbono por hectare ano que se vendido no mercado de créditos de carbono ao preço médio de R$10,00 por tonelada pode gerar R$49.720,00 por ano, em uma área de 1.000 hectares.

3- Potencial de neutralização da integração com o silvipastoril:

A perspectiva do aquecimento global tem provocado uma movimentação sem precedentes em praticamente todas as esferas que permeiam as atividades humanas, uma vez que esse fenômeno afeta não apenas pobres ou ricos, mas todos os seres vivos do planeta. Todos os modelos de predição da temperatura global, realizados pelos mais respeitados institutos de pesquisa internacionais, apontam para o eminente e gradual aquecimento do planeta.

Dentre as soluções propostas, pode-se citar o desenvolvimento de sistemas de produção agropecuários mais eficientes e menos impactantes para o ambiente, desenvolvimento de tecnologias que diminuam as emissões de metano e outras que promovam a mitigação desses gases. Uma das tecnologias que é bastante promissora é o sistema silvipastoril, onde a atividade pecuária é associada à arborização das pastagens.

Calculamos à emissão média de um bovino em recria e engorda e o potencial de neutralização dos GEEs (gases de efeito estufa) pelo sistema silvipastoril com 333 árvores por hectare.

Os números mostram que um hectare de silvipastoril é capaz de neutralizar as emissões dos bovinos que pastejam a área e ainda tem potencial para neutralizar as emissões de mais 2,95 hectares com a mesma taxa de lotação média. Não foi calculado o potencial de neutralização via acumulo de carbono no solo devido às dificuldades inerentes à determinação do processo.


Foto: Fazenda Mogiguaçu, Paragominas, PA


Foto: Fazenda Mogiguaçu, Paragominas, PA

Obviamente que a quantidade de carbono capturado depende consideravelmente do local onde o sistema é implantado, de sua estrutura, das espécies escolhidas e do manejo adotado.

A atividade pecuária, com áreas de pastagens arborizadas, poderia se tornar extensos armazéns de carbono para o planeta. Mesmo cortada e transformada em móveis, casas e outros, essa madeira continuaria cumprindo seu papel de armazém de carbono, abrindo espaço para novos plantios de árvores nas pastagens. Isso ainda traria uma série de outras vantagens ao pecuarista, com a renda adicional da venda da madeira; ao bovino, pela diminuição do estresse térmico com a formação de áreas de pastagens sombreadas; às próprias pastagens, com o enriquecimento do solo; aos animais silvestres, com a disponibilidade de abrigos e alimentos; e também aos olhos de quem aprecia a paisagem. Poderá inclusive gerar receita líquida com a venda de créditos de carbono, um mercado novo, ainda estranho ao produtor, mas que cresce a cada dia que passa.

Também nos resta tomar consciência que o país tem uma pecuária que pode contribuir para diminuição do impacto dos gases de efeito estufa através de módulos de seqüestro de carbono, pois o Brasil possui extensas áreas de pastagens, onde a vegetação explode em exuberância e diversidade biológica, tendo tecnologias suficientemente robustas para que esse papel de mitigação dos gases possa ser plenamente exercido.

4- Outras formas de potencializar a pecuária e diminuir as emissões de GEEs (gases de efeito estufa)

Um dos pontos mais importantes para que possamos pensar em sustentabilidade, parte do pré suposto que os produtores possam atingir níveis de rentabilidade que os permita viver com dignidade, manter suas propriedades produtivas para daí partir para ações de mitigação de emissões de GEEs.

Pelos levantamentos de produtividade do setor pecuário nacional chegamos à triste conclusão que em média o país produz 2,8 @/hectare/ano. Este número mostra claramente como é baixa a produtividade média de nossa pecuária o que acarreta elevados níveis de emissões.

Com integração da pecuária com agricultura e florestas ou não, alguns pontos são fundamentais para redução das emissões pela pecuária, dentre eles podemos destacar:

– Planejamento, treinamento e práticas adequadas de manejo das pastagens. Pastagens bem manejadas tem potencial para seqüestro e armazenamento de carbono no solo em níveis semelhantes ou superiores aos solos sobre vegetação nativa.
– Adequação de redivisões de pastagens e distribuição de água, reduzindo deslocamento animal e aumentando a produtividade dos animais (ganho de peso, natalidade, produção de leite, etc.).
– Melhoria da qualidade nutricional das forrageiras através de melhorias de manejo.
– Adequação da carga animal ao potencial produtivo das pastagens evitando o superpastejo e conseqüente degradação das pastagens.
– Práticas adequadas de manejo sanitário e de rebanho.
– Melhoramento genético do rebanho.

5- Considerações finais:

Este material é fruto de uma compilação de dados de vários pesquisadores e de números gerados pela nossa experiência em implantação de projetos agrosilvipastoris.

O nosso objetivo é difundir a técnica buscando melhor rentabilidade para os produtores, com sustentabilidade e melhorando a imagem do setor pecuário no cenário mundial.

Caso haja vontade política em resolver o código florestal brasileiro de modo coerente, aliando produção e preservação, incentivo à produção e recuperação de áreas degradadas, com facilidade de acesso à linhas de crédito oficiais, temos a certeza que o Brasil irá alcançar o posto de celeiro do mundo, e de modo sustentável.

Referências Bibliográficas:

www.aquecimento.cnpm.embrapa.br/…/agr_e_aquec_Cerri_2007.pdf

www.cepea.esalq.usp.br

www.embrapa.br/…/workshop-internacional-discute-solucoes-para-impactos-da-pecuaria-na-amazonia/

www.cnpc.org.br/news1.php?ID=1563

www.cnpf.embrapa.br/pesquisa/safs/sist_silvipastoril_sust.pdf

www.usp.br/mudarfuturo/2009/pdf/09_05_22_cap1.pdf

www.iz.sp.gov.br/artigo.php?id=115

0 Comments

  1. marcia benevenuto mota disse:

    Olá! Matéria muito esclarecedora. Vou me empenhar em abordar o assunto no meu bloco de entrevistas do DBO na TV, pois a mídia eletrônica tem obrigação de prestar serviços com a mesma qualidade que Beef Point oferece aos agrointernautas. Preciso do contato do Leonardo S. Hudson.
    att,

  2. Mariana Arão Uba disse:

    Prezado Leonardo, parabéns pelo excelente artigo…você fez uma abordagem fantástica!!!

    A atual conjuntura globalizada do mercado mundial de commodities agropecuárias, o Brasil assumiu a liderança mundial nas exportações de carne bovina. Esta nova ordem exige o aprimoramento dos sistemas de produção no sentido de buscar eficiência e qualidade do produto, visando obter competitividade e sustentabilidade.
    Neste sentido, certamente a pecuária brasileira, em seu processo de evolução, necessita transformar os modelos arcaicos ou antigos de produção em sistemas empresariais. Estes sistemas devem objetivar o aumento da produtividade e da rentabilidade econômica do setor, estabelecendo novos parâmetros de sustentabilidade, que se caracterizam por ser economicamente menos vulnerável, socialmente mais justo e ecologicamente correto.
    Há consenso generalizado em todos os setores da sociedade, de que o agronegócio deve adotar uma postura de respeito à qualidade do meio ambiente. Dentro desta concepção, a implantação de projetos agrosilvipastoris devem ser analisados e vistos como uma grande possibilidade do Brasil realmente contribuir para o estabelecimento do equilíbrio alimentar da população mundial e se tornar o celeiro do mundo.

    Abraços,
    Mariana Arão Uba.

    Sou estágiária na Embrapa-cnpms justamente na área de ILP e ILPF, seus artigos tem muito a contribuir para os nossos estudos e vida profissional.

  3. Leonardo Siqueira Hudson disse:

    Prezada Mariana Arão Uba

    Obrigado pela carta. Muito oportuna as suas ponderações.

    Temos muito interesse em compartilhar nossas informações com os centros de pesquisa. Os trabalhos da Embrapa são grande fonte de informações para todas as conduções dos nossos trabalhos no campo.
    Nós da Exagro estamos à disposição para qualquer troca de informações.

    Grande Abraço,
    Leonardo Hudson
    Exagro-Excelência em Agronegócios

  4. Ronaldo Trecenti disse:

    Parabéns ao Leonardo pela relevante experiência desafiadora e inovadora. Gostaria de receber os seus contatos, pois no Pará existem espécies nativas como o paricá (eucalipto da Amazônia), que segundo a Unidade de Pesquisa da Embrapa em Paragominas parece ter excelente potencial na ILPF ou SAF.

  5. Leonardo Siqueira Hudson disse:

    Prezado Sr Ronaldo Trecenti
    Obrigado pela carta.
    Conheço o paricá. Estive recentemente na fabrica de MDF do grupo Concrem em Paragominas. Esles tem larga experiência no plantio do paricá. Segundo informações do pessoal da Concrem o paricá produz menos da metade do eucalipto por hectare e sua densidade também é a metade do eucalipto.
    Nossa opção pelo eucalipto para integração no sistema agrosilvipastoril vem das multiplas possibilidades de uso do eucalipto como: carvão vegetal, madeira para serraria, MDF, postes e lascas para cerca, construção civil entre outras.
    Meu contato é:
    Leonardo Siqueira Hudson
    31 9213 71 25
    leonardohudson@exagro.com.br

  6. Euler Andres Ribeiro disse:

    Caro Leonardo,
    além de veterinário, sou produtor orgânico e sempre me incomodou argumentações de que a pecuária é a grande vilã do aquecimento global e do consumo de água do planeta.
    Estas argumentações são baseadas em uma visão parcial de um todo. Já li artigos que afirmam que para se produzir um bife de boi são consumidos 40 litros de água! O cara simplesmente desconsidera o retorno ao solo atravéz da urina e das fezes e o retorno ao ar atravéz da respiração.
    No caso do aquecimento global, fala-se na produção de metano mas não se fala na fixação do CO2 nos solos de pastagem. Pesquisa recente nos EUA comparam a fixação de carbono em pastagens de qualidade X produção de grãos para uso em confinamento:
    Mesmo com um ganho de peso menor e com maior produção de metano , o sistema à pasto produz um balanço muito mais favorável.
    Além disto, o metano não surgiu do nada. Ele veio da fermentação anaeróbica do capim . Este capim, para crescer, fixou carbono nele próprio ( além da fixação no solo)
    TODO o processo tem que ser avaliado e não apenas o final dele.
    O seu artigo vai além e mostra um sistema que, se for implantado em escala, pode tornar a pecuária uma grande promotora do sequestro de carbono.

  7. Leonardo Siqueira Hudson disse:

    Prezado Euler Andres Ribeiro.

    Obrigado pelos comentários.

    Precisamos que o governo, Embrapa e as universidades sejam proativos em defender o agronegócio brasileiro, produzindo trabalhos  que demonstrem a realidade do sistema produtivo nacional.

    Grande abraço

    Leonardo Hudson

    Exagro

  8. Magno gomes xavier disse:

    Magno Gomes Xavier

    Paragominas-Para-consultoria/extensão

    Parabens sr. Leonardo por mais desafio vitorioso e inovador.

    Sou um grande fã seu,ex-funcionaria da fazenda Mogi guaçu.

    Um abraço!

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