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Suplementação de bovinos durante o período de transição. Protéico ou energético?

A bovinocultura de corte brasileira tem sua produção concentrada em sistemas de pastejo e, portanto, dependente das variações climáticas e ambientais que determinarão à produção de forragem. Do total de bovinos abatidos, 93% são terminados a pasto e somente 7% terminados em sistemas de semi-confinamentos e confinamentos. A queda no desempenho dos animais em períodos de menor produção forrageira, inverno (secas) resulta em decréscimo no crescimento dos mesmos. Porém nos períodos de transição entre secas e águas, pouco se sabe a respeito de qual nutriente realmente está limitante e qual seria o melhor custo benefício para esse período. A escolha do suplemento utilizado, seja mineral, protéico ou energético, depende de prévia avaliação de viabilidade, dependendo do tipo de sistema de produção, tipo de forrageira e as características dos animais que serão suplementados.

A bovinocultura de corte brasileira tem sua produção concentrada em sistemas de pastejo e, portanto, dependente das variações climáticas e ambientais que determinarão à produção de forragem. Do total de bovinos abatidos, 93% são terminados a pasto e somente 7% terminados em sistemas de semi-confinamentos e confinamentos. A queda no desempenho dos animais em períodos de menor produção forrageira, inverno (secas) resulta em decréscimo no crescimento dos mesmos, com conseqüente elevação da idade de abate, queda na taxa de desfrute do rebanho e na lucratividade final da propriedade, além da queda na qualidade das carcaças produzidas.

A produção de proteína microbiana no rúmen, através do crescimento dos microorganismos ruminais, fica limitada no período de secas, devido queda na quantidade de proteína presentes nas pastagens. A proteína microbiana tem alto valor biológico podendo suprir de 50% até a totalidade da exigência protéica de bovinos em pastejo. Porém nos períodos de transição entre secas e águas, pouco se sabe a respeito de qual nutriente realmente está limitante e qual seria o melhor custo benefício para esse período. A escolha do suplemento utilizado, seja mineral, protéico ou energético, depende de prévia avaliação de viabilidade, dependendo do tipo de sistema de produção, tipo de forrageira e as características dos animais que serão suplementados, como idade, peso, sexo e categoria.

Uma estratégia de suplementação adequada é aquela que objetiva maximizar a produção de carne fornecendo os nutrientes que permitirão ao animal melhorar a produção de proteína microbiana, consequentemente aumentar a população de microorganismos e a digestibilidade das fibras, resultando no aumento da ingestão total de matéria seca (MS).

No intuito de maximizar o desempenho de bovinos a pasto, deve-se pensar não só na suplementação durante o período seco, mas também durante o período de transição “secas-águas” e até nas águas, época de maior crescimento forrageiro.

Em experimento realizado na Fazenda Escola Três Barras – UNIDERP, no município de Campo Grande/MS, com duração de 105 dias, pastejo rotacionado de Brachiaria brizantha, com lotação de 2,91 U.A./há, foi avaliado o efeito dos diferentes níveis de proteína dos suplementos, sobre o desempenho de bovinos em terminação a pasto durante o período de transição secas-águas.

Foram utilizados bovinos Nelores, castrados, com idade média de 24 meses, sendo fornecidos 3 diferentes suplementos, sendo, controle (mistura mineral), energético (15% de proteína bruta) e protéico (25% proteína bruta). Os animais apresentavam peso vivo médio inicial de 418,2 kg. O suplementos foram fornecidos diariamente na proporção de 0,3% do peso vivo (PV) para os tratamentos energético e protéico, enquanto para o grupo controle fora fornecido suplemento mineral ad libitum.

A composição dos suplementos utilizados no experimento são apresentados na tabela 1.

Tabela 1. Composição dos suplementos utilizados para os tratamentos controle, protéico e energético

Foram observados maiores valores para ganho de peso total e ganho médio diário, para os animais suplementados com diferentes níveis de proteína em relação ao grupo controle, porém sem diferença estatística entre eles. Os animais suplementados apresentaram aproximadamente 20kg de peso vivo a mais durante todo o período experimental (105 dias), com aproximadamente 0,22 kg de ganho de peso diário acima do grupo controle.

Tabela 2. Peso inicial, final e desempenho de bovinos suplementados durante o período de transição “secas-águas”

Os dados mostram que a utilização de suplementos protéicos ou energéticos, melhoram o desempenho de bovinos no período de transição secas-águas de maneira semelhante a observada na suplementação protéica durante as secas.

Gráfico 1. Desempenho de bovinos suplementados com diferentes níveis de proteína durante o período “secas-águas”

Clique na imagem para ampliá-la.

Os resultados demonstram que com a ocorrência das primeiras chuvas, e o início do período de rebrota das pastagens, o teor de proteína das pastagens se elevam, possibilitando uma maior ingestão desse nutriente pelos bovinos. Tal fato é explicitado por não observarmos diferenças em desempenho para os animais suplementados com 15 ou 25% de proteína.

O fato de não haver diferença entre a utilização de suplementos protéicos ou energéticos durante o período de transição, possibilita significativa redução de custos da suplementação, pela possibilidade de redução da proteína nas formulações, ingrediente de maior peso no custo final do suplemento.

Referências bibliográficas:
MOREIRA, F.B.; PRADO, I.N.; NASCIMENTO, W.G. et al. Níveis de suplementação de sal proteinado para bovinos nelore terminados a pasto no período do inverno. In: Reunião ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 38., 2001, Piracicaba. Anais… Piracicaba: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2001. p.923-924.

POPPI, D.P.; McLENNAN, S.R. Protein and energy utilization by ruminants at pasture. Journal of Animal Science, v.73, p.278-290, 1995.

SANTOS, E.D.G.; PAULINO, M.P.; QUEIROZ, D.S. et al. Avaliação de pastagem diferida de Brachiaria decumbens Stapf. 2. Disponibilidade de forragem e desempenho animal durante a seca. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, n.1, p. 214-224, 2004.

0 Comments

  1. leandro henrique barcelos disse:

    Este artigo é muito bom para adequar o uso de proteina bruta no periodo de transição e escolha do suplemento ideal!

  2. LUCIANO FABRZIO BARIANI JOSE DE OLIVEIRA disse:

    Bom dia professor,

    Como ficam os custos se há o efeito “sanfona”? Talvez haja custo em suplementar com proteína!

    Obrigado.

  3. André Alves de Souza disse:

    Prezado Luciano,

    O planejamento de um programa de suplementação visa evitar o efeito “sanfona” e permitir que o animal mantenha um crescimento constante em todos os períodos. Em relação ao custo, verificamos no trabalho descrito que não houve diferença em relação ao custo do ganho, mesmo considerando a classificação e remuneração da diferenciada do frigorífico.

    Forte abraço.

  4. Sergio Carlo Franco Morgulis disse:

    Olá André.

    Muito interessante o trabalho.

    O consumo de energia foi o mesmo nos 2 tratamentos (prot.e energático)?

  5. Ricardo Buonarott Ferreira disse:

    Bom dia Dr. André.

    Gostaria de saber se não houve uma redução drástica de consumo dos suplementos no início dos tratamentos, devido à preferência dos animais pelo rebrote da pastagem no início das chuvas.

    Obrigado e um abaraço.

  6. Rafael Carvalho Miranda Martins disse:

    André,

    Fornecendo suplemento na proporção de 0,3% do peso vivo obtendo acréscimo no ganho de apenas 0,220 kg /cab /dia com os custos atuais a conta não fecha e aí tanto o protéico como o energético perde financeiramente para a opção de suplementar com mineral linha branca.

    Será que nessa transição o fornecimento de ionóforo ou não, não iria impactar mais no resultado do que o nível de PB do suplemento?

    Abraço

  7. mario nonato disse:

    É com trabalhos objetivos e perfeitos como este que quebra-se mitos e barateia-se o custo.

    Obrigado.

  8. André Alves de Souza disse:

    Prezado Ricardo Ferreira,

    Não foi observado queda no consumo dos suplementos, acredito que devido à palatabilidade dos mesmos e a quantidade esperada de consumo pequena (0,3% PV). Pode ocorrer queda no consumo, quando se trata de misturas minerais, devido às quantidades de Na presentes.

    Forte abraço.

  9. André Alves de Souza disse:

    Prezado Rafael Miranda,

    Em relação aos custos de produção, não foram observados diferenças entre os tratamentos, sendo ambos viáveis economicamente nas situações apresentadas.

    Vale lembrar que não foram considerados os custos da pastagem (retirada antecipada dos animais das pastagens), custo de oportunidade (retorno antecipado do capital investido), aumento da produção por área e remuneração diferenciada das carcaças. Não me parece pequeno um ganho adicional de 0,220kg/cab/dia, representando aumento de 62% sobre o tratamento controle (mistura mineral).

    É importante ressaltar que os custos de produção são “ïndividuais” para cada propriedade e região, sendo de extrema importância essa verificação durante o planejamento do programa de suplementação. Também é muito importante, através da programação, que se faça a compra estratégica de insumos, pois comprar em momentos desfavoráveis comprometem o retorno financeiro da suplementação.

    Forte abraço.

  10. André Alves de Souza disse:

    Olá Sérgio,

    Muito obrigado pelas considerações. O consumo de energia foi o mesmo nos dois tratamentos, visto que os suplementos possuiam a mesma concentração energética (NDT).

    Forte abraço.

  11. André Alves de Souza disse:

    Olá Mário,

    Muito obrigado pelos comentários! Tentamos ao máximo produzir respostas eficientes e aplicáveis a rotina da produção.

    Grande abraço.

  12. Rodrigo Zamperlini disse:

    Belo artigo André, traduz muito bem o que vemos na prática.

    Abraço.

  13. Juliano Dalcanale disse:

    André, parabéns pelo trabalho.

    Seria interessante se pudesse fornecer mais dados sobre o pasto, (análise bromatológica, data do experimento, adubação) para um melhor entendimento das condições do experimento.

    Obrigado.

  14. Wagner Rodrigues Garcia disse:

    Prezado Juliano, tudo bem?

    Estamos fazendo as análises bromatológicas das amostras de pastagens e com cereteza passaremos as informações a todos.

    Forte abraço.

  15. celia azevedo disse:

    Muito interessante, principalmente na região do sul do Pará, onde temos serios problemas nos periodos mais secos dos ano.

    Certamente será muito proveitoso todas essas informações.

    Grande abraço.

  16. Vanessa Faria de Almeida disse:

    Prezado Dr. André

    Parabéns pelo artigo.

    Esses trabalhos são muito interessantes, porque além de mostrar resultados, mostra-nos a viabilidade de aplicação. Os programas de suplementação são muito importantes para orientar e atender as necessidades de cada produtor.

    Fazemos programas de suplementação por estação do ano, de acordo com a qualidade e disponibiliade do capim. Desta forma conseguimos satisfazer às necessidades dos pecuaristas com base em um crescimento sólido e planejado.

    Abraço.

  17. Edward Zackm disse:

    Prezado dr. André,

    Bastante pertinente o questionamento do Rafael Mirando, pois os custos sempre são obstáculos aos programas de suplementação.

    Porém, se considerarmos preço de R$ 80,00/@ e 54% rend carcaça, verificamos que esses 0,220 kg a mais remuneram em R$ 0,610/dia. Creio que paga a conta da suplementação e deve ainda sobrar, sem falar nos benefícios adicionais citados por você.

    Em tempo, concordo com o Rafael que o benefício dos aditivos deve ser melhor considerado.

    Abraço a todos.

  18. André Dal Maso disse:

    Boa Tarde André,

    Voce afirma que o tratamento foi conduzido durante 105 dias. Gostaria de saber quantos dias o tratamento ocorreu no período seco e quantos dias perdurou após as primeiras chuvas? Ou foi feito após ó início das primeiras chuvas/rebrotes?

    Um ponto importante é que, mais que o ganho individual, vale o ganho por área. Pelas minhas contas haviam 3 animais/ha, ou seja, foram produzidos 166,8kg (prot.), 176,4 (energ.) e 116,40 (mineral)…a diferença chega a 2@/ha.

    Sobre o mineral…a relação Ca:P de 3,17:1,00 foi puxada heim…tem muito calcário ai nesse mineral.

    Abraços

  19. André Alves de Souza disse:

    Prezado André,
    O trabalho citado ocorreu no período de final de março a agosto, ok?

    Grande abraço.

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