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“Se pensarmos em pecuária extensiva a pasto – esquece!” – Daniel de Carvalho|Cruzamento entre bovinos europeus britânicos X continentais

BeefPoint  já publicou diversos artigos apresentando casos de sucesso e experiências com cruzamentos de bovinos de corte, mas hoje, optamos por reunir uma série de opiniões de profissionais ligados ao setor do melhoramento genético, professores e produtores para discutirem a seguinte questão: Cruzamento entre bovinos europeus x continentais será que essa é uma tendência que veio pra ficar?

Por Daniel de Carvalho

Captura de Tela 2014-05-20 às 17.21.08

Vamos começar pela pergunta – Por que fazer cruzamento entre raças?

Resposta rápida – para obter heterose, um fenômeno advindo da heterozigose.

Segunda pergunta, onde pode ser obtido o maior grau de heterose?

Resposta rápida – no cruzamento entre raças ou indivíduos menos aparentados.

Fato 1: Taurinos britânicos são mais aparentados dos taurinos continentais do que de outros bovinos, como os zebuínos, o que significa que a heterose esperada em seu respectivo cruzamento será menor.

Fato 2: Podemos medir o grau de heterose, mas ainda não existe nenhum trabalho que mostre o valor de sua expressão, ou seja, por exemplo, quantos quilos a mais serão ganhos para cada grau de heterose. Assim apesar de acreditarmos que quanto maior a heterose maior o desempenho, isso não pode ser comprovado.

Fato 3: Taurinos continentais são conhecidos por comporem raças de grande porte, apresentando muito crescimento e carcaças grandes e pesadas, contudo apresentam menor propensão à terminação (acabamento), maior idade à puberdade e altíssimos pesos ao nascer.

Fato 4: Taurinos britânicos são de porte menor, apresentam maior facilidade de deposição de gordura subcutânea e intramuscular, além de precoce maturidade sexual e baixo peso ao nascer.

Fato 5: Ambas são raças consistentes, ou seja, existem há muito tempo, contudo a amostragem experimental (entenda-se o número de animais e rebanhos) aos quais convergem as raças britânicas são infinitamente superiores – em âmbito nacional e mundial. Isso quer dizer que existem muito mais animais britânicos do que continentais, portanto, nos direcionamos a dizer que a “pressão de seleção” nos britânicos foi e é maior.

Fato 6: O grau de “Herdabilidade” não é o mesmo para todas as características dentro de raças diferentes, assim, pode ocorrer que, em um determinado cruzamento o resultado da heterose não seja “meio/meio”, por exemplo se cruzarmos um animal grande com um pequeno, o produto será médio. Assim, fenômenos genéticos como “Dominância”, “Co-dominância” e “Epistasia” podem se manifestar no produto cruzado que poderá tender mais ou menos para uma determinada raça.

Fato 7: Existe uma diferença crucial entre o cruzamento: taurino britânico X taurino continental e, o cruzamento: taurino continental x taurino britânico, pois este segundo, certamente morrerá ao parto, inclusive matando a mãe também.

Por fim a minha conclusão:

Taurinos britânicos podem ser utilizados em sistemas de cruzamento com raças continentais, primeiramente, desde que o “pai” seja um taurino britânico e que o produto seja terminal – ou seja, as matrizes não sejam utilizadas para reposição.

O produto apresentará grande desempenho em ganho de peso e moderada facilidade de terminação, ou seja, para terminar com bom acabamento, precisa de muito ambiente (entenda-se comida).

E por fim, este produto é 100% taurino, assim, não estará adaptado à vida nos trópicos, sendo susceptível a carrapatos, calor devido ao comprimento do pelo e etc. Também não seria apto a sistemas de produção a pasto, assim seu manejo não admite recria, o que aumenta muito o custo de produção.

A qualidade da carne será boa, mas não o suficiente para programas de bonificação de preços, mas o desempenho no peso final pode justificar o investimento no custo.

Em suma, provendo-se o ambiente (manejo e alimento) adequado, não pontos negativos. Assim, se pensarmos em pecuária extensiva a pasto – esquece!

Apenas mais uma contribuição, os EUA fazem este tipo de “experiência” há anos, obtendo o que hoje chamamos de Simangus, Black Simental, Limangus, que são animais com composições controladas de graus de sangue britânico dentro de raças continentais.

O resultado?

Muito bom, por que possuem ambiente para eles.

 

12 Comments

  1. filelfo disse:

    A teoria talvez se enquadre.
    Mas gostaria de convida-lo a conhecer o prejeto jaguarete onde ja temos mais 5000 partos entre o ” nosso simental” com vacas e novilhas angus heteford brangus braford etc… zero de bezerros trancados ou vacas em obito no parto.
    Termos britanicos e continentais jas estao ultrapassados , pois existem,gracas a serios e competentes selecionadores, individuos diferenciados com objetivos definidos.
    Projeto jaguarete , e uma realidade !

  2. Mario Coelho Aguiar Neto disse:

    Caro Daniel , parabéns pelo seu artigo. Achei-o bastante didático e elucidativo. Acho apenas que sua afirmação que o rebanho mundial de animais britânicos é maior que o de continentais está equivocada. É verdade que hoje é maior a nível nacional , porém em toda a Europa(com exceção do Reino Unido) e Ásia o rebanho das raças continentais é “imensamente superior”. Gostaria de saber de onde você tirou esta informação.Mais uma vez parabéns pelo artigo.ass. Mario Aguiar

  3. Errico Ernesto Rosa disse:

    O cruzamento é muito parecido com um cano de esgoto. O que tu pões na entrada é o que terás na saída!
    Destruir uma qualidade construída em séculos por objetivos quantitativos me parece um tiro no pé, que vai gangrenar todo o membro pecuário no futuro.

  4. José Manuel De Mesquita disse:

    Senepol Neles e em seus Cruzamentos.
    Com certeza corrigirá o problema mencionado nos 2 parágrafos abaixo, e copiados com a famosa sequência “Ctrl V e Ctrl C”.
    ————————————————————————————————————-
    E por fim, este produto é 100% taurino, assim, não estará adaptado à vida nos trópicos, sendo susceptível a carrapatos, calor devido ao comprimento do pelo e etc. Também não seria apto a sistemas de produção a pasto, assim seu manejo não admite recria, o que aumenta muito o custo de produção.

    Em suma, provendo-se o ambiente (manejo e alimento) adequado, não pontos negativos. Assim, se pensarmos em pecuária extensiva a pasto – esquece!
    ————————————————————————————————————-

    Experimentem não esquecer… os resultados poderão ser muito bons se aplicado o bordão : Senepol Neles ou em seus Cruzamentos.

  5. Sergio Augusto de Almeida Braga disse:

    Caro Daniel;
    Ótimo esclarecimento e realista.
    Sérgio Braga

  6. Jose Ricardo Rezende disse:

    Parabéns Daniel! Muito esclarecedor seu comentário. Continentais a pasto nos trópicos esquece. É burrice. Simples assim. Mesmo cruzados de taurinos britânicos e continentais são possíveis de serem obtidos, na minha opinião, apenas do Paraná para baixo, onde uma fêmea continental apresenta bom desempenho. E estes produtos cruzados precisam ser suplementados para serem lucrativos. Em produção extensiva esquece também. Obviamente podemos adquirir estes mestiços no Sul e acaba-los em SP, MG, MS, MT, etc. Mas o custo do frete e da aclimatação precisam ser considerados. Um caminho bem mais simples para quem esta acima do tropico de Capricórnio, sem querer polemizar, é optar pelo mestiço de angus com nelore. Este sim um produto vencedor no CO. Mas sempre com o cuidado de manter a produção de fêmeas de reposição. Simplesmente não acredito em um criador que não produz sua reposição.

  7. Sergio Barrantes Astúa disse:

    Olá Daniel.
    Acho o seu artigo ainda mais claro do que a água, seria muito interesante que
    o máximo de produtores,tivesem acesso a este trabalho seu. Parabéns.

  8. Fransérgio Duarte disse:

    Meus parabéns pelo artigo.
    Abraços meu irmão.

  9. Eldomar Renato Kommers disse:

    Interessante o comentário do Daniel, apenas gostaria lembrar que o Brasil é muito grande e temos o sul, o centro, norte e nordeste do Brasil, com diferentes climas e microclimas, com suas opções e diversidade de sistemas de criação. Outra realidade no segmento Pecuária de Corte é a verticalização da produção, para sermos competitivos perante outros segmentos do agro. Não sabemos ainda o limite de produção, por área, na Pecuária de Corte, onde esta o limite?. Há um desconhecimento das linhagens e evolução das raças. No Charolês, que trabalho, a seleção é por animais de pelo zero, bezerros pequenos ao nascer, matrizes com alta habilidade materna e precocidade de acabamento de carcaça . Selecionados para clima tropical. O que valia 10, 15 anos atrás hoje esta diferente, a seleção evolui, as raças evoluem. Não é o caso de “desbancar” a predominância das Zebuínas no Brasil, que sempre irão predominar, mas no RS a pecuária tem outro perfil e as Zebuínas não se adaptam a baixas temperaturas, por exemplo. Nos EUA o cruzamento entre Charolês X Angus não é uma “experiência”, uma realidade. Nos confinamentos,o que a anos atrás era pelo preto (Angus) , hoje predomina o pelo baio e fumaça do cruzamento com Charolês.

  10. Tiago Arantes disse:

    Parabéns Daniel,

    Como você está meu amigo?
    Conforme dito pelo Mario Aguiar, achei seu artigo muito didático.
    Aproveite a oportunidade para criar uma cartilha para produtor em uma linguagem bem simples relatando os cruzamentos e os resultados obtidos.
    Um Grande Abraço

  11. Gabriela Giacomini disse:

    Parabéns pelo artigo, Daniel!
    Com os 20 anos de experiência que o Montana tem em cruzamento, já usamos uma série de raças e já experimentamos um número grande de combinações. Usamos, inclusive, o Stabilizer, animal composto de 4 raças, sendo 2 britânicas e 2 continentais e já sabemos que o resultado só foi bom no Uruguai. Mesmo no RS, não atingimos os objetivos, uma vez que lá também faz calor.
    Manter heterose ao longo das gerações não é tarefa fácil e manter lotes disto e daquilo na fazenda é tarefa bem complicada.
    Já usamos também diversos taurinos adaptados e percebemos que a solução não está ali.
    O uso de touros compostos, como o Montana, se provou o melhor resultado em termos produtivos, reprodutivos e econômicos.
    Uma coisa há que ser dita: ficar sem o cruzamento não dá mais!
    Um abraço

  12. António Luiz Gomes disse:

    Caro Daniel – O principal objetivo do cruzamento em bovinos de corte não é a heterose, mas sim a complementaridade. A heterose é a superioridade do cruzado, num caráter, em relação à média das raças originais. Consoante o caráter, o cruzado é mais ou menos superior à média das raças originais, mas raramente melhor do que a melhor delas. Os carateres reprodutivos, de vigor e rusticidade têm uma heterose alta; os de velocidade de crescimento e eficiência de conversão, média; os de carcaça e qualidade da carne, baixa. O cruzado poderá ser melhor do que a raça melhor nos carateres de heterose alta, principalmente se as raças originais forem fenotipicamente próximas. Por outro lado, o cruzamento permite juntar qualidades diferentes de raças diferentes. Isso é complementaridade. Em Portugal, os cruzamentos mais frequentes em bovinos de corte são de touros de raças continentais – principalmente Limousin e Charolês – com raças autóctones, como a Mertolenga e a Alentejana. Estes cruzamentos tiram partido da complementaridade entre os carateres de crescimento e de carcaça das raças continentais e os carateres reprodutivos, maternais e de rusticidade (resistência ás agressões do meio: alimentação irregular ao longo do ano, inclemências do clima, parasitas e outros patogénicos) das raças autóctones. A propósito, as pequenas vacas Mertolengas parem as crias de touros Charoleses com mais facilidade do que as grandes vacas desta raça.

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