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Religião vs. Reacionários – Por Dan Murphy

Não falta controvérsia no que diz respeito ao chamado abate ritual, ou seja, os requerimentos Kosher e Halal de que os animais estejam vivos quando suas gargantas são cortadas.

Por um lado, tais práticas religiosas foram tradicionalmente isentas da supervisão do governo civil – incluindo a obrigação de pagar impostos em alguns países.

Mas os ativistas do bem-estar animal, que são rápidos em criticar a afirmação cristã de “domínio” sobre os animais da Terra, abraçaram os sentimentos antissemitas e anti-muçulmanos disfarçados que surgem em toda a Europa Ocidental como uma causa comum em seus esforços para atacar toda a agricultura animal e processamento de carne.

Na Suíça, que há muito tempo proibiu o abate ritual, desde a década de 1890, um novo projeto de lei foi apresentado ao Parlamento. Embora não identifique especificamente Kosher ou Halal, o projeto pretende proibir todas as importações de produtos de carne de animais que foram “maltratados”, de acordo uma notícia do Bloomberg.

“Levamos isso [projeto de lei] a sério, mas estamos bastante otimistas de que não resultará em uma proibição de importação de carne kosher”, disse Herbert Winter, presidente da Federação Suíça de Comunidades Judaicas, ao jornal judeu Hamodia.

Winter observou que a linguagem do projeto de lei autoriza uma proibição de importação para “produtos produzidos de maneira cruel com os animais”.

“Não está claro que a carne Kosher se qualificaria como um produto desse tipo”, disse ele.

Boa tentativa, Herbie.

A verdadeira razão para a proibição

Vários países já proibiram o abate de animais sem atordoamento ou tentaram impor tal proibição, incluindo:

Bélgica. Em maio, foi proposto um projeto de lei que afeta a região que fala francês de Wallonia para limitar o abate religioso. Em fevereiro, uma tentativa semelhante do parlamento (regional) de Walloon foi revogada por um tribunal constitucional nacional, que determinou que isso “contradizia as leis básicas de direitos humanos e os direitos religiosos”.

Dinamarca. Em 2014, o governo proibiu o abate religioso de animais para a produção de carne Halal e Kosher. O ministro da Agricultura, Dan Jørgensen, disse à imprensa que “os direitos dos animais vêm antes da religião”.

Nova Zelândia. A maior parte da carne de cordeiro e de carneiro do país é Halal, já que a Indonésia e o Oriente Médio são mercados de exportação importantes. No entanto, praticamente todos esses animais são “pré-atordoados” antes do abate ritual.

Polônia. Em 2013, o parlamento polonês rejeitou a tentativa do governo de permitir que os abatedouros retomassem o abate ritual de animais, principalmente para exportação para o Oriente Médio.

Enquanto isso, a lei de proibição de importação na Suíça, apresentada por Matthias Aebischer, membro do Partido Social Democrata da Suíça, proíbe principalmente a importação de foie gras, mas também proíbe expressamente as importações pele e pernas de rã.

No entanto, Katharina Büttiker, presidente da Swiss Animal Alliance, que foi consultada sobre o projeto de lei, de acordo com Hamodia, declarou abertamente que ambas as carnes Kosher e Halal deveriam ser cobertas pela proibição proposta, que ela acredita que isso levaria judeus ou muçulmanos devotos a adotarem o vegetarianismo.

Novamente, ótima tentativa.

Aqui está um outro fator que complica o movimento de proibir a importação de Kosher ou Halal: alguns observadores legais declararam que essa proibição poderia entrar em conflito com as regras de livre comércio aplicadas pela Organização Mundial do Comércio.

Não se pode negar que o surgimento de uma legislação destinada a proibir o abate religioso é uma consequência dos esforços de elementos nacionalistas para reduzir a influência das comunidades muçulmanas. E não há como negar que, como seria de esperar, os grupos de direitos dos animais, que não têm nenhum problema em se esquivar de toda a controvérsia religiosa, uniram forças com os políticos reacionários para promover sua causa vegetariana.

Especialistas como a Temple Grandin declararam inequivocamente que o abate ritual, feito corretamente, não causa mais dor ou sofrimento a um animal do que o atordoamento elétrico. A questão realmente não é sobre o bem-estar dos animais.

A imposição de uma proibição ao abate ritual é motivada por uma agenda política, e não por preocupações humanas (alegadas) com os animais.

Mas desde quando os ativistas animais já colocaram princípios acima do pragmatismo?

O texto é de Dan Murphy, editor da Drovers, traduzido e adaptado pela Equipe BeefPoint.

Comentário de Felipe Kleiman

Compartilho uma brilhante análise publicada no site Cattlenetwork/Drovers, sobre a dinâmica da perseguição que o abate religioso – seja judaico ou islâmico – vive na Europa.

Um impressionante trabalho de lentes não viciadas nem corporativistas. Talvez meu encantamento com o que ele escreve possa ser rotulado de se enquadrar no que diz o historiador Timothy Snyder, de que só lemos e publicamos o que corrobora nossa visão de mundo. o que, por sua vez, é uma força motriz da nefasta era da pós-verdade.

Quando eu falo – geralmente com pessoas da indústria da carne – que a Europa está banindo o abate religioso por perseguição e não por priorizar o bem estar animal (do qual sou ativista no bom sentido da palavra), muitas vezes ouço comentários que sugerem que eu digo o que eu digo por minha religião e por pertencer ao negócio da carne Kosher.

É estimulante ver alguém que tem um background totalmente diferente do meu e de quem nunca ouvi falar, que compartilha a mesma visão – minoritária – sobre esse assunto. Ou que pelo menos expressa. Dan Murphy é americano, jornalista veterano especializado na indústria alimentícia. Não temos nenhum vínculo tribal e isso me tranquiliza quanto ao rótulo da famigerada pós-verdade.

Felipe Kleiman é consultor na empresa Felipe Kleiman | Kosher Consulting. O comentário foi feito em sua página no Facebook.

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