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Efeitos da frequência de suplementação proteica na função reprodutiva de bovinos

Por Bruno I. Cappellozza1, Rodrigo S. Marques2 e Reinaldo F. Cooke3

Os rebanhos de bovinos de corte, invariavelmente, necessitam de algum tipo de suplementação durante o ciclo produtivo, seja pela falta de forragem ou pela baixa qualidade nutricional da mesma. Por isso, é importante avaliar e reconhecer o nutriente mais limitante dentro do sistema de produção, atendendo assim, os requerimetos de mantença do rebanho.

Diversos estudos de pesquisa demonstraram que suplementação protéica para rebanhos consumindo forragens de baixa qualidade (< 7 % proteína bruta) aumenta o consumo voluntário de matéria seca, digestibilidade de nutrientes da forragem, e consequentemente, o desempenho produtivo desses animais. Entretanto, suplementar o rebanho aumenta os gastos associados com a compra de insumos, mão de obra, e combustíveis. Por isso, uma prática que pode ser adotada visando a redução dos gastos, mas mantendo um desempenho adequado do rebanho é a redução da frequência de suplementação de alimentos protéicos (Bohnert et al., 2002).

Figura 1

Huston et al. (1999) demonstraram que vacas prenhas consumindo forragens de baixa qualidade e recebendo suplementos protéicos uma vez por semana apresentaram um escore de condição corporal (ECC) e peso vivo semelhantes  às vacas suplementadas diariamente. Portanto, esse artigo tem como objetivo demonstrar o efeito da redução da frequência de suplementação protéica na função reprodutiva de bovinos de corte.

Proteína x Reprodução

Pesquisas conduzidas nos anos 90 demonstraram que bovinos leiteiros consumindo dietas com alto teor de proteína (> 20 % da matéria seca da dieta) geralmente apresentavam maiores concentrações plasmáticas de uréia e problemas no desempenho reprodutivo, tais como redução nas taxas de concepção e prenhez, assim como menores concentrações de progesterona na fase luteal do ciclo estral.

Além disso, o pH uterino se tornaria mais ácido após o oferecimento e consumo dessas dietas com alto teor de proteína (Elrod e Butler, 1993). Isso é extremamente importante pelo fato de que mudanças no pH uterino podem resultar em perda da viabilidade espermática e aumentar a morte embrionária, sendo um dos fatores pelos quais há uma redução nas taxas de concepção/prenhez.

Hammon et al. (2005) observaram que vacas com maiores concentrações plasmáticas de uréia tiveram maiores concentrações de uréia e amônia no fluido de folículos preovulatórios, o que poderia contribuir para uma piora na função reprodutiva de ruminantes.

Recentemente, um estudo realizado na South Dakota State University (Grant et al., 2013) avaliou o efeito da suplementação protéica em diferentes níveis (variando de 10 a 16 %) para vacas de corte. Esses autores reportaram que vacas consumindo as dietas com 16 % proteína bruta (PB) tiveram maiores concentrações plasmáticas de uréia e tambem maiores valores de pH uterino quando comparado ao grupo recebendo a dieta contendo 10 % PB.

Além disso, é importante ter em mente que tanto amonia quanto uréia são compostos que apresentam cargas positivas e propriedades alcalinas em solução, não sendo esperado que diminuam o pH de um ambiente. Entretanto, o(s) mecanismo(s) pelo(s) qual(is) a suplementação com proteína acima de 20 % da dieta, uréia, e/ou amônia diminuem o pH uterino de ruminantes ainda não foi esclarecido e merece ser estudado, particularmente porque essa alteração do pH uterino pode ser exclusiva desse órgão (Elrod e Butler, 1993).

Frequência de suplementação x Reprodução

Como reportado em outros artigos, essa estratégia consiste em diminuir o número de dias em que os animais recebem os suplementos, ajustando a quantidade de suplemento oferecida, de modo que os animais continuam recebendo a mesma quantia de suplemento durante a semana.

Diminuição na frequência em que os alimentos são oferecidos resulta em um aumento no consumo de nutrientes por suplementação. Sangsritavong et al. (2002) demonstraram que aumento no consumo de matéria seca resulta em um aumento no fluxo sanguíneo para o fígado, e consequentemente, um aumento no catabolismo hepático de compostos metabólicos, incluindo progesterona.

Progesterona é o hormônio necessário para o alcance da puberdade, recomeço da função reprodutiva pós-parto e também para a manutenção da prenhez. Vasconcelos et al. (2003) reportaram que vacas leiteiras recebendo 100 % da dieta em uma única suplementação tiveram menores concentrações de progesterona quando comparados aos grupos que receberam os suplementos em múltiplas vezes e em menores quantias por suplementação.

Além disso, Cooke et al. (2007) demonstraram que fêmeas de corte consumindo suplementos energéticos 3 vezes por semana tiveram menores concentrações de progesterona após a suplementação.

Figura 2

Baseado em todos os aspectos descritos até o momento, recentemente, nosso grupo de pesquisa avaliou os efeitos da frequência de suplementação protéica em respostas fisiológicas associadas com a reprodução em vacas de corte (Cappellozza et al., 2014; in press).

Nesse estudo, os animais foram sincronizados (Co-Synch + CIDR) para simular uma situação real (estação de monta), e coletas de sangue, biópsias hepáticas e flushing uterino foram realizadas no dia 0 (correspondente ao dia da IA) e no dia 7 após a IA. Os animais receberam um total de 7 kg de farelo de soja (matéria natural) por semana, e os suplementos foram oferecidos diariamente, 3 vezes por semana (segunda, quarta e sexta), ou 1 vez por semana (sexta-feira).

Como esperado, os animais que receberam os suplementos uma vez por semana tiveram maiores concentrações de uréia plasmática 28 horas (pico) após a suplementação quando comparados aos outros grupos.

De acordo com Grant et al. (2013), o pH uterino tendeu a ser maior para os animais recebendo os suplementos protéicos uma vez por semana (portanto, consumindo maiores quantias de proteina por suplementação). As concentrações plasmáticas de progesterona não diferiram entre os grupos, assim como a expressão de enzimas hepáticas associadas com o catabolismo de esteróides, indicando que o ofereceimento de farelo de soja 1 vez por semana (7 kg por suplementação) não afetou negativamente o metabolismo hepático e as concentrações plasmáticas desse hormônio.

CONCLUSÕES

Em conclusão, suplementação deve ser utilizada quando a quantidade e/ou qualidade da forragem não apresenta todos os nutrientes necessários para atender os requerimentos de certa categoria animal.

Os estudos apresentados nesse artigo demonstram que a diminuição da frequência de suplementação protéica. Dietas com alto teores de proteína foram associadas com uma piora no desempenho reprodutivo dos rebanhos, enquanto que dados recentes do nosso e outros grupos de pesquisa não reportaram resultados semelhantes.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bohnert et al. (2002). J. Anim. Sci. 80:1629-1637.

Cappelllozza et al. (2014). J. Anim. Sci. (In press).

Cooke et al. (2007). J. Anim. Sci. 85:2564-2574.

Elrod and Butler (1993). J. Anim. Sci. 71:694-701.

Grant et al. (2013). J. Anim. Sci. 91:1186-1192.

Hammon et al. (2005). Anim. Reprod. Sci. 86:195-204.

Huston et al. (1999). J. Anim. Sci. 77:3057-3067.

Sangsritavong et al. (2002). J. Dairy Sci. 85:2831-2842.

Vasconcelos et al. (2003). Theriogenology 60:795-807.


1 Zootecnista e mestre pela Oregon State University. Atualmente realiza o programa de doutoramento em Animal Sciences na Oregon State University – Corvallis, OR, EUA.

2 Zootecnista e mestre pela Esalq/USP. Atualmente realiza o programa de doutoramento em Animal Sciences na Oregon State University – Corvallis, OR, EUA.

3Professor e pesquisador na Oregon State University – Eastern Oregon Agricultural Research Center, Burns, OR.

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