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3 de julho de 2013
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Princípios de manejo para o aumento da eficiência reprodutiva em bovinos de corte

O objetivo desse artigo resume-se na descrição de estratégias fundamentadas na pesquisa, somadas a experiência pessoal, para atingir índices de desempenho reprodutivo próximos a 80%. Por Carlos S. Gottschall, Marcos Rosa de Almeida, Jéssica Magero

Por Carlos S. Gottschall, Marcos Rosa de Almeida, Jéssica Magero*

Introdução

A bovinocultura de corte brasileira é uma atividade econômica de extrema relevância no país. O Brasil possui o maior rebanho comercial do mundo, cerca de 173 milhões de cabeças e, desde 2004, consolidou a posição de exportador de carne bovina in natura no mundo (Anualpec, 2009). Essa pujança é ainda maior em toda a cadeia da carne bovina. Estimativas indicam que a cadeia produtiva da carne bovina é responsável por 8,7% do PIB brasileiro. Desde 2009, após fusões e aquisições, um grupo brasileiro (JBS-Friboi) é detentor do maior conglomerado de processamento de carne bovina do mundo com plantas distribuídas em mais de uma dezena de países.

Entretanto, ao analisarmos indicadores de eficiência reprodutiva expressos pela taxa de natalidade, pode-se verificar que a taxa média do rebanho brasileiro situa-se em torno de 60% (Anualpec, 2009, Ferraz e Felício, 2010). As taxas de natalidade e desmame são reconhecidas como os principais indicadores para mensurar a eficiência reprodutiva em bovinos de corte.

Segundo Gottschall (2008), o índice satisfatório situa-se entre 75 a 80% de natalidade. Trabalhos técnicos e econômicos (Holmes, 1989; Rovira, 1996; Beretta et al. 2001) comprovam que as mudanças tecnológicas na bovinocultura de corte devem ser realizadas com enfoque no aumento da taxa de natalidade. De acordo com Gottschall (2008), um importante ponto de estrangulamento na bovinocultura de corte voltada à cria resume-se ao baixo número de bezerros desmamados em relação ao número de ventres acasalados. De forma teórica e utópica, o objetivo deveria ser a produção e o desmame de um bezerro/vaca/ano.

Justificativa

A taxa de natalidade de um rebanho pode ser considerada como a mola propulsora da bovinocultura de corte. Quanto maior o número de animais nascidos, quanto menor as perdas de animais (mortalidade), quanto menor a idade de abate, maior será o desfrute de animais e a eficiência produtiva do rebanho (Rovira, 1996, Fields et al., 2002). O problema básico da bovinocultura de corte de cria brasileira resume-se ao reduzido número de terneiros desmamados em relação aos ventres acasalados.

Países desenvolvidos (América do Norte, Europa, Austrália) ou propriedades com alta eficiência reprodutiva apresentam a taxa de natalidade de 85 + 5%; enquanto países Sul Americanos ou propriedades com baixa eficiência reprodutiva apresentam taxa de natalidade próximas a 50 + 15%.

A reprodução é identificada como o mais importante fator associado com a rentabilidade da pecuária bovina, afetando diretamente os níveis de produtividade de um rebanho (Radostits, 2001). Estudos econômicos indicam que a eficiência reprodutiva em rebanhos de bovinos de corte apresenta grande associação com retorno econômico por aumentar consideravelmente o número de animais disponíveis para a venda (Holmes, 1989).

O objetivo desse artigo resume-se na descrição de estratégias fundamentadas na pesquisa, somadas a experiência pessoal, para atingir índices de desempenho reprodutivo próximos a 80%.

Resultados

Como exposto acima, um número significativo de terneiros deixa de ser produzido a cada ano. Medidas simples, econômicas e factíveis podem ser empregadas em rebanhos de cria para aumento da eficiência reprodutiva. A seguir, serão apresentados (Tabelas 1 e 2) resultados reprodutivos obtidos em mais de 21.890 ventres, em 5 propriedades de cria distintas do estado do Rio Grande do Sul, em por quatro estações de acasalamento (2007 a 2010).

Os resultados das taxas de prenhez descritos, com média de 79,0% para todos os ventres avaliados, 83,8% para novilhas e 76,3% de taxa de repetição em vacas com cria ao pé derivam da aplicação de princípios e conceitos de manejo reprodutivo que serão descritos a seguir.

Princípios de manejo reprodutivo

Como exposto acima, um número significativo de terneiros deixa de ser produzido a cada ano no Brasil. De cada 100 vacas acasaladas, nascem cerca de 45 a 60 bezerros. O desafio principal dos produtores e técnicos envolvidos na atividade de cria concentra-se na capacidade de incrementar o desempenho reprodutivo nos rebanhos de cria, através da utilização de práticas de manejo específicas. A seguir, serão descritas 10 regras básicas de manejo reprodutivo aplicadas em mais de 21.890 ventres, em 5 propriedades de cria distintas do estado do Rio Grande do Sul, por quatro estações de acasalamento (2007 a 2010) que resultaram nos índices reprodutivos expostos nas tabelas 1 e 2.

Princípio I – Identificação animal

Em todas as propriedades, os animais são identificados individualmente através de brinco identificador e/ou tatuagem. Segundo Gottschall (2008), a identificação individualizada é uma premissa básica para a obtenção de controles e cálculo de indicadores confiáveis nos rebanhos de bovinos de corte ou leite. Para um controle mais preciso, cada animal deverá ter um sistema de identificação próprio. Os animais poderão ser tatuados e/ou brincados por ocasião do nascimento, ou introdução na propriedade. Em rebanhos controlados, por ocasião do nascimento, procede-se também a identificação da mãe e a pesagem dos animais.

O estabelecimento de uma identificação única para cada animal é necessário para a manutenção de um sistema de registros e controle individualizado, permitindo a coleta de informações e análise de indicadores de produtividade.

Princípio II – Categorização animal

Os animais são separados por categorias, conforme a idade, objetivos de produção e exigências nutricionais (NRC, 1996). Ou seja, em todas as propriedades, os animais destinados à cria formam lotes ou rodeios específicos, sendo reconhecidas as diferenças em exigências nutricionais. A identificação (Princípio I) permite a separação por categoria e faixa etária. Nas distintas propriedades, independente da idade ao primeiro acasalamento são formados lotes de animas distintos, manejados em campos separados. Os principais lotes formados são:

1- Novilhas de reposição, para que atinjam o peso de acasalamento;

2- Novilhas prenhes, para que atinjam o peso pós-parto;

3- Vacas de primeira cria;

4- Vacas de segunda cria;

5- Vacas maduras.

É fundamental ressaltar que os bovinos atingem a maturidade em torno de cinco anos de idade. Geralmente, de forma incorreta, após o parto, as novilhas são manejadas conjuntamente com as demais vacas; entretanto, este animal necessita nutrição extra, pois ainda está em crescimento. Como resultado, muitas vacas primíparas apresentam dificuldade de ciclar e conceber durante a estação reprodutiva, resultando em baixa taxa de repetição de prenhez e conseqüentemente perdas para o produtor.

Princípio III – Manejo diferenciado para novilhas – Entendimento do conceito de peso mínimo crítico

O manejo das novilhas nas cinco propriedades listadas, independente da idade ao primeiro acasalamento (14-15 ou 26-27 meses), preconiza o desenvolvimento de estratégias nutricionais para que as mesmas atinjam a puberdade e alcancem o peso mínimo crítico no mínimo 15 dias antes do início da estação de acasalamento prevista. Como parâmetro básico, o peso mínimo crítico a ser atingido pelas novilhas corresponde a 60-65% do peso vivo adulto da fêmea da respectiva raça. Com esses valores, a taxa média esperada de prenhez da novilha situa-se em torno de 80-90%. Por exemplo, em raças cujo peso da vaca adulta gorda é de 470 kg, a novilha deverá chegar à estação de acasalamento com peso mínimo ao redor dos 300 kg para a obtenção de índices satisfatórios de prenhez. A Tabela 3 indica o peso médio necessário à puberdade de novilhas de acordo com a raça ou cruzamento.

Princípio IV – Manejo diferenciado para novilhas – Utilização de sincronização de estros para concentrar a concepção ao início da estação de acasalamento

Pesquisas confirmam que novilhas e vacas que concebem e parem mais cedo, na respectiva época (ajustada pelo nível nutricional), produzem e desmamam mais terneiros e kg de terneiros durante sua vida produtiva (Holmes, 1989; Rovira, 1996; Fields et al., 2002; Azeredo et al. 2007). Da mesma forma, vacas que parem no tarde em um ano tendem a parir mais tarde, ou não parir no próximo ano.

Assim, destaca-se a importância de manejar e acasalar as novilhas para parirem cedo dentro da estação e assim permanecerem durante sua vida produtiva. Novilhas que concebem mais cedo indicam maior eficiência e potencial reprodutivo, devendo ser selecionadas.

Nas cinco propriedades listadas, as novilhas são manejadas para atingirem o peso mínimo crítico, representado por 65% do peso de animais da respectiva raça, gordos (princípio III). Dessa forma, ao início da estação de acasalamento programada utiliza-se a sincronização de estros das novilhas com prostaglandina F2a, basicamente o protocolo “7+5” (Gottschall et al., 2008).

Esse princípio reforça a necessidade de atingir o peso mínimo crítico antes do início da estação de acasalamento, pois desta forma as novilhas iniciarão o serviço ciclando e com maior concentração de ventres emprenhando e parindo ao inicio das respectivas estações, fato que aumenta significativamente a probabilidade de prenhez e reconcepção.

Princípio V – Manejo diferenciado para novilhas – Estação de acasalamento mais curta para novilhas

Com a aplicação dos princípios III e IV, preconiza-se uma estação de acasalamento de no máximo 60 dias para novilhas, o que representa quase 3 ciclos estrais. Se considerarmos uma taxa de prenhez de 60% por ciclo, e todas novilhas estiverem cíclicas, ao final de 60 dias estima-se uma taxa de prenhez de 92,2%. No presente trabalho, a média ficou em 83,4%.

Ao respeitar esse princípio no lote de novilhas, aumenta-se significativamente a probabilidade de reconcepção das vacas primíparas no ano seguinte, pois os animais que emprenham no cedo (dentro da respectiva estação) apresentam maior probabilidade de reconcepção.

Um dos maiores erros no manejo do gado de cria é não respeitar os princípios III, IV e V. Nas propriedades que refletem a média de desempenho reprodutivo do Brasil esses princípios não são seguidos. Não é incomum que ocorra um retardo significativo do início da estação de acasalamento das novilhas, pois, sem manejo, a maioria somente inicia a inseminação com um ou dois meses de atraso (segunda quinzena de Dezembro, ou Janeiro).

Nas cinco propriedades listadas a estação de acasalamento das novilhas é fixa, iniciando entre 15 de novembro e 1º de dezembro.

Princípio VI – Manejo diferenciado para novilhas – Percepção que novilhas e primíparas representam cerca de 50% do rebanho de cria

As Tabelas 4 e 5 resumem duas simulações baseadas em dados médios de prenhez e composição de rebanho em duas situações de manejo. Essas simulações foram calculadas para um rebanho com 1.000 ventres, desconsiderando-se a mortalidade de animais.

É importante destacar que bovinos atingem a idade adulta ao redor dos cinco anos de idade. Geralmente, após o parto, uma novilha passa a ser manejada com as demais vacas, como se fosse um animal adulto; entretanto, este animal necessita nutrição extra, pois ainda está em crescimento. Como resultado, muitas vacas primíparas apresentam dificuldade de ciclar e conceber durante a estação reprodutiva, resultando em baixa taxa de repetição de prenhez e conseqüentemente grandes perdas reprodutivas. Na Tabela 4, são mostrados resultados de repetição de prenhez de vacas de duas ou mais crias, comparados aos resultados de vacas primíparas, quando manejadas em conjunto.

Os dados acima são reais e foram encontrados em uma propriedade que não realizava a categorização de animais, separando-os por idade, conforme as exigências nutricionais (Princípio I). Os valores encontrados foram ajustados para um rebanho de 1.000 ventres para facilitar os cálculos. Os dados da Tabela 4 demonstram didaticamente as maiores exigências nutricionais de primíparas. Nesse rebanho, as vacas primíparas e as vacas maduras eram manejadas conjuntamente. Vacas primíparas, mais exigentes, repetiram prenhez em apenas 18%, enquanto vacas de maior maturidade o fizeram em quase 76%. Conseqüentemente, novilhas após o parto devem ser mantidas em rodeio à parte, devido aos requerimentos nutricionais superiores aos de vacas maduras.

Na simulação abaixo (Tabela 5), são apresentados dados do mesmo rebanho, onde apenas alterou-se a taxa de repetição de prenhez das vacas de 1ª cria. Ao reconhecermos a maior dificuldade de reconcepção de primíparas, deve-se criar estratégias (categorização, ajuste de carga, desmame precoce, ajuste da estação de acasalamento anterior) para incrementar a taxa de repetição de prenhez de primíparas.

Na simulação acima, qualquer interferência de manejo (melhor nutrição, suplementação, pastagem, ajuste de carga, desmame precoce) que seja realizada sobre a categoria de primíparas, elevando o índice de prenhez de 17,7% para 72,0%, por exemplo, irá resultar em um incremento significativo da eficiência reprodutiva geral de 12,5 pontos percentuais ou 125 terneiros. A tabela acima, evidencia que em rebanhos de gado de cria, as novilhas e vacas de primeira cria representam cerca de 45-50% do total de animais em produção. Uma interferência direta deverá ser feita em vacas primíparas, pois esta categoria ainda em crescimento apresenta maiores exigências nutricionais e isoladamente representa um elevado percentual do rebanho (cerca de 20 a 25%).

Gottschall et al. (2007) avaliaram o desempenho reprodutivo de 1.868 vacas com diferentes idades. Os autores concluíram que vacas maduras (seis anos de idade) apresentaram desempenho reprodutivo superior quando comparadas as vacas mais jovens ou mais velhas (Figura 1).

Princípio VII – Classificação dos animais pelo escore de condição corporal (ECC) em três momentos distintos.

O escore de condição corporal (ECC) é um método subjetivo, utilizado para avaliar a quantidade de reserva energética do animal (Gottschall, 2005). Inúmeros trabalhos de pesquisa e de campo, utilizando esta ferramenta de manejo (ECC), conseguiram demonstrar uma relação direta entre o escore de condição corporal ao parto e eficiência reprodutiva. Segundo Rovira (1996), o ECC é um indicador que deve ser usado como ferramenta de manejo para avaliar o potencial reprodutivo, determinar o planejamento nutricional e estratégias de manejo dos rebanhos de cria.

O princípio VII preconiza a avaliação do ECC das vacas de cria em três períodos estratégicos, pois o mesmo pode ser considerado um preditor do desempenho reprodutivo. Estratégias de manejo nutricional e práticas de desmame (Gottschall, 2004) poderão ser estabelecidas a partir do ECC de cada animal no período analisado.

⇒ No Outono, ou por ocasião do diagnóstico de gestação. O ideal é um escore de condição corporal 3,0 (escala de 1 a 5). Com esse ECC, é permitido uma pequena perda de peso e condição durante o inverno. Vacas prenhes e com escore inferior ao desejado deverão ser manejadas para atingirem o ECC adequado ao parto.

⇒ Na Primavera, por ocasião do parto. O escore indicado é de 2,5 ou mais para vacas maduras e 3,0 ou mais para vacas primíparas (escala de 1 a 5). O ECC adequado nesse momento apresenta alta correlação com a probabilidade de reconcepção na próxima estação de acasalamento. Vacas magras ao parto, apresentam menores índices de desempenho reprodutivo quando comparadas às vacas com escore moderado.

⇒ Ao início da estação de acasalamento – o ECC indicado será de no mínimo 2,5 para vacas maduras e 3,0 ou mais para vacas primíparas (escala de 1 a 5), ou seja, os animais não deverão perder peso e condição corporal após o parto.

A avaliação do ECC, ao início da estação de acasalamento, permitirá a adequação ao tipo de desmame a ser utilizado. Neste momento, talvez seja necessária a decisão do uso do desmame precoce, amamentação controlada ou aleitamento interrompido. Vacas com ECC 2,0 (escala de 1 a 5), cerca de 30 dias antes da estação de acasalamento, poderão ser submetidas ao flushing e/ou amamentação controlada, cujo o bezerro é separado da mãe diariamente, permitindo apenas uma mamada por dia, ou é feito interrupção temporária do aleitamento, através da separação do bezerro por 48-72 h. Dados podem ser visualizados na Tabelas 6 e 7.

Princípio VIII – Adequação da curva de produção de forragem as exigências nutricionais dos animais

No Rio Grande do Sul, a pastagem nativa constitui a base da alimentação do rebanho de cria. Entretanto, a produção de forragem durante o inverno é baixa, fato que compromete o desempenho reprodutivo dos rebanhos bovinos. As categorias que mais sofrem com a redução no suprimento de nutrientes são os bovinos em fase de crescimento, pelas maiores exigências nutricionais, e vacas paridas, pela maior demanda de nutrientes para a produção de leite (Lana e Gomes Jr., 2002).

Segundo Cachapuz (1995), em um sistema tradicional, representado por animais mantidos exclusivamente em pastagem nativa, as fêmeas permanecem improdutivas no campo por três anos, seu desempenho reprodutivo subseqüente é prejudicado, a taxa de natalidade não ultrapassa 50% e os resultados de repetição de prenhez oscilam entre 18 e 20%. Nesse contexto, preconiza-se a associação dos princípios V, VI e VII, buscando coincidir a maior exigência do ventre (lactação) com a maior produção de forragem pelo campo natural, principal recurso forrageiro dos rebanhos de cria. A Figura 2 demonstra a variação de exigência de um ventre, conforme o ciclo produtivo e período do ano. Permitir um adequado ECC ao parto, concentrando os partos ao início da respectiva estação, e garantir manutenção do peso durante o período de maior exigência auxiliam no retorno precoce da ciclicidade dos ventres.

Em tabela extremamente didática e aplicada (Tabela 8), Rovira (1981) apresenta pesos mínimos a serem atingidos em determinadas épocas do ano para primíparas e multíparas em relação ao peso da vaca gorda para obtenção de índices satisfatórios de prenhez, próximos a 80%.

Os indicadores de peso acima demonstram a necessidade de um manejo nutricional correto, possibilitando as vacas um peso mínimo aceitável por ocasião do período de acasalamento. A perda de peso ou de condição corporal, devido à demanda metabólica para fêmeas lactantes, pode se refletir em uma diminuição da disponibilidade de nutrientes para as funções reprodutivas. Dentro de cada rebanho existe uma relação entre a taxa de prenhez e o peso vivo das fêmeas quando acasaladas.

Conforme os dados apresentados na Tabela 8, os animais deverão ser pesados sistematicamente no outono, pós-parto e início do acasalamento. Dependendo do peso obtido, o manejo nutricional deverá corrigir as deficiências, permitindo atingir o peso e condição corporal superior ao mínimo crítico desejado (Tabelas 6 e 8).

Princípio IX – Interferência e uso de desmame precoce, se necessário.

A forma mais rápida de aumentar os indicadores reprodutivos de uma propriedade se faz através do uso do desmame precoce. A partir do momento que a lactação é suprimida, os nutrientes utilizados para a produção leiteira são redirecionados para outras funções produtivas, dentre elas, a reprodução (Figura 3).

Desta forma, quando o estado nutricional do rebanho, ou dos animais é baixo, a antecipação do momento do desmame poderá proporcionar um aumento significativo na taxa de natalidade.

A condição corporal ao parto e início do período de acasalamento será decisiva na escolha do momento da realização do desmame. Vacas gordas ao parto, independentemente da realização do desterneiramento, apresentam altas probabilidades de repetição de prenhez. Vacas magras ao parto terão suas chances de prenhez aumentadas, após a realização do desmame.

Princípio X – Pressão de seleção – Descarte de novilhas e vacas por fertilidade

A realização metódica e sistemática do diagnóstico de gestação, 45-60 dias após o término da estação de acasalamento, é uma medida de manejo de grande impacto econômico e genético. Experimentos em um rebanho na Florida – EUA, demonstram que a aplicação sistemática do diagnóstico de gestação, após a estação de acasalamento e seleção por desempenho reprodutivo, elevou o índice de natalidade de 66% para 88% em sete anos de estudo. Neste mesmo período, no Texas, a mesma medida promoveu a elevação da natalidade de 81 para 93%. Em oito anos de avaliação, na Nova Zelândia, pela aplicação do mesmo método, a natalidade passou de 66 para 93%. Em trabalho conduzido no RS, Magalhães (1992) obteve dados de repetição de prenhez em primíparas aos 3, 4 e 5 anos de idade, mantidas em condições similares de 83%; 67% e 48%, respectivamente. Esses dados demonstram a relação entre precocidade sexual e desempenho reprodutivo subseqüente, descritos por Holmes (1989) e Rovira (1996). No trabalho de Magalhães (1992) fica claro que as primíparas aos 5 anos são muito menos eficientes, seja pelo retardo na 1ª concepção, ou pela reduzida taxa de reconcepção. A conclusão prática dos relatos acima resume-se na identificação e descarte dos animais menos férteis, indicado pelo resultado no momento do diagnóstico de gestação.

Em sistemas de produção de bovinos de corte, o diagnóstico de gestação periódico é um dos requisitos fundamentais para a maximização da eficiência reprodutiva. Todo animal presente na propriedade apresenta um custo fixo ao longo do ano. As fêmeas bovinas em idade produtiva devem deixar o saldo de um terneiro por ano. Após o diagnóstico de gestação, as novilhas e vacas poderão ser divididas em grupos, recebendo alimentação de acordo com suas necessidades. Animais que não emprenham serão descartados, após avaliação do veterinário responsável.

Quando realiza-se o diagnóstico de gestação e procede-se o descarte sistemático dos animais falhados (vazios), ocorre um aumento na eficiência reprodutiva global do rebanho, pois desta forma, seleciona-se por fertilidade e adaptação ao meio.

Considerações finais

Segundo estudos econômicos, a eficiência reprodutiva apresenta importante impacto econômico sobre a formação de renda de uma propriedade de gado de corte.

O correto entendimento da complexa inter-relação entre os princípios produtivos e a aplicação metódica de controles, registros e manejo irá permitir atingir a eficiência reprodutiva, em rebanhos de bovinos de corte, expressos por uma taxa de prenhez próxima a 80%.

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* Carlos S. Gottschall é Médico Veterinário, MSc em Zootecnia (UFRGS), Doutor em Ciências Veterinárias (UFRGS), professor adjunto do curso de Medicina Veterinária da ULBRA – Canoas, RS e consultor em Produção Animal. E-mail: carlosgott@cpovo.net; Marcos Rosa de Almeida é Médico Veterinário; Jéssica Magero é Médica Veterinária e mestranda em Ciências Veterinárias.

1 Comment

  1. Otávio Heinz disse:

    Se analisarmos a curva de produção do campo nativo , veremos que o pico de produção se inicia em novembro. Por que fazer as vacas parirem dois meses antes do momento mais favorável do ponto de vista de produção de forragem e fotoperíodo que favorece intervalo mais curto para o primeiro cio pós parto? Esta simples correção resolveria a maioria dos problemas.

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