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A MACROECONOMIA BRASILEIRA E OS DESAFIOS PARA 2018

São três as perguntas que influenciarão a trajetória da produção agropecuária brasileira na próxima década. A macroeconomia nacional se encontrará em um ponto de clivagem a partir de 2018? O modelo agrícola brasileiro deverá se alterar nos próximos anos, em função do modelo macroeconômico que desenhará o desenvolvimento do País? Há uma nova revolução tecnológica em curso na agricultura? As respostas a essas três perguntas delinearão o futuro da área plantada, da produção e da produtividade agrícola na próxima década.

É fato que 2018 projeta uma encruzilhada para a economia brasileira. Houve uma mudança expressiva no modelo macroeconômico adotado pelo País a partir da troca presidencial ocorrida em meados de 2016. A volta do tripé macroeconômico adotado no início da década passada, ou seja, câmbio flutuante, meta de inflação e equilíbrio fiscal, alterou a rota da política econômica e dos principais preços da economia.

A aceitação do diagnóstico, pelo governo atual, de que o principal desafio macroeconômico do País é a recuperação das contas públicas mudou substancialmente o direcionamento das ações por parte do Executivo Federal. A política econômica transparente adotada tanto pelo Ministério da Fazenda quanto pelo Banco Central estabeleceu novas bases para os investidores avaliarem o risco do País, embora tenha tornado claro que o tamanho do rombo fiscal exige um grande esforço para recolocar as contas públicas novamente em uma trajetória de equilíbrio.

Em novembro de 2016, o governo conseguiu aprovar uma lei que limita, para a próxima década, os seus próprios gastos reais (descontada a inflação) ao que se gastou no ano anterior. Assim, espera-se que, conforme a economia volte a crescer e, com isso, a arrecadação se recupere, o tamanho do Estado como participação do PIB se reduzirá com o tempo. A sobra de recursos arrecadados permitirá reduzir progressivamente a dívida pública, que em um curto espaço de tempo saltou de 56% com relação ao PIB em 2013, para números próximos a 80% em 2017 e 2018.

É certo que a redução das taxas de juro que já se iniciou em 2017 ajudará a recompor a equação fiscal. A taxa básica de juros em 2016 encontrava-se em 14,25%. Espera-se que no fim de 2017 ela alcance níveis ao redor de 7%, o que representaria importante elemento para a redução do déficit nominal do governo.

A queda nas taxas de juro tem o duplo efeito de acelerar a recuperação econômica e, com ela, a arrecadação, ao mesmo tempo que diminui sobremaneira o pagamento de juros por parte do setor público. Nota-se, nesse ponto, o quão relevante para a recuperação do equilíbrio fiscal é a continuidade da política econômica no sentido de dar consistência à manutenção de juros baixos na economia.

No campo fiscal, contudo, há um elemento central que ainda precisa ser corrigido, que é grande o suficiente para desestabilizar a promissora recuperação fiscal. Já está claro às lideranças do País que é preciso promover uma reforma na Previdência Social, posto que o crescente déficit oriundo dessa conta torna impossível manter a regra de teto do gasto real do poder público.

O governo atual propôs rever as regras da Previdência, mas a conturbada situação política impediu que a pauta fosse votada em 2017. As lideranças legislativas seguem prometendo que o tema será levado a votação até o início de 2018, embora, provavelmente, fique restrito apenas ao limite da idade mínima para a aposentadoria.

Seja como for, é bom ter presente para os cenários construídos para o Outlook Fiesp, que o divisor de águas que diferencia os cenários de médio prazo será o resultado da eleição presidencial de 2018 e a agenda a ser seguida pelo presidente eleito. Caso a pauta seja a continuidade das reformas econômicas, é possível ver um ciclo de recuperação com crescimento do PIB, juros baixos, inflação contida e progressiva melhora da situação fiscal do País. Caso a agenda retorne aos marcos populistas anteriores, é provável que o Brasil siga na direção oposta em relação a todos esses indicadores.

Há boa chance de o País entrar em uma década de crescimento econômico, caso a agenda reformista persista. O momento é raro na história econômica brasileira. A profunda recessão que marcou o período de 2014 a 2016 dá claros sinais de se encerrar em 2017. As projeções indicam que o PIB deve crescer entre 0,7% e 1% em 2017 e de 3% a 4% em 2018. A taxa de desemprego segue alta, mas já começou a cair no segundo semestre de 2017 e desenha-se, para 2018, a continuidade dessa queda.

É interessante notar que a recuperação econômica ocorre em um momento de baixa inflação. As principais fontes que projetam o indicador sinalizam para porcentuais inferiores a 3% em 2017 e para algo ao redor de 4% em 2018. A queda dos índices de preços foi muito sustentada pela excepcional safra agrícola colhida em 2017, mas é fato que está em curso a quebra da inércia inflacionária, que transbordou para o setor de serviços e para os salários.

É matéria bem conhecida a questão da inércia inflacionária em um país em que diversos preços são indexados à inflação passada. Por ser um preço macroeconômico central, a indexação dos salários tende a manter a espiral preço-salário relativamente ativa. A alta da inflação é repassada aos salários futuros, o que mantém a demanda em alta e, com ela, a inflação. A indexação generalizada de preços acaba por exigir da política monetária juros relativamente elevados.

Assim, o momento atual de queda da inflação constitui oportunidade rara para trazer a economia para um equilíbrio de preços e juros em patamares baixos. Esse equilíbrio pode ser mantido no médio prazo, caso a política econômica siga a trajetória consistente adotada atualmente.

Há,  ainda, outro elemento raro na história do Brasil, que é o excepcional equilíbrio nas contas externas do País. O ano de 2017 deve marcar um saldo recorde na balança comercial, da ordem de US$ 71 bilhões, forte o suficiente para trazer as transações correntes para um superávit de cerca de US$ 12 bilhões. O saldo positivo na conta corrente contará ainda com cerca de US$ 85 bilhões de Investimentos Externos Diretos (IED), o que sinaliza excelente oferta de dólares e a manutenção da força relativa da moeda brasileira. Vale notar adicionalmente que o nível de reservas externas é da ordem de US$ 380 bilhões, o que configura quadro de muita estabilidade nas contas brasileiras.

O excelente equilíbrio externo permite que o País não repita momentos do passado, nos quais o quadro internacional acabava por tornar a recuperação econômica limitada. Crises políticas como a atualmente vivida afetavam a moeda, uma vez que a falta de reservas promovia fortes desvalorizações do real.

A desvalorização da moeda afetava a inflação, o que gerava elevação das taxas de juro e consequente interrupção da recuperação econômica, que, por sua vez, tende a agravar o quadro político. A instabilidade externa acabava por se traduzir em instabilidade interna. Eis, pois, que o atual momento de grande equilíbrio externo permite imaginar que, caso o País siga a trajetória de reformas estruturantes, o crescimento poderá ser duradouro.

O CENÁRIO MACROECONÔMICO NO BRASIL E SEUS REFLEXOS NO AGRONEGÓCIO

São várias as implicações dos diferentes cenários macroeconômicos para o agronegócio brasileiro, a partir das eleições de 2018. Caso a agenda reformista siga adiante, é possível imaginar um quadro de baixas taxas de juro, relevante recuperação do poder de consumo interno, decorrente do aumento da renda, da melhora do emprego e de uma moeda relativamente mais forte. Caso a agenda populista retorne em um novo governo, provavelmente o inverso se dará, como já mencionado: juros mais elevados, real desvalorizado e menor dinamismo do mercado interno.

Tomando por base o cenário de continuidade das reformas econômicas, é provável que o modelo de política agrícola brasileiro se altere de maneira relevante. É fato que o principal eixo da política pública para a agricultura, nas duas últimas décadas, foi o crédito rural. Com o passar do tempo, as políticas de intervenção de preços e a gestão de estoques públicos de alimentos foram perdendo força, restando a política de crédito rural como eixo central da política agrícola.

Ensaiou-se uma mudança relativa do programa de seguro rural, mas nos últimos quatro anos houve retrocesso em suas metas. Novamente coube ao crédito a compensação pela redução nas demais políticas. Não há dúvida de que o acesso ao crédito, a taxas relativamente baixas para os padrões brasileiros, constitui um dos elementos centrais da capacidade da agricultura brasileira se expandir. Os estudos de crescimento da agricultura atestam que a correlação entre o crédito e a produção, produtividade e área plantada é muito grande.

Em poucas palavras, o crédito é um fator de produção tão relevante quanto a terra, o fertilizante ou a máquina agrícola. Dessa maneira, seria impensável a expansão do agronegócio brasileiro sem a política de crédito rural que norteou a política agrícola nacional.
Não obstante seu papel central em relação ao agronegócio nacional, é fato que, pela primeira vez na história brasileira, a taxa de juros da economia (Selic) encerrará o ano abaixo da taxa de juros básica de 8,5% adotada pelo Plano Safra de 2017/2018.

As discussões em torno da reformulação da política de crédito rural sugerem que a ideia de um maior alinhamento entre a taxa Selic e os juros do crédito rural pode vir a ocorrer a partir do Plano Safra de 2018/2019, o que reduziria o custo do governo para equalização das taxas de juro do crédito rural.

O modelo agrícola seria então calibrado na direção de uma maior priorização do seguro rural como política de garantia de renda ao produtor. Esse novo desenho da política agrícola brasileira somente será possível caso a economia entre no círculo virtuoso de crescimento econômico, com inflação e juro estruturalmente baixos e progressiva redução do tamanho do Estado.

Este cenário abre a possibilidade do setor privado potencializar a captação de recursos no mercado a juros livres, por meio de operações com diferentes papéis do agronegócio. Ressalta-se a importância da manutenção da vantagem tributária desses papéis, para que o mercado privado de crédito voltado ao agronegócio se consolide.

É importante notar que muitas das empresas e cooperativas do agronegócio não desenvolveram ainda governança para se apresentar ao mercado, a fim de captar recursos. Dessa forma, as vantagens tributárias são relevantes para preparar o caminho para a ampliação das captações privadas de crédito.

No curto prazo, o cenário básico tende a favorecer os produtos nos quais o mercado interno tem maior peso no consumo. A continuidade da agenda reformista tende a manter o real forte, o que segura os preços das commodities em reais nos patamares atuais. Alguns produtos, cuja participação brasileira no mercado internacional não é grande o suficiente para influenciar os preços externos, sofrerão as consequências da moeda forte. A soja, o milho e o algodão enquadram-se nessa categoria.

Outros produtos, contudo, como o açúcar, o café e o suco de laranja não sentirão tanto o efeito da valorização do real, posto que seus preços internacionais tendem a subir em dólares com o fortalecimento da moeda nacional, dada a alta participação das exportações brasileiras no mercado mundial. Na verdade, para essas culturas, esse cenário tende a manter os insumos com preços mais baixos, além de promover a desalavancagem das empresas que detêm dívidas cotadas em dólares. Nesse sentido, as margens podem melhorar.

O cenário de recuperação do consumo interno, associado a preços relativamente mais baixos de grãos, ajuda a cadeia da pecuária, especialmente de aves, suínos, pescados, leite e ovos. É sempre bom ter presente que o consumo per capita de proteína animal caiu consideravelmente com a recessão vivida pelo País nos últimos três anos. A queda de quase 10% na renda do brasileiro teve efeito expressivo sobre o consumo interno de alimentos, principalmente os de maior elasticidade na renda.

Resta, por fim, falar acerca do padrão tecnológico no campo. Já se vai quase uma década, desde quando os preços dos alimentos inverteram sua tendência secular de queda. Foi no biênio 2007/2008 que os preços agrícolas começaram a subir, surpreendendo o mundo.
A inflação agrícola passou a ser assunto de destaque em todos os países, em especial naqueles importadores de alimentos. A história da agricultura mostrou que a resposta da humanidade à escassez foi criar formas de combinar insumos para elevar a produtividade agrícola. Não está sendo diferente no choque atual.

A inteligência humana tem trabalhado no sentido de desenvolver sementes mais produtivas, resistentes às pragas ou mais tolerantes à seca. Diversas empresas de fertilizantes ampliaram seus investimentos em maior capacidade produtiva e em produtos com menores perdas, que combinam nutrientes no grão, com nanotecnologia etc.

As máquinas agrícolas passaram a embarcar informações georreferenciadas que, combinadas ao sensoriamento remoto, permitem uma gestão aprimorada do sistema produtivo. A revolução na tecnologia da informação chega ao campo. O uso de “big data” para análise e predição de sistemas agropecuários permitirá novo impulso da produtividade. O amálgama de todas essas novas tecnologias resultará em expressivos ganhos de produtividade.

As excelentes safras colhidas no Brasil e no mundo nos últimos anos seriam resultado do clima perfeito, das novas tecnologias ou de ambos os fatores? Provavelmente, de ambos, mas é cedo para responder. Entretanto, não há dúvida de que está em curso uma nova revolução agrícola, que afetará as estimativas de produtividade da próxima década.

CARNE BOVINA

No Brasil, o ano de 2017 foi marcado por fortes turbulências e incertezas na pecuária de corte. Avaliando o ciclo pecuário, já era esperada a continuidade do movimento de queda do preço do bezerro iniciado em 2016. Afinal, a retenção de fêmeas, que teve início em 2014, elevou gradativamente a produção, o que, consequentemente, desvalorizou a cotação dos animais e pressionou as margens da atividade de cria. A resposta lógica dos produtores de bezerros foi dar início a um novo ciclo de venda de fêmeas, a partir do último trimestre de 2016, e que teve seguimento ao longo de 2017.

Porém, a repercussão negativa da Operação Carne Fraca em meados de março de 2017, seguida da delação da JBS dois meses depois, gerou grande pressão negativa no mercado de boi gordo, devido aos riscos associados à continuidade da operação de bovinos da empresa, líder do mercado e detentora de cerca de 25% do abate nacional. É também, praticamente, a única opção de venda do produtor em algumas regiões do País. Isso prejudicou diretamente o resultado final dos animais abatidos no segundo trimestre do ano, que haviam sido adquiridos com preços elevados dois anos antes.

Na medida em que o grupo controlador da JBS foi anunciando as vendas de alguns de seus ativos para fazer frente às multas aplicadas pelos casos de corrupção e conseguiu a rolagem de dívidas de curto prazo, a empresa voltou mais ativamente aos abates, ainda que sob a desconfiança dos produtores, o que fez com que precisasse pagar acima dos concorrentes na compra de gado. Com isso, o preço do boi gordo se recuperou, favorecido também pelas fortes exportações a partir da metade do ano.

O Ministério da Agricultura foi muito ágil em dissociar os casos de corrupção da questão da segurança alimentar e conseguiu retirar os embargos anunciados após a Operação Carne Fraca, amenizando preocupações dos grandes importadores, especialmente da China. Mesmo assim, a imagem do setor de carne bovina foi bastante prejudicada. Também contribuiu para isso o episódio dos problemas oriundos da reação à vacina contra aftosa, que levou ao fechamento do mercado norte- americano para a carne in natura brasileira, que havia sido aberto recentemente. Com isso, a expectativa de acesso a outros grandes importadores, caso do Japão e da Coreia do Sul, foi postergada.

A continuidade das operações das plantas controladas pela JBS no negócio de bovinos é muito relevante para o funcionamento normal da cadeia, dada a grande concentração, especialmente regional, da compra de gado e da falta de opção aos produtores. O futuro da empresa líder e, principalmente, da divisão de bovinos brasileira ainda é bastante incerto e essa é uma preocupação importante para o setor produtivo, pois, como ocorreu nas semanas subsequentes ao evento da delação, o mercado de boi gordo ficou bastante desestruturado sem a empresa operando normalmente.

Apesar disso, o Brasil continua se destacando como o maior exportador de carne bovina do mundo, em parte ajudado pela menor oferta dos concorrentes, mas também em razão de sua grande competitividade. O País segue com o maior potencial de crescimento na cadeia da pecuária de corte global, com elevada disponibilidade de área e potencial para continuar incrementando a sua produtividade.

No entanto, as fragilidades mostradas no episódio da Operação Carne Fraca têm de ser solucionadas para que possamos atingir mercados de países mais desenvolvidos, onde as exigências em relação à qualidade e à segurança dos produtos são extremamente valorizadas.
No mercado interno, esperamos que a recuperação mais forte da economia, prevista para 2018, favoreça a retomada do consumo, ajudando a dar maior sustentação aos preços do boi gordo.

Fonte: Fiesp.

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