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ONGs se aproximam de ruralistas e querem discutir

Em meio ao impasse político que domina a comissão especial de reforma do Código Florestal Brasileiro, três ONGs ambientalistas emitiram na semana passada um sinal para abrir o diálogo com a bancada ruralista ao apresentarem a proposta de criação de um "regime de transição" para os produtores rurais em situação ambiental irregular.

Em meio ao impasse político que domina a comissão especial de reforma do Código Florestal Brasileiro, três ONGs ambientalistas emitiram na semana passada um sinal para abrir o diálogo com a bancada ruralista ao apresentarem a proposta de criação de um “regime de transição” para os produtores rurais em situação ambiental irregular.

Ainda debatida por um grupo restrito de parlamentares, a proposta das ONGs descarta qualquer anistia de desmatamentos anteriores, mas prevê uma “moratória” de três anos para a recomposição ou compensação florestal de áreas de preservação permanente (APPs) e de reservas legais (RLs). Nesse período, os produtores poderiam recuperar 10% da área legal exigida, não seriam multados e nem teriam necessidade de averbar as áreas florestais.

“Podemos trazer os produtores para a legalidade sem alterar percentuais de reserva legal nem anistiar ninguém”, afirma o coordenador de políticas públicas do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o advogado André Lima – as ONGs Instituto Socioambiental (ISA) e The Nature Conservancy (TNC) subscrevem a proposta.

A “reforma fatiada” do Código Florestal prevê, ainda, o pagamento por serviços ambientais prestados nas áreas de recomposição e compensação florestal. “Nesses três anos de transição, os Estados fariam o ´dever de casa´ dentro de um amplo programa de regularização ambiental, como começa a ser feito em Mato Grosso, por exemplo”, afirma Lima.

Parte da bancada ruralista aceita debater as propostas, mas quer ampliar concessões ambientais. “As ONGs estão preocupadas com o avanço da proposta do governo. Me chamaram para conversar e alterar o relatório do projeto de lei. Quero saber qual é o caminho”, diz o deputado Marcos Montes (DEM-MG). Relator do Projeto de Lei n 6.424/2005, em tramitação na Comissão de Meio Ambiente, Montes quer garantir anistia a desmatamentos feitos até 2001.

Em meio ao sinal de boa vontade política das ONGs, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, usou na semana passada um tom bastante ameno na comissão especial do Código Florestal, na Câmara. Minc elogiou o agronegócio e as iniciativas da bancada ruralista em defesa dos produtores. “Não tenho preconceito com o agronegócio. Mato Grosso é um exemplo para o Brasil”, afirmou, inaugurando uma “nova fase” de relacionamento com os ruralistas. “A agricultura e o meio ambiente não podem ser inimigos. Nossas diferenças de ponto de vista encurtaram”, disse.

O ministro também reafirmou que o governo adiará o prazo de entrada em vigor do decreto de crimes ambientais, mas não confirmou o novo prazo. “Será arbitrado pelo presidente Lula”, disse.

Em concorrida intervenção, Minc afirmou que o atual Código Florestal dá prazo até 2031 para recuperar APPs e reservas legais. “São 22 anos a partir de hoje”, disse. Mas rejeitou a concessão de recursos para pagamento de serviços ambientais a todos os produtores. “Isso é para pequenos. Senão seria o mesmo que estender o Bolsa Família a todos”, comparou. E voltou a estender a mão aos ruralistas. “As APPs e RLs são um instrumento de sustentabilidade, e não para manter tudo intocado”, disse. Segundo ele, é possível desenvolver 12 atividades em APPs e RLs, de acordo com a legislação ambiental.

A “nova fase” de Minc permitiu ao ministro relacionar os “consensos” do governo federal para agradar aos ruralistas. Ele informou que está disposto a aceitar uma simplificação no processo de averbação das áreas, além de permitir a manutenção de “frutíferas e lenhosas” em encostas de morros. “Vamos trabalhar com legalização, mas não com novas áreas”, disse. Minc prometeu, ainda, legalizar as plantações de arroz em várzeas, ampliar o programa federal de regularização ambiental (Mais Ambiente) e fazer a compensação de RLs fora do Estado da devastação original, mas dentro do mesmo bioma e bacia hidrográfica.

A matéria é de Mauro Zanatta, publicada no Valor Econômico, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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  1. Luciano Andrade Gouveia Vilela disse:

    Como confiar num cara que muda o discurso como o sentido do vento? Ele é a raposa! Essa fala ” “A agricultura e o meio ambiente não podem ser inimigos. Nossas diferenças de ponto de vista encurtaram””, dá a impressão ao leitor que ele é o embaixador e único defensor do meio ambiente. No meu entender todo agropecuarista é defensor do meio ambiente e não dá pra ver a agricultura como não inserida no meio ambiente. A intervenção no meio ambiente para a produção agrícola não destrói o meio ambiente; ele continua lá só que modificado! Caso por má gestão ele seja destruído ou degradado, não se pode também praticar a agropecuária. Essa turma do Minc, agora se acha no direito de citar áreas antropizadas como áreas degradadas. No meu ponto de vista áreas degradadas são aquelas com erosões ou modificações permanentes que para a exploração agropecuária precise de investimentos mecânicos/quimicos/biológicos para trazer de volta a capacidade de ser novamente agricultada ou de sustentar o crescimento vegetal para no mínimo vegetação vegetação permanente de reserva.
    Não pedemos deixar pessoas comuns e muitas vezes sem conhecimento técnico se apoderarem de termos da língua portugesa forçando um entendimento tendencioso que não reflita a verdade. A agropecuária em si não degrada nada. O que degrada é a má adoção da tecnologia de exploração do ambiente ou a escolha errada de processo de exploração quando não leva em conta as limitações e formas de convivência com elas em cada gleba em questão.

    Luciano Vilela
    Engenheiro Agrônomo
    Araguatins TO

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