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O que pode acontecer daqui para frente após delações da JBS? Confira opiniões do setor

O que pode acontecer daqui para a frente após delações da JBS? Confira opiniões de vários representantes do setor:

“A gente ainda não sabe o tamanho da consequência dessa delação. Mas o setor já amargava os efeitos do consumo retraído de carne e foi pego de surpresa”, disse Fernando Saltão, CEO da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon).

De acordo com Saltão, a redução geral na escala de abates do grupo JBS causou excesso de oferta no mercado e o consequente achatamento de preços. No setor de confinamento de gado, desde o início do ano havia a perspectiva de aumento dos animais no sistema a partir do início de junho, basicamente por causa dos preços baixos do milho, o principal insumo na ração animal. O cenário agora é outro e o confinador já trabalha com a hipótese de redução da engorda de gado.

“No mercado futuro, os indicadores estão em baixa e muita gente não fecha a conta se confinar”, diz Saltão. A Assocon estima que no ano passado foram confinados abaixo de quatro milhões de animais.

Para Saltão,  uma das probabilidades é a JBS diminuir o tamanho, o que abriria espaço para outros frigoríficos. “Os estrangeiros já estão sondando o mercado.”

Há nomes fortes na indústria internacional da carne, como a americana Cargill, que está no Brasil desde 1965. No País, embora tenha feito alguns ensaios na área de confinamento de gado, ela jamais se aproximou do mercado frigorífico. No entanto, nos Estados Unidos mantém uma indústria forte, por exemplo com frigoríficos nos Estados do Colorado e do Kansas. Nos últimos dois anos, a empresa tem se mostrado disposta a investir. No início de 2016, somente para os Estados Unidos, a Cargill anunciou investimentos da ordem de US$ 560 milhões para reforçar o negócio de proteína animal.

Para Luciano Vacari, diretor da Associação dos Criadores de Mato Grosso (Acrimat), a JBS é um problema político e deve ser tratado como tal.

“Queremos que as indústrias que operam em Mato Grosso, e não apenas a JBS, tenham uma relação justa com o pecuarista”, diz ele.

De acordo com o executivo, nos dias que seguiram a delação, os frigoríficos se aproveitaram da situação para baixar o preço da arroba em cerca de R$ 6.

“Na Operação Carne Fraca houve um abalo de imagem. As exportações caíram, mas foram restabelecidas e hoje não temos nenhum embargo por conta disto. O que não podemos aceitar é que um problema político interfira no nosso negócio. O Brasil é o maior exportador de carne bovina mundo, e com ou sem JBS essa condição precisa ser preservada.”

A orientação da Acrimat aos pecuaristas é que a venda do gado seja feita com pagamento à vista, em vez dos tradicionais 30 dias de prazo. Além disso, até a tormenta passar, a entidade quer que o governo do Estado suspenda o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que hoje é de 7%, para o pecuarista abater os animais em outro Estado.

Para Carlos Viacava, pecuarista com fazendas de gado no interior paulista, a queda de preços do boi gordo foi geral. Mas, embora os rumos para a carne brasileira ainda sejam incertos, para ele é possível vislumbrar uma luz no fim do túnel.

“Poucos produtores correrão o risco de vender gado para a JBS, para receber com prazo de 30 dias, e poucos compradores confiarão na entrega de produto do frigorífico.”

O fato é que em razão dos desdobramentos da operação policial envolvendo a JBS, a indústria frigorífica, como setor, terá que se adaptar a uma nova situação de mercado que vai se consolidar somente daqui alguns meses.

Viacava afirma que no curto e médio prazos, o escândalo envolvendo a JBS é péssimo para as exportações. “O impacto está em toda a cadeia. Aos poucos, se a JBS deixar vazios no mercado, eles serão preenchidos.”

Segundo José Vicente Ferraz, diretor técnico da IEG-FNP, daqui para a frente é possível que empresas concorrentes da JBS sejam até beneficiadas com a ocupação de espaços que eventualmente ela venha a perder. No país, as principais são os grupos Marfrig e Minerva.

“Mas isto só ficará mais claro daqui alguns meses. Agora, qualquer opinião sobre os rumos para a JBS seria mera especulação”, diz Ferraz. Para ele, o tamanho do impacto negativo vai depender da capacidade de se isolar as empresas, as pessoas jurídicas, da figura dos delatores, as pessoas físicas.

“Quanto mais o mercado conseguir fazer esta segregação, menores serão os prejuízos.”

De acordo com Ferraz, passados os efeitos iniciais da turbulência é que se saberá qual a capacidade de financiamento que o grupo conseguirá mobilizar junto aos agentes financeiros e ao mercado.

Francisco Turra, presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), afirma que a delação premiada da JBS deixa uma lição para o setor, principalmente em relação aos cuidados que se deve ter em um mundo globalizado.

“Não pode haver nada errado, nem cometer deslizes, nem cometer alguma prática irregular, nem descumprir normas. Superamos as dúvidas em relação à operação Carne Fraca respondendo que, tecnicamente, não devíamos nada a ninguém e que agimos com toda correção. Temos que respeitar o consumidor, seja ele brasileiro ou de qualquer outro país.”

E agora, como fica o mercado? “O escândalo é dos donos da JBS e não há questionamento sobre a lisura da pecuária como setor”, conclui Turra.

Fonte: Dinheiro Rural, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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