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O produtor rural brasileiro está a salvo da crise mundial?

Atrevo-me a dizer que não, em um primeiro momento, talvez não em uma escala tão séria quanto os demais setores da economia, o produtor rural, do mundo todo, produz alimentos e se a atividade quebrar a humanidade morrerá de fome, entretanto, se os governos tão preocupados com a área financeira descurarem do setor a tragédia será desencadeada.

Atrevo-me a dizer que não, em um primeiro momento, talvez não em uma escala tão séria quanto os demais setores da economia, o produtor rural, do mundo todo, produz alimentos e se a atividade quebrar a humanidade morrerá de fome, entretanto, se os governos tão preocupados com a área financeira descurarem do setor a tragédia será desencadeada.

O produtor rural está na base de todas as conquistas humanas, é o alimento que está na base de tudo, a indústria pode, quando muito, industrializar a produção rural e o comércio levá-la até o povo, ou seja, comercializá-la.

Não sou economista e não entendo da matéria, todavia, procuro raciocinar diante dos fatos e o que tenho visto com relação às soluções para a crise não satisfazem minha análise pessoal, não padeço do mal que parece afligir, hoje em dia, toda a humanidade – a confiança cega.

Tenho acompanhado as soluções encontradas e aplicadas pelos países mais atingidos e percebo que todos trabalham e raciocinam em um único paradigma – a salvação do capital, pelo capital e para o capital.

Talvez seja a hora de raciocinar em outro paradigma – a origem do capital.

O capital é um mero conceito, é incolor (só ganha cor quando convertido em moeda) inodoro e insípido, atrevo-me a afirmar que possui apenas uma dimensão – o volume.

O capital é conseqüência da atividade humana, em substituição ao escambo (troca) e gera riqueza financeira e patrimônio, entretanto a sua origem envolve as necessidades e anseios humanos e o grande gerador de capital é o homem enquanto produtor e consumidor.

Sem o homem, o conceito de capital não existiria, o grande erro de avaliação é achar que o mundo, dito capitalista, é capitalista, na verdade ele é “clientelista”, de nada adiantaria o “homem produtor” produzir se na outra ponta do processo não existisse o “homem consumidor”, o cliente, para adquirir a produção e consumi-la.

As ações desenvolvidas para solucionar a crise foram destinadas aos intermediários do processo – o setor financeiro, ou seja os bancos, que administram, financiam e dão crédito ao cliente – e o resultado foi pífio, o perfil da crise pouco foi alterado.

O alvo foi errado, por que digo isso?

A crise iniciou-se no mercado imobiliário americano, mais especificamente na atividade bancária hipotecária. O cliente americano comprou imóveis e deu como garantia o próprio imóvel adquirido e, de repente, perdeu a capacidade de honrar o compromisso hipotecário, ou seja o homem consumidor, cliente, não conseguiu, enquanto homem produtor de capital, produzir o suficiente para pagar suas contas.

Por não ser especialista e por não querer ser mais entediante do que estou sendo, o assunto é árido e chato, não vou aprofundar-me nos motivos que tornaram o cliente inadimplente e por mais que se explique voltamos, inevitavelmente, ao fato de que, por um motivo ou outro, o cliente perdeu o seu poder de compra e de pagamento dos débitos.

O fato me faz lembrar de uma historinha, perdoem-me a parábola:

Certo dia, durante uma guerra, o comandante perguntou a um soldado:

– Soldado, porque você não atirou contra os inimigos?

– Por 3 mil razões meu comandante, respondeu o soldado, a primeira é que acabaram-se as balas, o senhor quer que eu diga as outras?

É o caso, o cliente que sustenta a maior economia do planeta perdeu a sua capacidade de pagamento e não pode mais sustentá-la, o processo espalha-se por todo o planeta.

O governo americano, ainda no paradigma errado de que quem produz o capital são as empresas, socorreu-as com bilhões de dólares, os demais governos de países ricos seguiram o exemplo e o quadro da crise pouco alterou-se. O negócio dos bancos é o capital, eles comercializam capital em forma de créditos, contudo, só dão crédito a clientes com capacidade de pagamento e não têm débitos pendentes. Pelo quadro apresentado pela crise, os clientes mais rentáveis ficaram inadimplentes e os bancos receberam dinheiro para saldar seus compromissos a curto prazo, entretanto, perderam os clientes que os mantinham e possibilitavam o pagamento de seus compromissos a médio e longo prazo.

Os bancos não geram capital, eles administram e comercializam o capital gerado pelos clientes, no momento que perdem este capital inicia-se o processo de “autofagia”, eles começam a se “auto devorar” e não existe milagre na atividade.

Os bancos receberam injeção de capital público, ou seja, dinheiro dos clientes, afinal os clientes dos bancos são os mesmos que geram capital para os governos (outra organização que não gera capital e só administra o bem público, do cliente) através dos impostos.

Os bancos receberam capital e, no momento, estão vivendo o que chamo de a “melhora da morte”, o que eles vão fazer ? Conseguir novos clientes? Onde?

Enquanto os bancos recebem capital, os clientes continuam quebrados/inadimplentes, sem capacidade de compra ou de pagamento e, esses mesmos clientes, são os clientes das demais empresas do mercado, me parece que estamos vivendo o momento do início de um “efeito dominó”.

Qual será a próxima pedra de dominó a cair? Os cartões de crédito? A educação privada? A agricultura? A pecuária?

As montadoras de veículos automotores já foram atingidas, quem será o próximo?

Espero que o governo brasileiro não cometa o mesmo erro dos demais. Quem deve ser salvo é o consumidor, o cliente, e, aí sim, vamos assistir em nosso país uma corrida dos clientes aos bancos, cartões de créditos, às faculdades, às empresas, etc, não para retirada de dinheiro ou justificar débitos e sim para pagar e fazer novos negócios.

Não deixa de ser preocupante injetar dinheiro público no consumidor. Ficará sempre a preocupação, mesmo com pagamento a longuíssimo prazo, se ele pagará o débito ou não.

Caso o governo decida salvar o consumidor, não deve se preocupar com adimplência ou não, afinal de contas o capital utilizado será do próprio cliente.

Cheguei ao final deste artigo com a sensação de que a minha ignorância em matéria de economia pesa muito contra o que escrevi, talvez a sugestão apresentada não seja correta, meu raciocínio esteja errado ou não seja fácil de ser operacionalizada, mas, tenho a consciência que nada é fácil nesta vida e que a humanidade, principalmente os brasileiros, já enfrentou e venceu desafios piores.

Não posso assistir passivamente uma crise mundial tão séria, tenho que tomar alguma atitude mesmo que seja somente escrevendo.

Uma coisa é certa, o governo tem que olhar com carinho para o produtor rural brasileiro – se ele quebrar, o Brasil sofrerá uma situação de fome e anarquia jamais testemunhada antes.

0 Comments

  1. Antonio Pereira Lima disse:

    Parabéns pelo artigo, a sua historinha mostra muito bem porque a pecuária de corte não será afetada por esta crise, existem 3 mil razões, a primeira é que não tem boi, precisa dizer as outras?

    Assim como não existe momentos bons em que todos ganham, não existe crise que todos perdem.

    Um abraço

  2. Flávia Roberta Passos Ramos disse:

    Creio que o senhor Gil está cheio de razão, precisamos mudar a visão das coisas. O governo, se quiser salvar a produção rural, terá que refinanciar e repactuar as dívidas dos produtores rurais, além de criar subsídios para os insumos agrícolas e pecuários.

    O artigo tem razão, o governo não precisa se preocupar com a inadimplência, o dinheiro é do povo mesmo.

  3. Evádio Aloísio Kuhn disse:

    Dr Gil Reis a sua história está corretissima para o agricultor brasileiro.

    Também temos 3.000 razões: a primeira, não temos renda (acabaram as balas), no entanto estão salvando as instituições financeiras, ou seja vamos sucumbir.

    A MP do governo que está aí, teoricamente para salvar a agricultura brasileira é o modelo do fuzil ultrapassado e sem munição. Por um tempo melhora os ativos do banco, mas não tem capacidade de gerar renda para a sustentabilidade do agronegócio, tomam o nosso dinheiro para eles. Deus nos livre da fome!

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