Mercado Físico da Vaca – 30/08/10
30 de agosto de 2010
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1 de setembro de 2010

O FSH é capaz de promover melhora da taxa de prenhez em vacas Nelore inseminadas em tempo fixo?

A busca pela melhora da taxa de prenhez de vacas de corte é uma preocupação constante tanto para produtores, quanto para os técnicos envolvidos na cadeia de produção de bovinos. Assim, qualquer técnica, seja ela de manejo ou farmacológica, que possibilite a melhora do desempenho reprodutivo dos animais é altamente desejável.

A busca pela melhora da taxa de prenhez de vacas de corte é uma preocupação constante tanto para produtores, quanto para os técnicos envolvidos na cadeia de produção de bovinos. Assim, qualquer técnica, seja ela de manejo ou farmacológica, que possibilite a melhora do desempenho reprodutivo dos animais é altamente desejável. Entretanto, para que tais técnicas sejam aplicáveis é importante que apresentem praticidade e baixo custo.

Dentre as técnicas farmacológicas de manipulação do ciclo estral para a realização da inseminação artificial em tempo fixo (IATF), existem aquelas que visam um incremento no crescimento folicular/luteal para melhorar as taxas de prenhez. O fármaco mais utilizado e estudado para essa finalidade é a gonadotrofina coriônica eqüina (eCG). Diversos estudos utilizando a eCG têm demonstrado aumento nas taxas de prenhez em animais lactantes no pós-parto precoce (30 – 45 dias), baixa condição corporal e que apresentam alta incidência de anestro. Porém, atualmente, apenas uma empresa no Brasil detém a venda deste produto no mercado. Além disso, a pressão de alguns países em proibir a utilização deste tipo de produto nos animais de produção vem aumentando ultimamente. Assim, a busca de alternativas ao uso da eCG é algo que merece atenção.

Uma das alternativas ao uso da eCG é o a substituição deste fármaco pelo FSH (hormônio folículo estimulante). A idéia é que com esse fármaco se consiga promover um mesmo efeito e similar resultado àquele obtido com a eCG. Esta ferramenta já foi discutida em um artigo anterior: “O FSH é capaz de promover a mesma eficiência da eCG em vacas Nelore inseminadas em tempo fixo?”, no entanto, devido ao grande debate sobre este tema na seção de “cartas do leitor” e a obtenção de novos dados após a edição do último artigo, iremos apresentar a compilação de alguns resultados obtidos em estudos conduzidos por Universidades brasileiras e já publicados em congressos.

O protocolo base utilizado em todos os estudos foi o uso de um dispositivo de progesterona associado ao benzoato de estradiol no início do protocolo. No momento da retirada do dispositivo, todos os animais foram divididos homogeneamente para receber ou não a aplicação de eCG ou FSH nos diferentes grupos experimentais.

Segue abaixo uma tabela com os dados de taxa de prenhez destes estudos.

Tabela 1. Taxa de prenhez de vacas de corte submetidas a diferentes protocolos para inseminação artificial em tempo fixo com ou sem a administração de eCG ou FSH

Ao analisarmos estes dados, podemos verificar que nos três primeiros estudos mostrados na tabela acima, as taxas de prenhez com o uso da eCG foram superiores àquelas obtidas com o tratamento com o FSH. Porém, dois dos estudos demonstraram que o FSH é tão eficiente quanto a eCG. De forma geral, os dados compilados (última linha da tabela 1) evidenciaram que a taxa geral de prenhez foi semelhante entre os grupos.

Estes dados estão completamente de acordo com os relatos de campo, já que os resultados têm apresentado as mesmas variações acima descritas. Devemos lembrar que, de forma bastante semelhante, no início dos estudos utilizando a eCG houve uma grande variação de resultados. O aprofundamento desses estudos evidenciou, posteriormente, que a eCG apresenta resultado positivo, principalmente em animais lactantes no pós-parto precoce, com baixa condição corporal e que apresentam alta incidência de anestro. Quanto ao uso do FSH, os diversos grupos de pesquisa têm demonstrado que uma possível explicação para a variação de resposta ao tratamento com esse hormônio seja o grau de profundidade de anestro em que os animais se encontram durante o estudo.

Dos cinco trabalhos citados acima, dois mensuraram o diâmetro do maior folículo no momento da aplicação ou não de eCG/FSH e no momento da IATF, além de registrar a taxa de ovulação destes folículos (Gráfico 1). No estudo de Sales et al. (2009), foi notado que apenas a eCG aumentou o a taxa de crescimento folicular entre o dia da sua aplicação e a IATF, o diâmetro do maior folículo na IATF, a taxa de ovulação e, conseqüentemente, a taxa de prenhez. Já no estudo de Martins et al. (2010), não foi notado aumento dos diâmetros foliculares, mas a taxa de ovulação foi superior nos grupos tratados com eCG ou FSH. Com base na observação dos diâmetros foliculares encontrados pelos pesquisadores, acredita-se que um maior número de animais do estudo de Sales et al. (2009) apresentavam-se em anestro mais profundo que os animais de Martins et al. (2010).

Gráfico 1. Taxa de ovulação de vacas de corte lactantes tratadas com eCG, FSH ou sem tratamento adicional (Controle) no momento da retirada do dispositivo intravaginal de progesterona (Adaptado de Salles et al., 2009 e Martins et al., 2010)

Assim, podemos concluir que tanto a eCG quanto o FSH podem melhorar a taxa de prenhez de vacas submetidas a IATF, porém, ao se utilizar o FSH os critérios de seleção dos animais a serem tratados devem levar em consideração se os animais estão ou não em anestro profundo (diâmetros foliculares que não ultrapassam 8 – 9 mm de diâmetro). Entretanto, o uso da eCG dispensa essa classificação.

Bibliografia

Lima LA, Pinheiro VG, Cury JR, Barros CM. Addition of FSH, in contrast to eCG, does not increase pregnancy rates in anestrous Nellore (Bos Indicus) cows treated with fixed-time ai protocol. Reproduction, Fertility and Development 2010, Vol 22 (1), pp. 170 [abstract].

Sá Filho OG, Meneghetti M, Peres RF, Lamb GC, Vasconcelos JL. Fixed-time artificial insemination with estradiol and progesterone for Bos indicus cows II: strategies and factors affecting fertility. Theriogenology. 2009; 72(2):210-8.

Sales JNS; Crepaldi GA; Girotto RW; Baruselli PS. Effect of FSH and eCG on follicular dynamic and pregnancy rate in fixed-time AI protocol in anestrous beef cows. In: VIII Simposio Internacional de Reproducción Animal, 2009, Córdoba. Anais do VIII Simposio Internacional de Reproduccion Animal – IRAC2009, 2009[abstract].

Santos ICC, Martins CM, Valentim R, Baruselli PS. Pregnancy rate in FTAI anestrous Bos indicus cows treated with a single dose of FSHp (Folltropin1). Acta Sci Vet 2007;35(Suppl 3):1151 [abstract].

Martins CM, Valentim R, Bombonatto, DS, Santos ICC, Baruselli PS. Efeito do FSH e do eCG na dinâmica folicular e taxa de prenhez de protocolos de IATF em vacas zebuínas em anestro. Acta Sci Vet 2010;38(Suppl 2):731 [abstract].

0 Comments

  1. Rodrigo Ribeiro Cunha disse:

    Anderson, acho que existem alguns pontos a serem observados e comparados para ficar mais claro.

    1- comparação de grupos vacas paridas 35-60 dias com ecc acima de 2,5 apresentando folículos menores que 8mm no D0 e sem CL ( ecg, fsh e controle )
    2- comparação de grupos vacas paridas 35-60 dias com ecc acima de 2,5 apresentando folículos maiores que 8mm no D0 e sem CL ( ecg, fsh e controle )

    Acompanho sempre seus artigos e realmente são de muita importância. Caso tenha feito ou saiba de um experimento sobre o uso do mesmo protocolo em diferentes condições ovarianas no D0 em vacas primíparas nelore paridas peço que me envie.

    Att
    Rodrigo

  2. Henderson Ayres disse:

    Prezado Rodrigo Ribeiro Cunha,

    muito obrigado pelos comentários. A respeito das comparações sugeridas por você, eu não as posso fazer, uma vez que isso não foi apresentado. Assim, eu não posso discutir sobre este tópico. Quanto a novos resultados, ainda não vi nenhum experimento novo com esta abordagem.

    Att
    Henderson.

  3. valdecir juiz ayres junior disse:

    Henderson e Roberta , parabéns pelo artigo achei muito interessante, pois esse é um tema que esta sendo muito discutido e questionado aqui em Rondônia.

    Att
    Valdecir

  4. Ricardo de Macedo Chaves disse:

    Henderson e Roberta , parabéns pelo artigo achei muito interessante, pois esse é um tema que esta sendo muito discutido e questionado nas fazendas que utilizam a IATF. Realmente devemos analizar o maior número de dados apresentados nos artigos de pesquisa para podermos orientar bem o produtor. Tem uma grande importância o EC das fêmeas trabalhadas e a presença de folículos em vários estágio de crescimento.
    Att,
    Ricardo

  5. Henderson Ayres disse:

    Prezado Valdecir Juiz Ayres Junior e Ricardo de Macedo Chaves.

    Muito obrigado pelas ponderações de ambos.

    Att,
    Henderson

  6. EVANDRO ALMEIDA ROSA disse:

    Parabens pelo artigo! Devemos conhecer melhor essa tecnologia para divulgarmos cada vez mais no campo.

  7. Ronaldo Mendonça dos Santos disse:

    Parabéns pelo trabalho!

    Quantas U.I de FSH foram utilizadas no experimento?

    Att.,
    Ronaldo.

  8. Henderson Ayres disse:

    Prezado Ronaldo mendoça dos santos
    neste trabalhos, a dose “padrão” de FSH foi de 10 mg de FSH.
    Muito obrigado,
    Henderson,

  9. Thiago RoxoRosas disse:

    Henderson e Roberta ,  trabalhamos na nossa região com  larga escala  de gado  e sempre uso o ECG no protocolo , este ano que passou ja foi um problema achar o ECG para comprar separado onde as empresas querem empurrar ele no protocolo no ato da venda e ate mesmo pela falta dele no mercado devido ao seu meio de produção ,com isso  trabalhos realizados  com FSH como este que vcs promoveram é de suma importancia para a reprodução eu utilizei FSH em um lote na estação 2009/2010 e o resultado foi satisfatorio mais nada de expetacular com isso acho que deve ser feito mais trabalhos em larga escala pois eu como autonomo tenho trazer segurança no resultado ao meu cliente e para mim mesmo.Parabéns pelo trabalho

    ATT

    Thiago  

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