Oferta de boi a pasto começa a aparecer e frigoríficos tentam recuar os preços
6 de dezembro de 2007
Indicador Esalq/BM&F boi gordo à vista x equivalente físico
10 de dezembro de 2007

Novas diretrizes do DIPOA, Circular nº 898

Infelizmente as coisas estão ficando cada vez mais difíceis para quem quer produzir para exportação dentro do Sisbov. Para produzir bovinos destinados para Europa o produtor tem que investir muito tempo e dinheiro em trabalho, brincos e serviços de rastreabilidade. Além disto, terá que enfrentar todas as restrições de mercado, trabalhando somente com animais já rastreados e deixando de lado sistemas de produção mais eficientes.

Infelizmente as coisas estão ficando cada vez mais difíceis para quem quer produzir para exportação dentro do Sisbov. Para produzir bovinos destinados para Europa o produtor tem que investir muito tempo e dinheiro em trabalho, brincos e serviços de rastreabilidade. Além disto, terá que enfrentar todas as restrições de mercado, trabalhando somente com animais já rastreados e deixando de lado sistemas de produção mais eficientes.

Ainda que no final das contas o produtor e a indústria tenham optado por fazer todo este esforço em busca de uma melhor remuneração, todo o investimento poderá ser perdido por uma falha simples. Tão simples como um animal que perde seu brinco no trajeto entre a fazenda e o curral do frigorífico. E o que é pior. Se esta falha acontecer no final do processo todo o trabalho feito na fazenda de produção é perdido.

Vale a pena analisar o exemplo a seguir:

• Produtor pretende confinar 10 mil animais para abate destinado à Europa.
• Restringe sua compra à área habilitada para Europa, pagando cerca de R$ 2,00 adicionais por arroba de boi magro para engorda.
• Como são 12 arrobas x R$ 2,00 = R$ 24,00 de custo adicional para ficarno sistema Europa.
• Investe mais R$ 3,00 em brincos e serviços prestados por terceiros para incluir o animal na Base Nacional de Dados.
• Normalmente, dado o volume com que trabalha, tem que contratar novo funcionário para cuidar dos dados de rastreabilidade, mudar sua rotina de embarques e manejo do gado, necessitando gastar pelo menos mais R$ 3,00 por animal.
• Como vai produzir para Europa o produtor é obrigado a usar um sistema nutricional menos eficiente que acaba por incrementar seus custos em R$ 20,00 por boi terminado.
• no final das contas o produtor terá investido R$ 50,00 adicionais por animal para se manter dentro das exigências do Mercado Europeu.

Como o premio por arroba de boi rastreado e habilitado para Europa normalmente é R$ 3,00 e os bois atingem uma média de 18 arrobas no ponto de abate a remuneração adicional chega a R$ 54,00 por animal. Apesar de positivo, este premio é muito pequeno e não seria atraente caso exista risco de não se concretizar. Bastaria uma desclassificação de 8% dos animais enviados para o abate para o trabalho não ter valido a pena.

Ainda assim a maioria dos confinadores, mantém seus rebanhos enquadrados no Sisbov. Pode ser por pressão da indústria que associa a exigência de rastreabilidade até com mercados absolutamente independentes da Europa, ou por acreditar que pode gerenciar melhor os custos listados acima, ou por um desejo simples de produzir o melhor mesmo que isto não se traduza em margens maiores. Contudo se o prêmio extra não era grande, na outra mão o risco de perder dinheiro era reduzido.

Com a publicação da nova circular o risco ficou insustentável. Voltando ao exemplo anterior, o produtor em questão chegaria ao momento do abate com cerca de 500 mil reais em custos extras relacionados ao “esforço Europa” acumulados em seu sistema de produção. Todo este dinheiro deveria ser recuperado e gerar um lucro extra de 40 mil reais no abate caso o produtor tenha sucesso na habilitação para Europa de seus bois.

Com a nova circular a coisa mudou. Se no primeiro lote enviado ao abate um boi perder sua identificação e o SIF no frigorífico aplicar a instrução oficial, não apenas o animal será desabilitado, mas também todo lote que chegou ao frigorífico. Por fim todo o rebanho fechado no confinamento do produtor ficará impedido de ser enviado ao abate por 90 dias, o que equivale a desabilitar todo o gado, pois os prazos de confinamento não ultrapassam 75 dias.

Quem é que vai querer correr este risco agora? Alguém se habilita? Mas como era antes?

O SIF aceitava que o frigorífico separasse os animais desabilitados (sem brinco, por exemplo) na chegada ao curral da indústria, fazendo dois lotes com o gado que veio da fazenda, um de animais habilitados (a maioria) e outro de animais desabilitados (um ou outro sem brinco ou impugnado).

No dia seguinte, conforme regra sempre aceita pelo SIF, o frigorífico organiza o abate dos animais habilitados para o inicio do trabalho e, em seguida, abate os desabilitados, separando todas as carcaças desde a entrada nas câmaras de resfriamento e em todo o processo industrial. Ou seja, apenas o animal desabilitado é que perdia sua condição de exportável para Europa.

Pois é, vai ficar cada vez mais difícil achar bois habilitados para Europa. Vamos ter que avaliar, junto com a Indústria, o valor adicional real que esta carne exportada para Europa produz e estudar formas de remunerar adequadamente os agentes que investiram e correram os riscos para chegar a este produto cada vez mais raro.

Faça o download da Circular nº898

0 Comments

  1. Humberto de Freitas Tavares disse:

    Cumprimentos ao Fábio pelo excelente artigo. Saúdo também a mudança de opinião em relação aos comentários de agosto no seu blog.

    Muita gente deixava de se manifestar, ou de dizer “esse trem não presta” com medo de cutucar a onça com vara curta. Mas agora a situação chegou a um ponto insustentável.

    Esta circular 898 foi a pá de cal sobre o defunto Sisbov.

    O DIPOA está errado? Não, apenas transforma em instruções operacionais a norma existente. E os pecuaristas que se explodam.

  2. Otavio Cesar Bucci disse:

    Caro Fábio não sou daqueles que acham que o Sisbov é perfeito, acho que precisa de aperfeiçoamentos que deverão ser feitos no decorrer de sua implantação, mas acho também que ele é irreversível, pois vários mercados o exigem, acho que esta pressão contra o novo Sisbov é orquestrada e tende a aumentar com a proximidade da data limite para adesão. Mas qual é a alternativa? Os representantes da pecuária participaram de sua elaboração, acabar simplesmente com novo Sisbov seria premiar a pecuária arcáica, e penalizar quem investe em produção de carne com competência e qualidade, por isto acho que muita coisa vai mudar no novo Sisbov, mas seguramente ele não é difunto.

  3. Fabio Martins Guerra Nunes Dias disse:

    Humberto,

    Um prazer receber sua mensagem. Sempre lúcido e atento.

    Não mudei de opinião. Continuo achando que aquele era o melhor momento do Sisbov. Afinal de contas foi a única vez que vi toda a cadeia parecia empenhada em fazer o SISBOV andar e não “dar mais um jeitinho” nele. Infelizmente não deu certo e a missão da UE não aprovou o que viu. Este é o fato.

    Como a situação não permite mais negociações ou adiamentos o DIPOA resolveu baixar o “cumpra-se”. Não havia necessidade de maiores explicações, já que a única novidade, é que não tem mais jeitinho.

    Infelizmente é só isso, acabou o jeitinho e por isso ficamos todos chocados. O que todo mundo já sabia é que o Sisbov é muito difícil de atender, pelo menos se for para fazer certo mesmo. Mas todos aceitavam como inevitáveis as voltinhas que vivíamos aplicando no sistema.

    Apesar de concordar com você, aceitar seus argumentos e saber que a maioria de nós deve segui-lo, nós da ASSOCON tomamos a decisão de tentar cumprir a circular 898. Não vamos nos auto-embargar, pelo menos não como categoria.

    Acreditamos em uma “solução de mercado”. Que aplique-se o Sisbov e que falte produto. Depois disso é possível que os europeus comecem a pensar sobre a real necessidade destas exigências, ou que os Frigoríficos percebam a necessidade de convencer produtores a aderir ao Sisbov de uma forma mais engajada, entendo o que se passa na fazenda.

    Um abraço,

    FD

  4. Fabio Martins Guerra Nunes Dias disse:

    Caros,

    Esta semana pedimos ao Secretário Inácio Koertz que analise o problema do transporte. Os produtores não aceitam ser resposabilizados por brincos perdidos no transporte. Nossa responsabilidade cessa no embarque. O pessoal do MAPA vai analisar.

    Como precaução à Assocon esta sugerindo aos confinadores que elaborem recibo de embarque dos animais explicitando a condicao de 100% brincados para ser assinado pelo motorista.

    Também deixamos claro que vamos pedir a inclusão de níveis mínimos de tolerância no Sisbov. Afinal de contas, se até avião cai por que não cairia um brinco bovino? Mas reconhecemos que o momento não é este, agora é fazer ou não fazer, quem conseguir, parabéns. O restante, não minta, por favor!

    Por outro lado temos que cobrar punições e rigor para quem burla o sistema. Certificadoras e fazendeiros flagrados devem ser multados, suspensos e, se for o caso, banidos do sistema de exportação para Europa. Estas punições devem ser imediatas e públicas, evitando a sensação de impunidade vigente.

    Um abraço,

    FD

  5. Humberto de Freitas Tavares disse:

    A alegação do sr. Otavio Bucci, de que os representantes dos pecuaristas participaram da elaboração do Sisbov tem um fundo de verdade, mas precisa ser desmistificada.

    Deles, os únicos que se preocuparam com os pés de barro do Sisbov foram os representantes da SRB. Cesário Ramalho publicou na época, na home Page da SRB, o memorável artigo “Rastreabilidade ou … a arte de complicar as coisas simples”.

    Pedro de Camargo Neto, pecuarista experiente e dono de acurada visão de longo prazo, embora já não fosse mais presidente da Rural, também se manifestou, na mesma linha, pela imprensa e pelo Canal do Boi.

    Jamais saberemos o que se passou nos bastidores. Mas o desenrolar dos fatos indica que várias destas entidades precisariam ter-se declarado impedidas. Principalmente levando em conta que o Mapa fez desta questão um verdadeiro cavalo de batalha.

  6. Anderson Carneiro Polles disse:

    Prezado Fábio Dias

    Parabéns pelo excelente texto, expressa um posicionamento adequado diante a interpretação ao pé da linha das normativas.

    Relembrando, continuamos a girar em falso na aplicação do modelo de rastreabilidade e certificação.

    O mais racional não seria bonificar os produtores que atingissem maior grau de habilitação de animais para o abate e, o menor nível possível e insignificante de percas de brincos e consequentemente desabilitação de animais?

    São esses meandros e alinhas das normativas que devemos tomar cuidado ao ler e interpretar.

    Nem tudo é perfeito, mas, devemos aprender a fazer o possível e, ao assinar os contratos (contratos diferenciados para a exportação), calcular os riscos e embuti-los nas margens de comercialização.

    Aguardo uma nova edição da Semana de Zootecnia em Pirassununga para conversarmos, juntos com o Viacava.

    Saudações
    Anderson Polles

  7. Antonio Minoro Tachibana disse:

    Srs.

    No ítem III, do parágrafo 2, Art. 60, Capítulo VII – Da Movimentação de Bovino e Bubalino na BND, da Instrução Normativa n.17, de 13/07/2006, consta:

    III – identificação e DESCLASSIFICAÇÃO DOS ANIMAIS nos quais foram observadas não conformidades durante a aplicação dos procedimentos na calha de sangria.

    Isto posto, fica a pergunta:

    Será que um ofício circular de um departamento, pode ter força revogatória de uma Instrução Normativa Ministerial?

    Entendo que somente uma Normativa, pode revogar outra.

    Produtores e Entidades Certificadoras, analisem isto, quando tiverem lotes inteiros sendo desclassificados por conta de apenas um animal em não conformidade.

    Att.

  8. Anderson Carneiro Polles disse:

    “Amigos” la vai a pergunta. Quais não conformidades?

    III – i. Animal sem brico de indentificação com marcas de perfuração na orelha.

    III – i.i. Animal sem bricnco de identificação com marcas de perfuração na orelha e vestígios de tatuagem.

    III- i.i.i. Animal sem brinco de identificação e sem perfuração e sem vestígio de tatuagem.

    III – i.v. Quem se Habilita?

    Bem lembrado nobre colega Antonio Minoro Tachibana.

    Vamos as entrelinhas da Normativa.

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