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“No Brasil, a salvação da biodiversidade, do meio ambiente e da economia está na agropecuária”, diz pesquisador da Embrapa

O BeefPoint realizou uma entrevista com o chefe geral da Embrapa Monitoramento por Satélite, Evaristo de Miranda, doutor em Ecologia. Confira a entrevista abaixo:

BeefPoint: Em entrevista recente, você falou sobre a ocupação de terras no Brasil, dizendo que não há mais terras disponíveis. Há estudos/dados disponíveis ao público da Embrapa que mostram essa ocupação de terras na atualidade?

Evaristo: Sim. Isso explica o aumento do preço da terra. Os dados integram um Sistema de Inteligência Territorial Estratégica da Agropecuária. Totalizamos até final de 2016 mais de 37% do território nacional legalmente atribuído para terras indígenas, unidades de conservação, assentamentos agrários e quilombolas. Existem ainda algumas terras, mas com pouca viabilidade por questões de isolamento, falta de logística, qualidade dos solos etc. E se for na Amazônia, só é possível explorar 20%. O resto deve ser destinado à reserva legal. Essas informações e os mapas estão no site do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (GITE) da Embrapa (www.embrapa.br/gite).

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BeefPoint: Você também diz que a única saída para o crescimento agrícola atualmente é o crescimento vertical, com poucas possibilidades de crescimento horizontal. O mesmo deve valer para a pecuária, já que não há terras disponíveis e o custo da terra está alto. Se na agricultura, há a necessidade de irrigação, e na pecuária, quais as tecnologias disponíveis para um crescimento vertical?

Evaristo: Neste momento a integração lavoura-pecuária-floresta, integral ou parcial, adaptada as diferentes regiões e tipos de propriedades, é uma excelente saída para baratear os custos de produção, ampliar a capacidade de suporte das pastagens, melhorar o bem estar animal, crescer nos índices de ganho de peso com menos problemas sanitários e nutricionais.

Mas existem outras formas de integração e verticalização da produção, com diversas inovações tecnológicas disponíveis, incluindo a valorização de resíduos da agricultura. A irrigação também vale em certos casos na pecuária, principalmente no semiárido nordestino.

BeefPoint: Há chance de crescimento horizontal da agricultura em áreas de pecuária com baixa produtividade? Nesse caso, como manter a produtividade pecuária em menor área?

Evaristo: Sinceramente, eu sempre duvidei desse discurso simplista de que se você dobra a produtividade das pastagens, libera metade da área para a produção de grãos. Em São Paulo, em Minas Gerais e no Mato Grosso, o que eu tenho visto não é bem isso. Quando dobra a produtividade das pastagens, o pecuarista dobra o rebanho! Pecuarista não se torna agricultor da noite para dia, nem vice versa.

Acho que parte da solução está nas diversas formas de integração lavoura-pecuária-floresta e na melhoria da macrologística para agregar ganhos de competitividade ao setor. Melhorar a logística pode significar no curto prazo ganhos mais significativos e amplos em competitividade do que o uso de determinadas inovações tecnológicas.

BeefPoint: Você informa que o Brasil possui 61% de vegetação nativa preservada. Há algum outro país no mundo que tenha uma área comparável a essa?

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Evaristo: Desconheço. A Europa só preserva 0,3% de suas florestas originais. O que tem de floresta por lá é plantada e totalmente domesticada, sem ursos, lobos, linces e outros animais típicos dos ecossistemas florestais. A Embrapa Monitoramento por Satélite baixou todos os dados do CAR. Estamos trabalhando essa informação de forma agregada.

Em S. Paulo, de longa história agrícola, áreas de preservação permanente, reserva legal, vegetação excedente, ambientes lacustres e palustres, em 302.337 imóveis rurais cadastrados, totalizam 3.795.250 ha ou 15,3% do estado. Ou seja, a área total preservada nas propriedades rurais em S. Paulo é maior do que todas as unidades de conservação e terras indígenas existentes juntas.

No Mato Grosso, é quase o dobro. Divulgaremos em breve os resultados agregados do CAR para estados, municípios e cadeias produtivas. E com análises e mapas detalhados das áreas de proteção e preservação nos imóveis rurais e do custo decorrente ao produtor, sem contrapartida da sociedade.

BeefPoint: Qual papel das áreas de pastagens na preservação da vegetação nativa?

Evaristo: A pecuária, através de diversos sistemas de produção e exploração, estáveis, históricos e sustentáveis, convive com a vegetação nativa e preserva a biodiversidade em mais de uma centena de milhões de hectares na pampa, no Pantanal, na caatinga, nos cerrados e nos campos de altitude. O GITE está organizando um projeto sobre os territórios da pecuária no Brasil, através do qual haverá a contextualização e a quantificação da contribuição da pecuária na preservação da vegetação nativa no Brasil. Conforme dados iniciais indicam e ao contrário do que alguns des-in-formados carnavalescos afirmam, no Brasil, a salvação da biodiversidade, do meio ambiente e da economia está na agropecuária.

1 Comment

  1. ANTONIO CARLOS MOREIRA disse:

    A sustentabilidade ambiental do Brasil e o desenvolvimento sócio-econômico passam, necessariamente, pelas lavouras e campos de criação do país afora. Que os novos, sensatos e inteligentes governos que surgiram após o Brasil ser passado a limpo entendam este fato.

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