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Meta do Minerva é se consolidar como uma empresa sul-americana

No dia 6 de junho, o anúncio de que o grupo Minerva Foods comprou as operações de carne bovina da JBS na Argentina, no Uruguai e no Paraguai causou espanto no setor do agronegócio.

A investida sobre esses ativos, realizada pela família Vilela de Queiroz, controladora do Minerva Foods, foi algo incomum para o seu estilo de fazer negócios – ela sempre foi identicada como uma empresa conservadora na tomada de decisões e cautelosa em seu projeto de expansão.

Do Minerva Foods não se ouvia uma única palavra de seus controladores. Quase um mês depois, no dia 29 de junho, o presidente executivo da companhia, Fernando Galletti de Queiroz, 49 anos, recebeu a reportagem da revista Dinheiro Rural para a primeira entrevista após a compra dos ativos da JBS.

“Nós tínhamos uma negociação que começou em março deste ano. E não tínhamos nenhuma informação sobre escândalo algum. Estamos adiantando nosso plano de negócios em cinco anos.”

De acordo com o executivo, faltava ao Minerva Foods uma operação na Argentina e isso era público desde 2012. “O mercado argentino é estratégico para nós”.

O Minerva Foods obteve receitas operacionais de R$ 10,2 bilhões em 2016. Com a aquisição das unidades sul-americanas da JBS, a empresa estima um faturamento de até R$ 14,4 bilhões neste ano.

Também eleva a sua atual capacidade de abate: sai de 17,3 mil bovinos por dia, em 17 frigoríficos espalhados pelo Brasil, Paraguai, Uruguai e Colômbia, para 26,4 mil animais. A compra coloca no portfólio da empresa mais nove frigoríficos. A operação argentina garantirá um abate de 5,1 mil animais por dia; a paraguaia, de 3,1 mil cabeças de gado; e a uruguaia, de 900 animais. No Brasil, o grupo Minerva possui 11 frigoríficos.

Aves  suínos

De acordo com Queiroz, nem mesmo nesse momento os mercados de suínos e de aves entram no radar da empresa. “Nós enxergamos essas cadeias com pilares e valores diferentes. E isso é muito fácil de entender, porque no frango e no suíno as cadeias são integradas, enquanto no bovino não é.”

Para Edison Ticle de Andrade Melo e Souza Filho, diretor de finanças do Minerva, as competências necessárias para uma empresa ter sucesso nas operações de frango e suínos são completamente diferentes daquelas necessárias para atuar na pecuária bovina.

“Os dois setores não têm sinergias relevantes, apesar de serem de proteínas animais. Com aves e suínos aumentaríamos o risco da operação.”

Isso porque a Minerva decidiu, há alguns anos, que o seu negócio não era ter uma marca para o consumidor final, mas colocar foco nos negócios com distribuidores e no food service. Hoje, o Minerva distribui carne em 60 mil pontos de venda no Brasil, sem marca própria. De acordo com Queiroz, são mais 30 mil pontos no Exterior.

“Nosso negócio é trabalhar com empresas que possuem rede de varejo de alimentos. E colocar foco no modelo de empresa diversificada lá fora, porque queremos ser essencialmente exportadores.”

Hoje, sem contar a aquisição da JBS, o Brasil responde por 70% das operações da empresa. Com o negócio fechado, a participação do País cai para 45%, enquanto no exterior sobre para 55%.

Hoje, do total de animais abatidos diariamente, cerca de 12 mil vêm de frigoríficos brasileiros. Nas exportacões, o Minerva atende cerca de 100 países, principalmente os asiáticos. Nos últimos anos, a vendas ao exterior têm respondido por fatias que variam entre 60% e 70% do faturamento. No ano passado, as vendas ao exterior renderam R$ 6,4 bilhões.

Além dos países do Mercosul, o grupo brasileiro também está na Colômbia.

Sua internacionalização é fruto de um passo que começou a partir dos anos 2000, mas foi somente em 2007, com a construção de uma unidade industrial para produzir carne cozida e congelada para food service, no município de Barretos (SP), onde o grupo nasceu, que a internacionalização começou a ganhar corpo.

Nesse ano, a formação de uma joint-venture com a empresa irlandesa Dawn Farms Group, levou a investimentos de R$ 80 milhões. Também foi nesse ano que o capital foi aberto na bolsa de valores de São Paulo, a antiga BM&FBovespa, hoje B3.

No ano passado, ela deu um passo ousado, ao vender uma participação ao fundo da Arábia Saudita, o Saudi Agricultural and Livestock Investment (Salic), que fez um aporte de R$ 746,4 milhões por 20% do capital do grupo.

As compras da JBS são estratégicas porque, embora o Minerva Foods tenha ido para países do Mercosul, ele jamais conseguiu se estabelecer na Argentina, um importante exportador.

O rebanho do país é de 51 milhões de bovinos e também passa por transformações importantes, depois da crise dos anos em que a família Kirchner presidiu a Argentina impondo regras rígidas de controle das exportações.

Neste ano, a previsão é exportar 231 mil toneladas por US$ 1 bilhão, cerca de 20% acima do ano anterior. Mas, no final dos anos 1990, o país chegou a exportar 1,5 milhão de toneladas, mesmo volume que o Brasil.

“Se olhar o nosso plano de negócios de 2012, quando realizamos a última revisão, nós colocamos como meta nos tornamos a companhia mais diversificada na América do Sul.”

Para João de Almeida Sampaio Filho, diretor de Relações Institucionais do Minerva, o crescimento dos negócios na América do Sul deve ocorrer, buscando nichos consistentes de mercado. Por exemplo, com parcerias com produtores que ofertam gado de origem europeia.

“A soma do Brasil, que oferta gado de carne magra, com Argentina, Uruguai e Paraguai, com produção grande de raças como angus, por exemplo, vai acelerar nossa participação nas exportações”, diz Sampaio. Mas a empresa não descarta os nichos no País. Aqui, as parcerias para abater aninais cruzados de angus acontecem. Entre elas está o programa Arroba mais Lucrativa.

Em relação aos planos daqui para a frente, Queiroz diz que o foco é arrumar a casa. “É natural que nos próximos anos o nosso objetivo seja digerir essas aquisições integrar e extrair valor. Conhecer as unidades que estão sendo incorporadas e entender a sua cultura, porque não gostamos da ideia de sermos comparados a conquistadores que impõem a sua cultura de empresa a qualquer custo.”

Para ele, o olhar sobre o negócio precisa levar em conta o conjunto dos rebanhos dos países nos quais o Minerva está. “Juntando os rebanhos do Brasil, que é o maior, com os da Argentina, da Colômbia, do Paraguai e do Uruguai, nos posicionamos como o maior processador de carne bovina do continente sul-americano”, diz Queiroz.

Fonte: Dinheiro Rural, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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