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Importância do jejum nas pesagens para a avaliação genética

Em bovinos de corte, a coleta de dados de características relacionadas ao peso corporal é essencial para a condução de uma avaliação genética. Através de tais dados é possível, com a utilização de métodos estatísticos adequados, estimar o valor genético dos animais e identificar aqueles que são superiores. Porém, a qualidade de uma avaliação genética depende da confiabilidade dos dados, ou seja, um conjunto de dados contaminados dificilmente levará a uma avaliação precisa.

Por Roberto Carvalheiro, Fabiano Veraldo da Costa Pita, Rodrigo de Almeida Teixeira, Vânia Cardoso, Lucia Galvão de Albuquerque e Luiz Alberto Fries

Em bovinos de corte, a coleta de dados de características relacionadas ao peso corporal, entre outras não menos importantes, é essencial para a condução de uma avaliação genética. Através de tais dados é possível, com a utilização de métodos estatísticos adequados, estimar o valor genético dos animais e identificar aqueles que são superiores. Porém, a qualidade de uma avaliação genética depende da confiabilidade dos dados, ou seja, um conjunto de dados contaminados dificilmente levará a uma avaliação precisa.

Desde a identificação dos animais até a obtenção dos pesos, inúmeras são as fontes de erro que podem contaminar os dados. Outro fator agravante, é o fato dos bovinos apresentarem grande volume do aparelho digestivo, sendo que a quantidade de líquido e alimento contidos nele interferem no peso medido do animal. Medidas de peso e tamanho corporal são aproximações à quantidade de porção comestível contida no animal vivo, que seria a utilidade econômica final a ser estimada.

Nesse sentido, este trabalho teve como objetivo avaliar o efeito do jejum, total ou parcial, sobre a obtenção de peso “real” dos animais.

Para isso, foram pesados 234 animais da raça Nelore pertencentes à Agropecuária Jacarezinho Ltda., Valparaíso – SP, dos quais 143 estavam no sobreano, em torno de 18 meses, e 91 no desmame, aproximadamente aos 200 dias de idade. Os animais de sobreano foram divididos em dois grupos, sendo um deles composto por animais que passaram por jejum total e o outro onde os animais tinham livre acesso à água (jejum parcial). No desmame os animais também foram separados em dois grupos, um de jejum total e outro de jejum parcial no qual os animais ficaram com suas mães, tendo então acesso ao leite.

Em cada grupo de animais, foram feitas duas pesagens na tarde em que eles chegaram no curral e mais duas pesagens na manhã seguinte à noite de curral. Da primeira à última pesagem foi decorrido um tempo de aproximadamente 20 horas. Os animais de sobreano demoraram cerca de uma hora e meia desde sua vinda do pasto até a primeira pesagem , e os de desmame levaram em torno de duas horas.

Na análise estatística, os modelos de medidas repetidas propostos utilizaram o peso, de acordo com cada grupo, como variável dependente, incluindo o animal como efeito fixo e funções do tempo como covariáveis. Os efeitos linear e quadrático do tempo afetaram significativamente (p<0,01) o peso dos animais nos quatro diferentes grupos. Os animais de desmame perderam em média 8 kg (4% do peso), desde a primeira até a última pesagem. Porém, houve uma maior perda em média (10 kg) dos animais submetidos ao jejum total do que aqueles que ficaram com as vacas, que perderam em média 6 kg. No sobreano, a perda média de peso foi de 26,1 kg e 23,4 kg para jejum total e parcial respectivamente, correspondendo a uma perda de aproximadamente 5% do peso. Essa diferença entre os grupos possivelmente não foi maior devido ao fato de que na ocasião das pesagens a temperatura estava amena, dando condições de conforto térmico aos animais. Em ambos os casos, os pesos tenderam a se estabilizar em torno de 14 horas (Figura 1). Se todas as perdas mencionadas anteriormente fossem constantes, isto é, todos os animais perdessem o mesmo peso, não seria necessário submetê-los ao jejum, pois não haveria o risco de pesar animais com diferentes quantidades de alimento em seu aparelho digestivo, desfavorecendo aqueles que estão mais vazios ou com uma menor quantidade de alimento. Mas, conforme demonstrado nas Figuras 2 e 3, a perda de peso não foi uniforme. Ambas as figuras mostram a variação na perda de peso dos animais que sofreram jejum total. No grupo do desmame houveram perdas variando de 5 a 15 kg, com uma maior frequência de perda de 8 a 12 kg. Já, no sobreano, os animais perderam de 4 a 38 kg, havendo maior dispersão das perdas, com uma concentração em torno de 24 a 26 kg. Estes fatos observados evidenciam a importância do jejum, sobretudo do jejum total de no mínimo 12 a 14 horas, antes de serem coletados os dados de peso, pois, se ele não for feito, pode-se estar cometendo erros na avaliação dos animais, superestimando o peso daqueles com maior quantidade de alimento no trato digestivo. Além disso, outras consequências podem ser apontadas, como a diminuição da estimativa de herdabilidade devido ao aumento do denominador, ou seja, aumento da variância total causada pela adição de mais uma fonte de variação. Exercícios rudimentares sugerem mudanças na magnitude do coeficiente de herdabilidade de 0,39 para 0,45 após jejum de 14 horas. Somente através de uma coleta cuidadosa e bem planejada dos dados, com proteção contra possíveis erros, pode-se ter sucesso na identificação dos animais geneticamente superiores. Figura 1. Curvas de perda de peso em relação ao tempo de animais de sobreano submetidos à jejum parcial (YP) e jejum total (YT).

Figura 2. Frequência de classes de perda de peso de animais de desmame submetidos à jejum total

Figura 3. Frequência de classes de perda de peso de animais de sobreano submetidos à jejum total

Versão do trabalho “Avaliação de possíveis fontes de erro durante as pesagens de bovinos de corte”, apresentado no 2o Simpósio da Sociedade Brasileira de Melhoramento Animal. Os autores agradecem à Agropecuária Jacarezinho por possibilitar a execução deste trabalho e por todo apoio prestado pela equipe de funcionários durante a realização do mesmo. Participação especial no planejamento e condução do trabalho tiveram Ian David Hill e Luiz Fernando Boveda.

0 Comments

  1. Kelly disse:

    Adorei o artigo, me auxilio muito à um projeto de extensão. Na maioria das vezes o fato de não saber meros detalhes acarretam em amostras contaminadas e muitas vezes no fracasso da experiência.

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