Brasil exporta gado e tecnologia para Fujairah
13 de novembro de 2017
McDonald’s lança novo sanduíche da linha Signature
13 de novembro de 2017

Fim da vacinação contra a aftosa gera críticas

Assunto ainda traumático para a pecuária gaúcha, a febre aftosa volta a preocupar os produtores do Rio Grande do Sul – agora, não pela doença em si, mas pela possibilidade de retirada nacional da vacinação. Os governos federal e estadual já começaram a executar o projeto de erradicar a imunização dos animais até 2023 para atingir o status de País livre de aftosa sem vacinação. A ideia é colocar o Brasil em um novo patamar sanitário, o que, consequentemente, abriria mercados e valorizaria a carne nacional. Para os pecuaristas, porém, há mais riscos do que possibilidades comerciais com o fim da vacinação.

Apesar de parecer que ainda existe tempo de sobra para debater o caso, o tema é urgente. O Rio Grande do Sul tem até 2021 para se adequar e retirar a vacina do campo dentro do previsto pelo Programa Nacional de Erradicação e Prevenção da Febre Aftosa (Pnefa), lançado neste ano pelo Ministério da Agricultura. Mas o Estado quer antecipar a medida e, em 2018, fazer a última aplicação da vacina contra a febre aftosa nos campos gaúchos.

“Já solicitamos ao ministério uma auditoria específica para avaliar nossas condições para isso. Estamos com treinamentos constantes das equipes de campo e chamando novos fiscais agropecuários para monitoramento e fiscalização, especialmente na região das fronteiras”, explica o secretário estadual de Agricultura, Ernani Polo.

O secretário ressalta, ainda, que, em parceria com o Fundo de Desenvolvimento e Defesa Sanitária Animal (Fundesa), está concluindo a revitalização do Almoxarifado Central da secretaria em Cachoeira do Sul com kits de emergência formados por equipamentos de proteção individual, embalagens para coleta e envio de amostras biológicas, equipamentos para barreiras de trânsito, desinfecção e outros produtos necessário para conter focos da doença de forma rápida, caso ocorram.

“Esse almoxarifado fica estrategicamente na região Central do Estado, de onde podemos nos locomover rapidamente para qualquer local e fazer contenções, se for necessário”, diz Polo, destacando também que já há previsão de recursos do fundo para indenizações a pecuaristas que, por ventura, venham a ser afetados com o abate de animais.

A questão das indenizações, por sinal, é um dos muitos questionamentos e temores de entidades como a Associação dos Criadores de Angus. José Roberto Pires Weber, presidente da entidade, ressalta que os valores não pagariam as eventuais perdas genéticas, com animais de alto valor no mercado.

Em caso de ocorrência de um foco da doença, a legislação prevê uso do rifle sanitário e indenização dos animais sacrificados como ocorreu no traumático caso do município de Jóia, quando mais de 10 mil bovinos foram abatidos desta forma. “Se isso ocorre em uma propriedade de ponta, como as muitas que nós temos no Estado, os valores não pagariam os exemplares com elevado valor genético de reprodutores que carregam mais de 100 anos de melhoramento da raça”, diz Weber.

Na lista elaborada pela associação de criadores de angus com os argumentos contrários ao fim da vacinação está exposta boa parte dos temores dos pecuaristas gaúchos. As ponderações incluem desde a falta de confiança da continuidade das ações de prevenção e monitoramento necessárias para evitar o ingresso da doença nos plantéis (dado as muitas instabilidades políticas e econômicas e a escassez de recursos federais para manter o trabalho na extensa região de fronteiras do País) até problemas comerciais no mercado interno.

Como a vacinação seria feita em etapas, por regiões, em algum momento, diz o presidente da associação, produtores gaúchos não poderiam mais comercializar bovinos para uma grande parte do território nacional. Hoje, por exemplo, isso ocorre em Santa Catarina, zona livre de aftosa sem vacinação, onde gado vivo do Rio Grande do Sul é impedido de entrar.

“Mas esse é apenas um ponto específico do problema. Retirar a vacinação, como está sendo sugerido, é um risco imenso e que não trará grandes vantagens à pecuária brasileira”, alerta Weber.

Um dos riscos apontados pelo coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro), Júlio Barcellos, é o sistema de controle desmembrado e executado pelos estados, em um País continental como Brasil e com desigualdade muito grande. Mesmo admitindo que há pontos positivos na retirada da vacinação, Barcellos, afirma que o assunto é delicado. “É difícil ter certeza da continuidade e da estrutura que o País tem para manter o controle e a vigilância adequados. O nosso sistema é todo descentralizado, e há estados onde o serviço é terceirizado, inclusive. Sem contar a falta de recursos e as instabilidades brasileiras, que podem provocar descontinuidade no trabalho”, avalia Barcellos.

É principalmente no mercado externo que mira o Ministério da Agricultura ao propor o fim da vacinação. Negócios que beneficiariam, além da carne bovina, também as vendas de carne suína e até mesmo de frango para o exterior, diz o superintendente do Ministério da Agricultura no Estado, Bernardo Todeschini. Entre os países que tendem a abrir seus mercados estão, por exemplo, Japão e Coreia do Sul. “Os preços pagos por esses mercados pela carne que tem sua área livre de aftosa sem vacinação dobram em relação à média”, argumenta.

Sobre os argumentos de que o País não tem condições econômicas para sustentar um trabalho de controle nacional que mantenha o rebanho livre da doença, Todeschini afirma que os recursos hoje gastos para manter a vacinação passariam, automaticamente, a ser direcionados para reforçar a vigilância sanitária. São gastos com deslocamentos e diárias de servidores que acompanham e fiscalizam os trabalhos de vacinação, acrescentado, ainda, que o próprio produtor teria seu custo reduzido com a aquisição da vacina e mão de obra, por exemplo.

Weber afirma que esse custo da vacinação é baixo e já foi incorporado pelo criador e que os prejuízos com um possível contágio do rebanho são muito grandes frente ao custo da prevenção. Para o secretário da Agricultura do Estado, Ernani Polo, esse risco é significativamente menor do que há 17 anos, quando houve o abate em massa no município de Jóia. “As regras da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) para contenção, hoje, são de abate apenas localizado onde houver a confirmação da doença e em propriedades vizinhas. O produtor gaúcho ainda tem o trauma do ocorrido em 2000”, argumenta.

Polo diz, ainda, que o Brasil já conta com sistemas de detecção rápidos, ajudando a evitar o contágio, o que não havia em 2000. Polo afirma que, com o Lanagro (Laboratório Nacional Agropecuário) dando resultado para confirmar ou não uma suspeita em, no máximo, 24 horas, o risco de uma contaminação em massa é significativamente menor, já que é possível bloquear o avanço desde os primeiros sinais.

Fonte: Jornal do Comércio, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress