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6 de dezembro de 2016
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Fiesp 2026: Confira as previsões para o agronegócio brasileiro

A edição de 2016 do Outlook Fiesp 2026 – Projeções para o Agronegócio Brasileiro foi elaborada em um cenário de menor volatilidade externa nos mercados agrícolas, após uma redução significativa nos preços das commodities em geral, porém, dentro do complicado cenário doméstico, devido à deterioração da economia brasileira, como reflexo do processo político experimentado pelo País.

Mesmo com o horizonte de retomada de uma política econômica adequada e voltada ao crescimento sustentado, muitas incertezas ainda estão presentes e permeiam o universo das projeções, adicionando um grau maior de dificuldade no exercício de prever o futuro.

As estimativas de crescimento nacional e mundial determinam a demanda pelos produtos agropecuários e as variações cambiais trazem mudanças na competitividade do produtor brasileiro. Além disso, a crise econômica acaba afetando outras variáveis, como a disponibilidade de crédito e o endividamento das empresas, que têm provocado efeitos significativos sobre o agronegócio.

Assim como no anterior, nesta versão do Outlook Fiesp 2026 utilizamos como cenário-base uma perspectiva de que, passado este momento mais turbulento, haverá um movimento de ajuste macroeconômico que permitirá uma retomada do crescimento a partir de 2018. Consideramos também que não haverá interrupção abrupta do crescimento mundial e que, apesar da desaceleração dos países emergentes, a demanda por alimentos deverá continuar aquecida, mesmo que em taxas relativamente inferiores às observadas nos últimos anos.

No mais, esta edição objetiva trazer elementos para discussões acerca dos diversos setores envolvidos com o agronegócio e, com isso, auxiliar a identificação de gargalos e a elaboração de novas propostas para o futuro do setor, possibilitando antever as ações necessárias diante do crescimento esperado.

O modelo estabelece um balanço de oferta e demanda mundial que mantenha consistência entre as principais economias produtoras e consumidoras de alimentos do mundo. A consistência é avaliada a partir das relações estoque/uso que devem manter o mercado estabilizado no longo prazo.

O modelo de projeção da produção brasileira, no caso das commodities consideradas, parte de um balanço mundial da produção e consumo de alimentos, no qual a demanda de cada país é estabelecida a partir das expectativas de aumento da população e do crescimento da renda per capita, combinados às elasticidades-renda dos alimentos em cada um desses países.

As previsões de renda utilizadas são as divulgadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e, para a da população, pela Organização das Nações Unidas (ONU). No caso brasileiro, as estimativas de crescimento da economia foram feitas pela MB Associados, com base em seu modelo macroeconômico de consistência para o País.

Do ponto de vista da oferta, a produção dos alimentos é projetada com base na tendência da produtividade e da área disponível em cada um dos principais produtores. O Brasil é variável-chave para o fechamento do balanço internacional, dado que é uma das poucas regiões onde ainda é possível obter um ganho de produtividade, aliado ao aumento da área agrícola, ao contrário, por exemplo, dos EUA, onde a produção só pode crescer a partir de ganhos restritos de produtividade ou de menor produção de uma determinada commodity, em detrimento de outra.

Obtida a produção brasileira necessária para que a relação estoque/consumo mundial se mantenha em um patamar em que os preços justifiquem o crescimento da oferta global, as áreas demandadas para alcançar tais produções são estimadas a partir da curva projetada de produtividade para cada uma das commodities agrícolas em cada uma das nossas regiões.

Em relação à projeção divulgada em 2015, alguns parâmetros utilizados na pecuária foram alterados, devido à carência de informações sobre o número efetivo de cabeças do rebanho nacional, o que faz com que esses números apresentem grande variação de uma fonte de dados para outra.

Nesta atualização, foram feitas modificações nas estimativas iniciais do rebanho e das premissas de produtividade que levaram a diferenças nas avaliações futuras no número de animais. Também foram atualizados os dados de áreas atualmente ocupadas com pastagens, o que aumentou a base inicial existente em relação à versão anterior.

Devido à possibilidade de alteração nas produções e previsões de demanda em razão dos fatores de risco inerentes ao setor agrícola ou de mudanças nas expectativas macroeconômicas, as estimativas serão revisadas de forma dinâmica, caso algum evento mais relevante signifique uma ruptura das perspectivas para as commodities analisadas. As atualizações realizadas poderão ser acompanhadas no endereço: www.fiesp.com.br/outlook.

VIRADA DO MODELO MACROECONÔMICO

O ano de 2016 estabelece a virada de um modelo macroeconômico heterodoxo para um ortodoxo. A debacle econômica que marcou os anos de 2015 e 2016 forçou uma mudança de rumo radical.

Na história econômica brasileira moderna não havia ocorrido dois anos consecutivos de queda do PIB superior a 3%. Em dois anos a renda per capita do brasileiro caiu quase 10%. A taxa de desocupação deve fechar o ano no patamar de 12%.

A idiossincrasia desse processo é que a queda da atividade econômica veio acompanhada de inflação elevada. Em 2015, ela fechou em 11%. No ano de 2016, as projeções indicam que a inflação fechará em números próximos a 7%.

A combinação de alta inflação com elevado desemprego é desastrosa, pois os juros altos utilizados para atenuar a alta dos preços pioram a atividade econômica e o emprego.

A opção de conter o ciclo de preços elevando a taxa de juros trouxe problemas adicionais à situação fiscal do governo. O aumento do custo do capital tornou o custo da dívida proibitivo. A queda no nível de atividade diminuiu a arrecadação.

A queda de receita e o aumento de despesas com juros, somados ao descontrole dos gastos públicos promovidos pelo governo Dilma Rousseff desenharam uma trajetória explosiva da dívida pública.

Na década antecedente a 2014, a relação entre a dívida pública e o PIB situou-se no patamar de 54% a 58%, com um superávit primário da ordem de 2,5% a 3% do PIB, o que assegurava o pagamento da conta de juro e a consequente estabilização da dívida pública.

Os déficits primários gerados a partir de 2014, a alta dos juros e a queda de arrecadação fizeram com que, já em 2015, a relação dívida/PIB alcançasse 66%. As projeções indicam que, em 2016, esse indicador alcançará 74% e possivelmente chegará a 82% em 2017.

A desorganização macroeconômica é de tal ordem que a mudança de rota da política econômica tornou-se inevitável. O desenho macro que deve pautar os próximos anos será muito diferente do ocorrido na última década.

Do intervencionismo estatal à liberalização dos mercados

O principal vetor de mudança na macroeconomia brasileira será o tamanho do Estado e seu consequente grau de intervencionismo na economia. A profundidade do desequilíbrio fiscal exige um longo processo de ajuste das contas governamentais, que tenderá a reduzir a participação do setor público no PIB.

A decisão de estabelecer um teto para o valor absoluto dos gastos públicos fará com que, em decorrência do crescimento da economia, a participação do setor público no PIB caia progressivamente no tempo.

A retomada do crescimento econômico dependerá fundamentalmente dos investimentos privados para alavancar o processo de acumulação de capital. Para tanto, o capital privado terá de contar com um horizonte de maior previsibilidade das instituições públicas, posto que as regras, os contratos e a estrutura de formação de preços de diversos setores da economia (petróleo, gás, energia elétrica, saneamento básico, concessões rodoviárias, portuárias, ferroviárias, aéreas etc.) deverão ser desenhados no sentido de se aproximarem de uma economia de mercado mais aberta.

As propostas em curso conduzidas pelo governo federal vão nessa direção. Novas concessões partirão de um marco regulatório muito diferente do anterior. A política de campeões nacionais será substituída por crédito para projetos eficientes, independentemente de seleções prévias de vencedores.

A redução na inflação, que já se desenha em 2016 e 2017, sinaliza um potencial de forte redução das taxas de juros. O modelo de previsão de preços do Banco Central do Brasil (BACEN) indica que, já no fim de 2017, a inflação estará muito próxima do centro da meta (4,5%). Juros mais baixos e novos investimentos permitirão uma retomada progressiva do emprego e da renda.

O mercado de consumo deverá reagir aos estímulos de um crédito mais barato e os brasileiros novamente mais propensos ao consumo. Assim é que a elevação simultânea do consumo e do investimento recolocará o País novamente na rota do crescimento e da normalização das contas públicas. Essa é a trajetória econômica que norteia as projeções de demanda por alimentos, fibras e energia na próxima década.

O desenho macro sinaliza que a valorização do real, ocorrida em 2016, possa se reverter no médio prazo. Ocorre que dois vetores devem contribuir para esse movimento. Do ponto de vista brasileiro, a redução da taxa de juros diminuirá o apetite por arbitragem no mercado interno. Além disso, a retomada do crescimento induzirá a elevação nas importações, fato que deverá gerar uma redução no saldo comercial brasileiro.

Ademais, ao se considerar a situação atual da economia norte-americana, é bem provável que a taxa de juros recupere seus níveis históricos no médio prazo, o que significa um caminho de valorização do dólar perante as moedas dos países emergentes.

Os cenários de rentabilidade que dão suporte às projeções apresentadas neste Outlook Fiesp 2026 contemplam o retorno da taxa de câmbio ao seu equilíbrio de longo prazo, em um modelo econômico que se sustenta sobre o tripé de ajuste fiscal, regime de metas de inflação e câmbio flutuante.

AS CONSEQUÊNCIAS DAS MUDANÇAS MACROECONÔMICAS PARA O AGRONEGÓCIO

O desequilíbrio macroeconômico brasileiro afetou o agronegócio especialmente através de três canais, a saber: I. Câmbio; II. Crédito e III. Consumo.

A forte desvalorização do real ocorrida em 2015 permitiu ganhos expressivos de rentabilidade na agricultura brasileira. Normalmente, a desvalorização melhora as margens da maior parte dos produtos agrícolas, pois apenas uma parcela dos custos é cotada em dólar.
Esse fato não é necessariamente verdadeiro para o setor pecuário, posto que a desvalorização acarreta preços elevados de grãos, que por vezes se descolam dos fundamentos do mercado pecuário doméstico.

Isso de fato se mostrou verdadeiro e em 2016 assistiu-se a uma relevante deterioração das margens operacionais dos setores de produção de frangos, ovos, suínos e leite. A desvalorização de 2015 até o início de 2016 fez com que um volume recorde de milho fosse exportado (31 milhões de toneladas).

Além disso, as quebras da primeira e, especialmente, da segunda safra de milho reduziram sobremaneira a disponibilidade interna desse relevante componente da ração animal. A consequência foi que os preços do milho passaram a ser precificados pela paridade de importação. Nos anos anteriores, o excesso de oferta de milho fez com que a referência fosse a paridade de exportação.

Por se tratar de um produto de menor valor relativo, o custo do frete acaba por distanciar significativamente os preços de importação dos de exportação. A pressão de custos prejudicou consideravelmente as margens da pecuária, induzindo a uma redução da produção na segunda metade de 2016.

A desvalorização do câmbio até o início de 2016 gerou outro desequilíbrio no balanço de diversas empresas. Ocorre que mui- tas companhias, nos últimos anos, se endividaram em dólar. A depreciação do real afetou, então, suas métricas financeiras, comprometendo sua situação de crédito.

Esse ponto se tornou especialmente relevante diante do quadro de elevação da taxa de juros e redução da oferta de crédito que marcou a segunda metade de 2015 e o ano de 2016.

É importante ressaltar que o sistema de crédito rural brasileiro é claramente pró-cíclico. O maior volume do crédito rural origina-se dos depósitos à vista nos grandes bancos brasileiros. Assim, com a queda do PIB e a elevação da inflação, o montante de depósitos à vista tende a cair, o que reduz a oferta de crédito rural.

Além disso, a degradação do quadro econômico fez com que diversos setores da economia sofressem reduções de demanda e suas receitas caíram significativamente, com- plicando os balanços. Com isso, as provisões dos bancos comerciais aumentaram muito, o que limitou o volume de crédito disponível às empresas agrícolas e aos produtores rurais.

A piora na oferta de crédito encareceu as operações e, pela primeira vez em uma década, o setor se verá diante de um quadro de taxas reais de juros francamente positivas. O menor crédito bancário foi compensado por uma maior participação das empresas ligadas fisicamente ao setor, como são os traders, as indústrias de insumos, os distribuidores e as cooperativas de produção, com financiamentos superiores a 180 dias.

A elevação do desemprego para os níveis recordes de 12%, associada à alta inflação, derrubou o poder aquisitivo do brasileiro. A consequência desse movimento foi a queda de consumo, especialmente de produtos de maior valor, como as carnes e o leite e seus derivados.

Inicialmente, o consumidor foi trocando produtos caros por substitutos de menor valor, sejam itens mais baratos em um mesmo tipo de produto, como um iogurte de marca líder por outro de preço inferior, ou a troca por produtos substitutos, como iogurte e queijo por leite; carne bovina de primeira por carne de segunda; carne de segunda por frango; frango por ovo. Esse desenho marcou todo o ano de 2015 e o de 2016, e é possível afirmar que diversos mercados retrocederam em tamanho. Poucas vezes se viu aperto dessa magnitude.

O que esperar para os próximos anos?

O desenho macroeconômico que se configura para os próximos anos é o de recuperação do espaço perdido e de retomada de crescimento do consumo. A queda no desemprego e na inflação trará de volta a demanda por alimentos, fibras e energia.

Vale lembrar que os alimentos são os primeiros a recuperar as vendas, quando se sai de um quadro recessivo, especialmente um tão profundo como o brasileiro. O ano de 2017 poderá surpreender em sua segunda metade, caso a queda dos juros e a retomada do crescimento se mostrem mais fortes do que a média das expectativas de mercado.

A recuperação econômica e a queda da inflação devem restabelecer os depósitos à vista aos níveis anteriores à recessão. Maior depósito à vista, maior disponibilidade de crédito rural. A redução na taxa de juros deve conferir forte alívio às empresas hoje altamente endividadas, o que melhorará seus balanços, reduzindo as provisões dos bancos. Esse movimento elevará a propensão de os bancos ampliarem seus empréstimos.

Do ponto de vista da taxa de câmbio, assistiu-se a uma valorização do real em 2016 que desenhou uma piora nas margens de rentabilidade de diversas culturas, a despeito da redução dos custos decorrentes de um real mais forte.

Entretanto, o balanço de oferta e demanda mundial de alguns produtos vem criando uma situação atípica de melhora nas margens de culturas como a cana-de-açúcar, o café e a laranja, a despeito da valorização do real.

Essas commodities estão vivendo um momento semelhante de desequilíbrio entre oferta e demanda. A relação entre os estoques de suco de laranja, açúcar e café vem diminuindo em relação ao consumo mundial.

CARNE BOVINA

Após anos de negociações, finalmente em 2016 aconteceu a abertura recíproca com os EUA para a carne bovina in natura. Com isso, os embarques poderão ser realizados já nos próximos meses, embora os volumes direcionados àquele mercado tendam a ser pouco expressivos, pois o Brasil compõe uma cota restrita.

No entanto, o principal benefício alcançado será o status sanitário de fornecedor do mercado norte-americano, o que deverá fortalecer a argumentação para a abertura de grandes importadores mundiais ainda fechados ao Brasil, casos do Japão, Coreia do Sul, Canadá e México, que, juntamente com os EUA, representaram 41% das importações mundiais em 2015.
As exportações brasileiras também cresceram de forma significativa com o retorno da China como compradora, representando um dos principais destaques em 2016. As vendas externas ficaram ainda mais importantes, na medida em que o consumo doméstico revelou-se muito fraco, em razão da forte crise econômica.

Além disso, a menor presença da Austrália entre os países exportadores contribuiu para que o Brasil tivesse ainda mais espaço no mercado mundial. Como a redução do rebanho australiano foi muito acentuada, os abates do país deverão continuar mais restritos nos próximos anos.

Por outro lado, a oferta dos EUA voltou a crescer, impulsionada pela forte retenção de fê- meas observada nos últimos anos e pela boa disponibilidade de grãos para os confinamentos, o que estimulou o aumento no peso de abate dos animais.

Da mesma forma, o ciclo pecuário brasileiro continua em um período de retenção de matrizes, com o volume de fêmeas abatidas em 2016 ainda menor que o do ano anterior, embora esse processo comece a perder força.

A tendência de acomo- dação do preço do bezerro em relação ao boi gordo nos próximos anos, reflexo da retenção a partir de 2014, deve gradativamente favorecer o aumento da oferta de gado pronto.
Assim como nas outras proteínas animais, a produção de carne bovina também foi impactada pelo elevado custo do milho, que afetou principalmente a rentabilidade dos confinamentos.

Isso contribuiu para uma redução significativa da quantidade de bois confinados, com um efeito maior na oferta de animais no segundo semestre de 2016.

Sem conseguir repassar o custo da matéria-prima para o consumidor final, a margem da indústria contraiu significativamente, o que, por sua vez, forçou os frigoríficos a reduzirem ainda mais a compra de gado para preservar sua rentabilidade. Com isso, o consumo per capita pode retroceder a mais de dez anos, dependendo do ritmo de abates até o fechamento de 2016.

Apesar disso, 2017 tende a ser positivo, pois, além da previsão do início da recuperação da economia, o Brasil deverá con- tinuar bem posicionado entre os fornecedores internacionais, tanto em quantidade quanto em preço.

Assim como a oferta de gado pronto deverá ser retomada, as demandas interna e externa também crescerão nos próximos anos e o País seguirá aumentando sua participação no mercado mundial.

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Clique aqui para acessar o relatório na íntegra.

Fonte: Fiesp, adaptada pela Equipe BeefPoint.

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