Um dos fundadores da Pecuária Sustentável da Amazônia (Pecsa), Vando Telles vai dividir o palco do Festival Origem com Paulo Barreto, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), no próximo domingo (3), às 19h05.
Na palestra De onde vem a carne que comemos?, o empresário deve falar sobre a dinâmica de produção de pecuária que, além de criar mais bois por hectare, conserva áreas de preservação permanente e evita novos desmatamentos. Fundada em 2015, em Alta Floresta, interior de Mato Grosso, a Pecsa vem rendendo bons resultados financeiros, mantendo a produtividade das fazendas por mais tempo e preservando o meio ambiente.
Na entrevista a seguir, Vando Telles fala sobre alguns dos temas que serão abordados durante a palestra. O Festival Origem acontecerá de 1º a 3 de dezembro, no Memorial da América Latina, em São Paulo. A entrada é franca. Confira aqui a programação completa com palestras, workshops, feira de produtores, restaurantes e food trucks.
ÉPOCA – De onde vem a carne que comemos hoje?
Vando Telles – Grande parte do nosso consumo de carne vem da Amazônia. No Brasil, aproximadamente 38% do rebanho está localizado na Amazônia, sendo a maior parcela no estado de Mato Grosso, com 30 milhões de cabeças de gado. Isso significa um grande desafio quando propomos a transformação sustentável da produção.
Sair dos métodos tradicionais e encarar uma produção baseada no equilíbrio dos recursos naturais é um processo lento, mas notamos que os elos da cadeia, aos poucos, já vêm se mobilizando para atender a essa demanda.
ÉPOCA – É possível aumentar a criação de bois sem desmatar a floresta?
Vando Telles – Com o nível de tecnologia como o que a Pecsa adota, é perfeitamente possível colocar todo o rebanho brasileiro em metade da área disponível de pastagem. Hoje temos tecnologia disponível para produzir carne sem desmatamento.
É perfeitamente possível aumentar em seis a sete vezes a produtividade nas áreas que já estão disponíveis simplesmente adotando tecnologia e utilizando melhor os recursos naturais disponíveis.
ÉPOCA – Por que os produtores rurais brasileiros não se modernizam?
Vando Telles – Existem dois entraves principais: uma cultura adotada por parte dos pecuaristas e a disponibilidade de crédito para fazer investimentos. Diferentemente dos agricultores, que necessitam buscar novas tecnologias e têm um mercado aberto para isso, os pecuaristas não têm um uso de tecnologia muito consistente e muitos são avessos ao risco que às vezes correm aderindo a inovações.
Além disso, para fazer as transformações necessárias na propriedade, é preciso crédito, e muitos bancos não estão preparados para avaliar corretamente esse tipo de operação, que é de longo prazo. O que precisamos fazer para mudar a realidade da pecuária é mudar a visão sobre essas propriedades, para que os erros cometidos no passado não sejam repetidos, entender que o lucro está em reflorestar e não em desmatar essas áreas.
Fonte: Época.
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Muito bom esse assunto, mas não é simples assim como está sendo dito na matéria, para aumentarmos a produtividade por ha e preciso estudar cada propriedade, em cada uma das milhões de fazendas que temos hoje no Brasil e preciso um estudo diferenciado, cada uma tem uma dificuldade e deve ter um projeto singular levando em consideração vários aspectos, inclusive baixo nível de escolaridade dos proprietários. Sem um planejamento e investimentos a longo prazo corremos um sério risco de tornarmos o Brasil em uma região inapta a agricultura e pecuária, sem as chuvas constantes na região amazônica o calor de 45° irá tornar essa região inexploravel quanto a agricultura e pecuária ao longo do tempo.