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Deutsche Bank avalia que tendência do crescimento populacional está mudando

O estudo assinado por Sanjeev Sanyal desafia a máxima malthusiana e sustenta que a curva expansionista da população mundial atingirá o pico bem antes e em um nível inferior ao que a grande maioria das estimativas produzidas sugere. Segundo o Deutsche Bank, o crescimento populacional está decaindo em quase todas as nações, sendo que Japão e Alemanha experimentaram uma taxa praticamente nula de aumento de seu povo na última década. Mais relevante ainda, destaca o relatório, seria o fato de que as maiores desacelerações estão ocorrendo, justamente, nos países emergentes mais populosos. "Russos, chineses e brasileiros não estão mais repondo suas populações, enquanto indianos estão tendo menos filhos", ressalta o banco.

No Ensaio sobre o Princípio da População, de 1798, o economista e religioso britânico Thomas Malthus expõe suas ideias sobre a relação entre oferta de alimentos e aumento populacional, com as consequentes implicações para o mundo. Em voga novamente nos últimos anos, muitos estudiosos têm se apoiado nas análises do clérigo anglicano, apontando-as como uma espécie de profecia certeira no que tange à incapacidade humana de produzir comida suficiente para acompanhar o ritmo de expansão demográfica da espécie. O fracasso em fechar esta conta, na visão do guru inglês, condenaria o homem a uma sina de guerras, doenças e miséria, além de uma imutável disparidade social.

Na contramão de todos os recentes sinais de alarde – disparados pela ininterrupta elevação do custo alimentar no planeta – um relatório do Deutsche Bank, assinado por Sanjeev Sanyal e divulgado esse mês, desafia a máxima malthusiana, que poderia estar com os dias contados.

Sanjeev Sanyal é um conceituado economista indiano, ambientalista e urbanista. Fundou e preside o Instituto para um Planeta Sustentável (Sustainable Planet Institute, no original em inglês). Com vasta experiência em mercados financeiros, Sanyal ocupou até 2008 o cargo de economista-chefe do Deutsche Bank na Ásia. Basicamente, a sua análise sustenta que a curva expansionista da população mundial atingirá o pico bem antes e em um nível inferior ao que a grande maioria das estimativas produzidas sugere. Apoiado em uma série de estatísticas, inclusive nos números dos últimos censos realizados em vários países, dentre os quais Estados Unidos, China e Índia – todos no período 2010-2011 – a pesquisa vaticina que o fim do crescimento populacional no planeta acontecerá por volta de 2050 – o relatório do Deutsche é intitulado “O fim do crescimento populacional”.

Toda a teoria de Malthus se baseava em uma asserção simples: enquanto a produção de alimentos crescia em progressão aritmética, a população aumentava em progressão geométrica. Tal defasagem explicaria as epidemias, guerras e outras mazelas humanas como recursos inevitáveis de redução da população.

O economista, então, propõe o controle da natalidade e a restrição total da assistência social e médica à população, como formas de se tentar restaurar o equilíbrio. Suas teses foram elaboradas em fins do século XVIII e começo do século XIX, nos primórdios da Revolução Industrial. Nesta época, os investimentos se voltavam para inovações tecnológicas e instalações industriais, tirando a ênfase das lavouras. Além disso, camponeses abandonavam o campo para se transformar em operários nas cidades, reduzindo a mão-de-obra do setor agrícola e também afetando a oferta de alimentos nos mercados urbanos.

A recente intensificação do crescimento econômico nos países emergentes, impulsionado pelo forte movimento de inclusão no consumo (inclusive de alimentos) de uma massa populacional gigantesca, que antes engordava bolsões de extrema pobreza ao redor do globo, trouxe de volta o dilema de Malthus. Afinal, apesar de toda evolução tecnológica verificada nos últimos séculos, os preços dos alimentos continuam causando distúrbios sociais e colocando em xeque a paz mundial. Com isso, economistas e financistas de renome vêm ratificando publicamente os preceitos malthusianos, ao passo que investidores orientam suas apostas de acordo com a lógica da escassez inexorável, o que termina por embalar a trajetória de valorização dos preços de matérias primas e da própria comida. Uma frase que se tornou célebre, do lendário investidor britânico Jeremy Grantham, resume bem o sentimento predominante: “Malthus não estava errado, ele estava adiantado”.

A atual projeção da ONU é de que existam 9,3 bilhões de pessoas na Terra em 2050 e de que o número ultrapasse os 10 bilhões em 2100. Essas contas, entretanto, se apóiam em dois pressupostos: que todos os povos terão uma vida tão longa quanto à do japonês, ou seja, que a expectativa de vida no planeta irá evoluir rapidamente dos atuais 68 para 81 anos, e que todos os países manterão o que é denominado “nível de fertilidade de reposição”.

Enquanto a primeira suposição parece bastante realística, a segunda gera margens para severas desconfianças. Segundo o Deutsche Bank, o crescimento populacional está decaindo em quase todas as nações, sendo que Japão e Alemanha experimentaram uma taxa praticamente nula de aumento de seu povo na última década. Mais relevante ainda, destaca o relatório, seria o fato de que as maiores desacelerações estão ocorrendo, justamente, nos países emergentes mais populosos. “Russos, chineses e brasileiros não estão mais repondo suas populações, enquanto indianos estão tendo menos filhos”, ressalta o banco.

Observadas essas tendências, Sanjeev Sanyal conclui que a taxa de fertilidade global cairá para a taxa de reposição em quinze anos, ou seja, a partir daí, e em termos de reprodução, a espécie humana perderia a capacidade de se expandir.

Ainda pelos cálculos do economista, o pico populacional do planeta será atingido em 2050, quando a Terra teria cerca de nove bilhões de habitantes. Esses eventos marcariam, portanto, um ponto de virada crucial na história do homem.

Como qualquer previsão demográfica, não há como se afirmar que as conclusões expostas pelo Deutsche estejam corretas. A demografia é uma ciência tão complexa quanto imprevisível. O relatório, no entanto, é um sério e considerável contraponto aos céticos argumentos malthusianos, que prevalecem hoje no mainstream e que respaldam várias trajetórias de cotações de ativos nos mercados financeiros. Os preços das commodities, por exemplo, poderiam não estar fadados a subir eternamente (até que cada item se esgote). A princípio, no cenário projetado por Sanyal, a partir de 2050 o consumo global teria mais chances de involuir. O estudo, porém, não leva em conta a percentagem da população global que ainda está (ou estará) por ser incluída no consumismo global, nem se atém à secular tendência de crescimento do consumo per capita, a nível mundial. Uma diretriz que indubitavelmente ganha força no meio desse emaranhado de dúvidas, portanto, é que seria mais promissor, a médio e longo prazos, investir em companhias que se dedicam a criar soluções ou alternativas para lidar com o escasseamento de recursos naturais, em vez de apostar nas que exploram esses recursos pura e simplesmente, ou mesmo nos recursos propriamente ditos, como se faz nas bolsas de mercadorias.

Enfim, embora o desafio humano de garantir a sobrevivência e tranquilidade da espécie ganhe certo alento com as ponderações colocadas pelo Deutsche Bank, ele (o desafio) permanece polêmico, misterioso e enorme.

As informações são do Jornal do Commercio RJ/AC, resumidas e adaptadas pela Equipe BeefPoint.

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