Principais indicadores do mercado do boi –23-03-2017
23 de março de 2017
Tarifas temporariamente retiradas das exportações de carne bovina para o México
24 de março de 2017

Operação Carne Fraca e a JBS – confira acusações, respostas e suspensão dos abates

A JBS confirmou na sexta-feira (17) que três unidades produtivas da empresa — duas no Paraná e outra em Goiás — foram alvo da Operação Carne Fraca, deflagrada pela Polícia Federal (PR). Dentre as acusações, estão a tentativa de mudar a data de validade de embalagens (JBS) e esquema de corrupção entre frigoríficos e fiscais para acelerar a liberação de produtos (JBS).

Sobre essa última questão, a operação descobriu a relação muito próxima da chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, no Paraná, Maria do Rocio Nascimento, e o médico veterinário Flavio Evers Cassou, que a Polícia Federal afirma ser ‘executivo da JBS’.

Ambos foram alvo de mandados de prisão preventiva. Segundo os investigadores da Carne Fraca, Cassou tinha ‘relação quase que societária com Maria’ e ‘reiteradamente agracia a estimada amiga com lotes de carnes, produtos e dinheiro’.

A PF chegou a filmar Cassou entrando na casa de Maria Rocio ‘com uma maleta, depois saindo e voltando com um isopor’. “De tão pesado, precisou de duas mulheres para carregá-lo”, destacou a PF, em relatório oficial.

A Carne Fraca fez um raio-x nos diálogos capturados entre Cassou e Maria do Rocio. No documento da PF, os investigadores apontaram que, desde o início das interceptações, os dois conversavam sobre ‘a entrega a ela de carnes, produtos alimentícios ou mesmo dinheiro, utilizando sempre ‘apelidos’ (balde, processo, dedos e luvas) para evitar falar diretamente a respeito do que seja pelo telefone’.

Para os investigadores, a partir da análise de uma série de diálogos grampeados, ‘fica claro que Flavio Evers Cassou leva produtos e dinheiro para Maria do Rocio’.

“Em 25 de janeiro de 2016, Maria do Rocio conversa com Mara Rubia Mayorka, a qual relata a perda de carnes que estavam em dois freezers que possuem em casa. A conversa é interessante porque dela se extrai a quantidade de carne que Maria do Rocio ‘pede’ e ‘ganha’ (certamente das empresas que favorece), como ela mesmo fala. Entretanto, mais interessante é a conversa que Maria do Rocio vem a ter com Flavio Evers Cassou, poucos dias depois de Mara Rubia lhe dizer que estão sem nada de carne em casa”, diz o documento subscrito pelo delegado federal Mauricio Moscardi Grillo.

Os investigadores apontam que Cassou foi à casa de Maria do Rocio. As imagens mostram o ‘executivo da JBS’ de óculos escuros e camisa azul, retirando um isopor do porta-malas do carro. O veículo foi estacionado em frente ao vizinho de Maria do Rocio, segundo a PF. Em seguida, Flavio deixa a caixa de isopor na porta da garagem dela e duas mulheres a carregam para dentro.

“No dia seguinte à entrega, Flavio Evers Cassou e Maria do Rocio conversam descontraidamente e ele pergunta se ela teria gostado do ‘balde’ – código que usam para se referir ao que foi entregue – ao que Maria responde para ele não se preocupar ‘que todo mundo gostou do balde’. Por vezes, Flavio Evers Cassou chega a ser explícito, dizendo que está mandando ‘coxinhas’ para a irmã de Maria, porém, com relação a dinheiro, preferem manter o uso de códigos.”

Em outra conversa capturada pela PF, Cassou pede para avisar à irmã de Maria do Rocio que ele mandaria as ‘coxinhas dela’, uma ‘caixinha de isopor com 20, 40 coxinhas’. Para a PF, o diálogo confirma que ‘Maria assina certificados para Flávio em troca de produtos da empresa Seara – neste dia, os produtos dados em pagamento foram coxinhas de frango’.

Dinheiro. Às 17h06 do mesmo dia, segundo a PF, a então chefe do Serviço de Inspeção de Produtos de Origem Animal, no Paraná, confirma o recebimento dos ‘dedos’ que Flavio pôs embaixo dos certificados, tendo conferido e contado ‘tudo certinho’.

No mesmo dia, Cassou fala com Maria do Rocio e afirma que está levando ‘os documentos’ dela, porém o dos outros não, pois ‘está tudo parado’.

“Sabe-se que Maria do Rocio foi colega de faculdade de Flavio Evers Cassou porém, o relacionamento de ambos demonstra claras práticas de corrupção, com Maria do Rocio beneficiando a empresa em que Flavio Evers Cassou trabalha – assinando certificados feitos pela própria empresa, sem qualquer fiscalização efetiva -, mediante contraprestação financeira ou em produtos”, destaca a PF.

Resposta da JBS

A assessoria de imprensa da JBS informou, por telefone, que o comunicado enviado pela companhia representa todas as empresas do grupo. Entre empresas investigadas pela Operação Carne Fraca estão algumas de propriedade da JBS, como a Seara e a Big Frango.

Comunicado

Em relação a operação realizada pela Polícia Federal na manhã de hoje, a JBS esclarece que não há nenhuma medida judicial contra os seus executivos. A empresa informa ainda que sua sede não foi alvo dessa operação.

A ação deflagrada hoje em diversas empresas localizadas em várias regiões do país, ocorreu também em três unidades produtivas da Companhia, sendo duas delas no Paraná e uma em Goiás. Na unidade da Lapa (PR) houve uma medida judicial expedida contra um médico veterinário, funcionário da Companhia, cedido ao Ministério da Agricultura.

A JBS e suas subsidiárias atuam em absoluto cumprimento de todas as normas regulatórias em relação à produção e a comercialização de alimentos no país e no exterior e apoia as ações que visam punir o descumprimento de tais normas.

A JBS no Brasil e no mundo adota rigorosos padrões de qualidade, com sistemas, processos e controles que garantem a segurança alimentar e a qualidade de seus produtos. A companhia destaca ainda que possui diversas certificações emitidas por reconhecidas entidades em todo o mundo que comprovam as boas práticas adotadas na fabricação de seus produtos.

A Companhia repudia veementemente qualquer adoção de práticas relacionadas à adulteração de produtos – seja na produção e/ou comercialização – e se mantém à disposição das autoridades com o melhor interesse em contribuir com o esclarecimento dos fatos.

São Paulo, 17 de março de 2017.

Mais tarde, no mesmo dia, a JBS lançou outra nota:

A JBS é a maior empresa de proteína no mundo, com 234 unidades, e emprega 230 mil pessoas. A companhia não tolera qualquer desvio de qualidade nos seus processos industriais. Em virtude do noticiário sobre a operação da Polícia Federal nesta sexta-feira (17), a companhia afirma que:

1) As fábricas da JBS exportam para mais de 150 países, como Estados Unidos, Alemanha e Japão. São anualmente auditadas por missões sanitárias internacionais e por clientes.

2) A JBS é a companhia brasileira com mais certificações BRC (British Retail Consortium), principal referência global em qualidade na produção de proteína. Entre outras certificações, a empresa segue os padrões ISO 9001, de gestão de qualidade. 

3) Nos últimos dois anos, as unidades da JBS receberam 340 auditorias de qualidade e atuaram com o mesmo zelo para assegurar igual comprometimento de seus fornecedores. 

4) A JBS conta, no Brasil, com mais de 2 mil profissionais dedicados exclusivamente a garantir a qualidade dos seus produtos. Por ano, cerca de 70 mil funcionários passam por treinamento obrigatório nessa área. 

5) A JBS é a maior interessada no fortalecimento da inspeção sanitária no Brasil. Um sistema rigoroso de controle de qualidade dá ao setor credibilidade perante o consumidor e reforça as oportunidades e exportação.

6) No despacho da Justiça Federal que deflagrou a operação, não há qualquer menção a irregularidades sanitárias ou à qualidade dos produtos da JBS e de suas marcas.

7) Os lamentáveis casos citados na imprensa sobre produtos adulterados não envolvem nenhuma das marcas da JBS. Nenhuma planta da JBS foi interditada pelas autoridades.

8) Nenhum dirigente ou executivo da empresa, ao contrário do publicado por alguns veículos, foi alvo de medidas judiciais na operação.

9) Um funcionário da empresa na unidade de Lapa, no Paraná, foi citado na investigação. A JBS não compactua com qualquer desvio de conduta de seus funcionários e tomará todas as medidas cabíveis. 

10) A companhia está à disposição das autoridades competentes, clientes e consumidores para qualquer esclarecimento que se faça necessário.

Por fim, a JBS reforça seu comprometimento com a segurança alimentar e com a qualidade de seus produtos e destaca seu compromisso histórico com o aprimoramento das práticas sanitárias no Brasil.

Em resposta a usuários nas redes sociais, a JBS fez alguns esclarecimentos:

“No despacho da Justiça, não há menção a irregularidades sanitárias da JBS. Nenhuma fábrica da JBS e suas marcas, Friboi e Seara, foi interditada. Constantemente, nós e nossas marcas são auditadas por missões sanitárias internacionais e por clientes”, informou a companhia após ser questionada sobre o que aconteceu de fato.

“A JBS é uma empresa de capital aberto e pertence a família Batista. Não existe nenhuma ligação entre o Lula e a JBS”, acrescentou a companhia.

Comercial polêmico 

A JBS publicou um vídeo de 1 minuto em seu canal no YouTube na qual exalta os padrões de qualidade de sua carne com a imagem de uma peça de picanha produzida em 12 de março e com data de vencimento em 11 de maio de 2013.

A imagem é de um selo com as informações do produto colado na peça de carne nobre da marca Friboi, processada na unidade de Campo Grande (MS). Versões em português e inglês do vídeo foram publicadas entre terça-feira e esta quarta-feira, dias após a JBS ser citada na Operação Carne Fraca por supostas irregularidades em seus produtos.

Por meio de uma nota, a assessoria da JBS informou que o filme foi produzido a partir de imagens de arquivo e que “a campanha prevê novas versões e atualizações que devem ser veiculadas ao longo dos próximos dias, reforçando o compromisso da companhia com alta qualidade e segurança alimentar em todos os produtos de suas marcas”.

Nas redes sociais, a companhia disse: “este filme foi criado com cenas de arquivo produzidas há alguns anos. Mas não se preocupe, nossos produtos de carne bovina tem 60 dias de validade. Então sempre olhe produção e validade! Reforçamos que qualidade e segurança alimentar, em todos os produtos de nossas marcas, são a nossa maior prioridade. Qualquer outra dúvida ou esclarecimento, conte com a gente”.

A propaganda

O vídeo começa com imagens de uma linha de produção da JBS e um narrador afirma que a companhia é referência mundial em qualidade e segurança alimentar. Em seguida, uma funcionária afirma estar “orgulhosa” de saber que o produto chega com qualidade e segurança ao consumidor. Entre os segundos 12 e 15 do vídeo, a etiqueta aparece sendo colocada no produto.

O locutor cita ainda que os mais de 230 mil funcionários da JBS têm o compromisso de fazer bem feito e sugere ao espectador que pergunte sobre a qualidade dos produtos da companhia a algum dos seus colaboradores.

“Se você conhece algum deles, pergunte sobre qualidade. Ele terá orgulho em responder […]. Qualidade é a maior prioridade da JBS e de suas marcas”, conclui o narrador.

Veja o vídeo:

Suspensão de abates

A JBS suspendeu a produção de carne bovina em 33 das 36 unidades do país por três dias, desta quinta-feira (23) até sábado (25). A empresa disse que o objetivo é ajustar a produção até que haja uma decisão sobre as restrições, adotadas por vários países, à importação de carne brasileira (veja nota na íntegra mais abaixo).

A suspensão temporária da produção afeta unidades do grupo em vários estados. Apenas em Anastácio (MS), em Diamantino (MT) e Itapetinga, na Bahia, mantiveram a produção.

Na próxima semana, a companhia disse que deve operar em todas as unidades com uma redução de 35% da capacidade produtiva.

Confira abaixo a nota da JBS na íntegra:

A JBS confirma que suspendeu, por três dias, a produção de carne bovina em 33 unidades das 36 que a empresa mantém no país. Para próxima semana, a Companhia irá operar em todas as suas unidades com uma redução de 35% da sua capacidade produtiva. Essas medidas visam ajustar a produção até que se tenha uma definição referente aos embargos impostos pelos países importadores da carne brasileira. A JBS ressalta que está empenhada na manutenção do emprego dos seus 125 mil colaboradores em todo o Brasil”.

Fonte: JBS, Folha de São Paulo, Estadão, Valor Econômico, G1, adaptada pela Equipe BeefPoint.

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress