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Saiba como fazer um hipômetro de baixo custo para medidas morfológicas de animais de produção

Além de ser de fácil fabricação e manuseio é também constituído por um material bastante resistente, leve e de baixo custo o que o torna uma ferramenta bastante promissora para a mensuração de medidas de carcaça, objeto de muitos estudos, como a altura, largura e comprimento de garupa. Por Priscila Silva e colaboradores, USP/Piassununga-SP.

Introdução

As mensurações morfológicas realizadas nos animais são ferramentas importantes na avaliação de características de crescimento e desenvolvimento corporal para os programas de melhoramento genético, pois, com o uso direto dessas características ou de outras, a elas correlacionadas, pesquisadores visam detectar animais geneticamente superiores que venham a ser selecionados para dar origem às próximas gerações.

De acordo com Pinheiro et al. (2007), embora medidas morfológicas isoladas não sejam suficientes para caracterizar as carcaças, combinações destas permitem melhores ajustes e comparações entre outras características dos animais. Como exemplo, as larguras entre íleos e ísquios são importantes medidas da conformação de bovinos, ovinos e caprinos, e têm relação com a facilidade ou dificuldade na hora do parto. As medidas de morfometria do sistema mamário, como altura e largura do úbere posterior, também possuem grande peso na avaliação da capacidade produtiva de bovinos leiteiros.

Os métodos de mensurações muitas vezes vêm acompanhados por uma margem de erro. Parte deste erro é devido ao dispositivo de medição, ou à técnica utilizada ou ainda à variação entre indivíduos responsáveis por mensurar as características de interesse, mas também, em grande parte ao tamanho da amostra. No entanto, mesmo que o tamanho da amostra não seja considerado ideal, o desenvolvimento de equipamentos eficientes e de fácil mensuração é essencial para assegurar a padronização e consistência das medidas, reduzindo os erros de amostragem.

O paquímetro e o hipômetro de duas barras são os mais populares instrumentos de medição e consistem em uma régua graduada, associada a dois apoios de medição, um fixo à régua e o outro ao cursor que, com um mínimo de folga, desliza sobre a régua graduada permitindo realizar a medida da distancia entre dois pontos definidos.

Muitos trabalhos realizados no campo da Medicina Veterinária e na Zootecnia utilizam esses equipamentos, como por exemplo, na avaliação da espessura da gordura subcutânea em bovinos de corte (Andrighetto et al., 2009), na mensuração de comprimento, largura e altura das membranas corioalantóide e amniótica, em bovinos (Assis Neto, 2009), na mensuração do comprimento e largura de testículos em bovinos (Forni e Albuquerque, 2004) e por fim na mensuração da profundidade torácica, altura, largura e comprimento da garupa nos bovinos (Bonin et al, 2010).

De acordo com Northcutt et al. (1992) as mensurações corporais como altura e comprimento são mais precisas na determinação do tamanho à maturidade do que o peso, uma vez que este pode apresentar flutuações periódicas em função do estado nutricional.

Em bovinos, as medidas biométricas dos animais vivos são essenciais para a avaliação de seus desempenhos em programas de seleção. Além de serem herdáveis essas características apresentam correlações favoráveis e elevadas com a produção dos animais. Em um estudo sobre características de carcaça na raça Nelore, realizado por Bonin et al. (2010), os valores de herdabilidade e correlações genéticas e fenotípicas entre as características altura, largura e comprimento de garupa com peso vivo e área de olho de lombo (AOL), essa última medida por ultrassonografia, mostraram-se bastante relevantes (Tabela 1). Segundo os mesmos autores a correlação de medidas de garupa com a AOL é benéfica e de grande relevância, visto a alta correlação da AOL com o rendimento de cortes nobres da carcaça.

 Tabela 1. Parâmetros genéticos para área de olho de lombo (AOL), peso vivo (PV), e altura (ALT), comprimento (COMP) e largura (LARG) de garupa na raça Nelore. Adaptado de Bonin et al, (2010). Herdabilidade na diagonal em negrito, erro padrão entre parênteses, correlações genéticas e fenotípicas acima e abaixo da diagonal, respectivamente.

Tendo em vista a importância dessas características na produção animal e nos programas de melhoramento genético o objetivo deste trabalho foi apresentar uma maneira de construir um equipamento de medição prático, de baixo custo e com a mesma eficácia dos equipamentos encontrados comercialmente, que nem sempre estão à disposição no mercado, em especial de regiões em desenvolvimento.

Material e métodos

Materiais

Os tubos e as conexões utilizadas na confecção deste equipamento são tubos de PVC soldáveis, hidráulicos para água fria, encontrados em qualquer loja de material de construção. Os materiais utilizados foram:

  1. 42 cm de tubo PVC 32 mm (figura 1)
  2. 130 cm de tubo PVC 25 mm (figura 1)
  3. 78 cm de tubo PVC 20 mm (figura 1)
  4. 2 Tê de redução 32 x 25mm (figura 2)
  5. 1 Tê de 25 mm (figura 2)
  6. 4 buchas curtas de redução de 25 x 20 mm (figura 3)
  7. 1 adesivo plástico (figura 4)
  8. 1 serra para tubos PVC (figura 5)
  9. 1 lixa nº 100 (figura 6)
  10. 1 fita métrica de 1,5 m para costura (figura 7)
  11. 1 fita adesiva transparente 45 mm (figura 8)

Montagem

A seguir serão apresentadas as etapas para a montagem do equipamento nas quais serão descritos os procedimentos adotados em cada uma delas.

1ª etapa: O tubo de 32 mm foi serrado em duas partes sendo uma de 36 cm lixada com a lixa nº 100 em apenas uma das extremidades e outra de 6 cm lixada em ambas as extremidades (Figura 9).

Importante: Todas as extremidades das peças que foram acopladas a outras (tubos e conexões) foram suficientemente lixadas a fim de garantir um perfeito encaixe e adesão entre elas quando coladas com o adesivo plástico.

2ª etapa: O tubo de 20 mm foi dividido em 4 partes, sendo 2 partes com 13 cm cada e duas partes com 26 cm cada. Todas as peças obtidas nessa etapa foram lixadas em apenas uma das extremidades (Figura 10).

3ª etapa: Duas buchas curtas de redução de 25 x 20 mm foram coladas nas extremidades 1 e 2 do Tê de 25 mm para encaixe das peças, obtidas na etapa 2, sendo a de 26 cm na extremidade 1 e a de 13 cm na extremidade 2. Na extremidade 3 da mesma peça foi colado o tubo de 25 mm (Figura 11).

4ª etapa: Uma bucha curta de redução de 25 x 20 mm foi colada na extremidade 3 do Tê de redução 32 x 25mm para o encaixe da outra peça de 26 cm obtida na etapa 2. Na extremidade 1 do Tê de redução 32 x 25mm foi colada a peça de 6 cm obtida na etapa 1 (Figura 12).

5ª etapa: A última bucha curta de redução de 25 x 20 mm foi colada na extremidade 3 do outro Tê de redução 32 x 25mm para o encaixe da peça 13 cm obtida na etapa 2. Na extremidade 1 desta mesma peça foi colado o peça de 36 cm obtido na etapa 1 (Figura 13). A extremidade 2 foi então colada na outra extremidade da peça de 6 cm já conectada às outras peças descritas na etapa 4 (Figura 14) obtendo assim o cursor.

6ª etapa: O tubo de 25 mm da peça montada na 3ª etapa foi acoplado na extremidade do cursor de modo que este pudesse “correr” com uma pequena folga sobre o tubo de 25 mm. Para a correção das medidas entre os apoios de medição foi medida uma distancia conhecida e de posse dos desvios a fita métrica foi cortada na marcação de 75 cm e fixada com a fita adesiva na régua de medição (tubo de 25 mm) da peça montada na etapa 3 (Figura 15). O equipamento finalizado é apresentado na figura 16.

Utilização do equipamento

A Figura 17 apresenta o equipamento, sendo utilizado em diversas morfometrias de bovinos. Com pequenas modificações de escala, o mesmo equipamento pode ser adaptado para medições em espécies menores ou maiores. No Grupo de Melhoramento Animal e Biotecnologia da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo esse equipamento já foi utilizado em cerca de 2.500 medições em bovinos de corte.

Conclusão

O equipamento apresentado é considerado bastante prático no auxílio para o desenvolvimento de pesquisas que envolvem as medidas corporais e em propriedades em que se realizam um programa de melhoramento genético. Além de ser de fácil fabricação e manuseio é também constituído por um material bastante resistente, leve e de baixo custo o que o torna uma ferramenta bastante promissora para a mensuração de medidas de carcaça, objeto de muitos estudos, como a altura, largura e comprimento de garupa.

* Priscila Silva Oliveira, Marina de Nadai Bonin e José Bento Sterman Ferraz (Grupo de Melhoramento Animal e Biotecnologia da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo)

BIBLIOGRAFIA

Andrighetto, C.; Araújo, L.C.A.; Cardassi, M.R.; Santos, J.; Lupatini G.C.; Fonseca R. Características de carcaça de bovinos da raça Nelore suplementados durante o período seco com sal proteinado e concentrado. V Simpósio de Ciências da Unesp Dracena, 2009.

 

ASSIS NETO, Antonio Chaves de; MORCELI, J.A.B.; da Fonseca R.; AMBRÓSIO, C. E.; PEREIRA, FLÁVIA THOMAZ VERECHIA; MIGLINO, Maria Angelica. Evolução morfométrica dos anexos embrionários e fetais bovinos obtidos por monta natural, com 10 a 70 dias da gestação. Pesquisa Veterinária Brasileira (Impresso), v. 29, p. 859-862, 2009.

 

BONIN, Marina de Nadai; FERRAZ, José Bento Sterman; SILVA, S. L; Gomes, R.C.; CUCCO, D.C.; SILVA NETO, P.Z.; SANTANA JUNIOR, M. L.; ELER, Joanir Pereira; MATTOS, E. C.; PEDROSA, V.B. ; OLIVEIRA, P. S.; GROENEVELD, E. . Genetic parameters for body measurement and ultrasound carcass traits in Nellore cattle. In: 9th World Congress on Genetic Applied to Livestock Production, 2010, Leipzig. Proceedings of 9th World Congress on Genetic Applied to Livestock Production, 2010.

 

FORNI, S., ALBUQUERQUE, L.G. Avaliação de características biométricas de testículos de bovinos Nelore. In: V SIMPÓSIO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE MELHORAMENTO ANIMAL. 2004. Pirassununga SP. 2004

 

NORTHCUTT, S.L. et al. Adjusting weight for body condition score in Angus cows.

Journal of Animal Science, v.70, n.5, p.1342-1345, 1992.

 

PINHEIRO, R.S.B.; SILVA SOBRINHO, A.G.; MARQUES, C.A.T. et al. Biometria in vivo e da carcaça de cordeiros confinados. Archivos de Zootecnia, v.56 n.216, p.955-958. 2007.

3 Comments

  1. DOUGLAS MENA DO COUTO disse:

    Excelente ideia! Parabéns.

  2. André Mendes Jorge disse:

    Caros Priscila, Marina e Bento. PARABÉNS pelo excelente tutorial produzido.
    Forte abraço, André Jorge

  3. Priscila Silva Oliveira disse:

    Obrigado à todos!! É sempre um prazer enorme poder contribuir com a pesquisa!

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