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Breve história dos enchidos e fumados

A origem dos fumados está localizada no tempo em que o homem sentiu necessidade de conservar a carne por longos períodos de tempo. Descobriu dessa forma dois métodos, a salga e a defumação.

Assim a salga era aplicada à carne de porco e à carne de vaca e a defumação aplicada à carne de porco e às aves. Gregos e Romanos, depois de descobrirem a técnica de defumação passaram igualmente a fazê-lo mesmo depois de a salgarem.

Os aperfeiçoamentos desta técnica levaram inclusive a defumar os alimentos com diferentes tipos de lenha, pois descobriram que esta modificava o sabor dos alimentos tornando-os, em alguns casos, ainda mais saborosos.

Existem ainda registros que atribuem a origem dos enchidos e fumados ao período primitivo quando os intestinos dos animais eram enchidos com carne moída. Pode igualmente encontrar-se ainda uma referência na Odisséia de Homero, em 99 a.C., a um enchido com sangue e gordura revestido de tripa de cabra. A defumação é um método de cozimento lento pela presença indireta de fogo. Pode ser feito utilizando um defumador, que é um aparelho especialmente desenhado para esta proposta. Uma churrasqueira com tampa também pode ser utilizada, colocando uma assadeira com água abaixo da carne posta na grelha.

O processo de defumação de alimentos pode ser feito a quente, para carnes como de suíno, de bovino, de peixe e de ave, com utilização de fogo e fumaça. Pode-se, ainda, defumar queijos em processo a frio, apenas com a aplicação de fumaça. Existem dois tipos de defumação: a quente (75oC) e a fria (30 a 50oC).

As peças devem ser penduradas no defumador, mantendo-se uma certa distância entre elas, bem como da parede, a fim de garantir a circulação da fumaça e do calor. A produção de fumaça é feita normalmente com serragem de eucalipto, que é um produto mais fácil de ser encontrado no mercado. De modo geral, madeiras nobres como peroba, cedro e pau-marfim vão bem na defumação. A serragem de pinus não é indicada por causa da possibilidade de apresentar resina.

A fumaça tem um efeito conservante que, associado ao calor, resulta na redução da umidade, essencial no controle do desenvolvimento de microrganismos. Muitos componentes da fumaça têm efeito bactericida e desinfetante. Ainda há na fumaça o efeito dos fenóis que, por ser antioxidativo, inibem a oxidação das gorduras e evitam o sabor de ranço.

A matéria-prima para fabricar embutidos e defumados deve ser proveniente de animais saudáveis, descansados no pré-abate e abatido em local limpo e higiênico, ou seja, a peça para defumação deve ser adquirida em locais que vendam carne inspecionada e que esse produto seja manipulado de forma adequada.

Condimentação da peça

O uso do sal (NaCl) na carne evita o desenvolvimento dos microrganismos, desidrata e, com isso, aumenta o tempo de conservação. Esse sal, associado ao uso de açúcar e outros condimentos, atuam estimulando ou impressionando o paladar. Outros sais também podem ser utilizados em carnes, tais como os sais de cura (nitrato ou nitrito de sódio ou potássio), que são importantes para evitar o botulismo (quando a carne é embalada a vácuo) e microrganismos em geral, responsáveis pela deterioração.

Em relação às características sensoriais, o uso de nitrato ou nitrito desenvolve na carne a coloração rósea que se manifesta após seu uso e durante a defumação. Os sais de cura podem ser encontrados em casas que vendem equipamentos, utensílios e embalagens para açougueiro ou em lojas onde são vendidas especiarias. Esse produto pode ser vendido como “condimento para assados” ou “condimento para cura rápida”, etc. Nesse caso, o nitrito vem misturado ao sal de cozinha de forma a evitar ingestões em altas doses desse produto. Também na embalagem é descrita a quantidade do condimento para a massa cárnea, sendo que esse cálculo deve ser feito de forma cuidadosa. O excesso prejudica a saúde.

Os produtos cárneos desenvolvem durante a defumação características sensoriais desejáveis, como a coloração externa dourada, sabor de defumado, textura e suculência agradável. O sabor desses produtos pode ainda ser incrementado pelo uso de especiarias (canela, noz moscada, cravo-da-índia) e ervas finas (estragão, salsa, mangerona, alecrim, sálvia, anis, cebolinha, manjericão, etc.).

Prevenção de contaminação alimentar

Lembre-se sempre dos 4 passos essenciais para evitar a contaminação alimentar na defumação de carnes:

1- Limpeza – lave as mãos e as superfícies freqüentemente.
2- Separar – separe os alimentos crus dos cozidos para evitar contaminação cruzada.
3- Cozinhar – cozinhe até atingir temperaturas apropriadas.
4- Refrigerar – refrigere logo que possível.

Descongele a carne antes de defumar

Descongele as carnes completamente antes de começar a defumar. Como a defumação se utiliza de temperaturas baixas para cozinhar, a carne levaria muito tempo para descongelar no processo, entrando na “zona de perigo” (entre 5o e 65oC) onde bactérias perigosas podem se multiplicar. A carne descongelada também cozinha mais uniformemente.

Nunca descongele as carnes à temperatura ambiente. Mantê-las em temperatura baixa ao descongelar, é essencial para evitar o crescimento de bactérias prejudiciais. O método mais seguro para descongelar carnes é no refrigerador. Cozinhe e recongele-as no prazo de 1 a 2 dias. O forno de microondas pode ser utilizado para descongelar mais rapidamente. Defume a carne imediatamente.

O alimento também pode ser descongelado em água fria. Certifique-se que a pia ou recipiente utilizado para submersão, estão limpos antes de utilizá-los. Dois métodos pode ser usados para este tipo de descongelamento:

1- mergulhe completamente a embalagem hermeticamente fechada. Troque a água a cada 30 minutos.
2- mergulhe o alimento em embalagem fechada hermeticamente em água fria em corrente contínua. Uma vez descongelada, deve ser cozida imediatamente.

Marine no refrigerador

Algumas receitas recomendam marinar a carne por várias horas ou dias, tanto para amaciar quanto para dar sabor. O ácido da marinada quebra o tecido conectivo das carnes.

Sempre marine o alimento no refrigerador e nunca na pia. Se pretender utilizar uma parte da marinada para regar durante a defumação ou como molho no alimento preparado, reserve uma porção da marinada antes de temperar a carne. Não reutilize a marinada da carne crua em alimentos crus, a menos que seja fervida antes, para destruir as bactérias perigosas.

Cozimento parcial

Algumas pessoas gostam de cozinhar parcialmente a carne para reduzir o tempo de defumação. Nesse caso, a carne deve ir do cozimento diretamente para a defumação. O cozimento parcial da carne com muita antecedência pode permitir que bactérias perigosas sobrevivam e se multipliquem num nível que o cozimento seguinte não seja capaz de destruí-las. E assim que o alimento for colocado para defumar, cozinhe até que atinja uma temperatura segura determinada por um termômetro apropriado.

Utilização de defumador

Cozinhe os alimentos em defumadores feitos com materiais aprovados para contato com alimentos. Não defume os alimentos em recipientes improvisados como latas galvanizadas ou outros materiais não apropriados para cozimento. Lembre-se que esse procedimento pode resultar em contaminação química residual.

Ao utilizar um defumador com carvão, compre blocos de carvão comercial ou pedaços de madeira aromática. Coloque o defumador numa área limpa, bem ventilada, longe de árvores, matagal ou edifícios. Use somente elementos aprovados para iniciar o fogo: nunca utilize gasolina ou removedor, por exemplo.

Siga as instruções do fabricante para a ignição do carvão. Deixe o carvão ficar bem avermelhado com cinzas ao seu redor – cerca de 10 a 20 minutos, dependendo da quantidade. Empilhe o carvão ao redor da pingadeira. Adicione cerca de 15 blocos de carvão a cada hora. O sabor mais satisfatório é obtido quando se utiliza pedaços ou cavacas de madeira aromatizada. Mergulhe os pedaços em água para evitar que levantem chamas e adicione 1/2 xícara de cavacas ao carvão se desejar.

Uso de dois termômetros para defumação segura

Para certificar-se de que a carne defume seguramente, são necessários dois tipo de termômetros, um para o alimento e outro para o defumador. Um termômetro é necessário para monitorar a temperatura do ar no defumador ou grill, assegurando-se de que fique entre 105 a 150oC por todo o processo de cozimento. Muitos defumadores possuem um termômetro embutido.

Use um termômetro alimentar para determinar a temperatura da carne. Termômetros apropriados para forno podem ser introduzidos na peça e permanecer durante a defumação.

O tempo de cozimento depende de muitos fatores: o tipo da carne, seu tamanho e formato, a distância do alimento do calor, a temperatura do carvão e o próprio tempo ambiente. Pode levar de 4 a 8 horas para defumar uma carne, por isso é imperativa a utilização de termômetros para monitoração de temperatura.

Defume o alimento em temperatura interna e ponto de cozimento seguros:

– peito de aves – 80°C
– ave inteira – 85°C
– bovino, vitela e assados de carneiro – 65 – 80°C
– carne de porco – 70 – 80°C

Se utilizar um molho, faça-o durante os últimos 15 – 30 minutos da defumação para evitar o dourar excessivo ou queima.

Refrigere prontamente

Refrigere a carne no prazo de 2 horas após a remoção do defumador. Corte a carne em porções menores ou fatias, coloque em recipientes rasos, tampe e refrigere. Use no prazo de 4 dias ou congele.

Desvantagens da defumação caseira tradicional

As desvantagens da defumação tradicional estão relacionados com:
a) a presença de compostos benzopirenos (cancerígenos), presentes na fumaça, que podem se depositar na superfície da carne, quando a distância entre a fonte de calor e o produto é pequena (igual ou menor do que 40 centímetros) ou na combustão incompleta da madeira;

b) as perdas no rendimento do produto, que variam de 5% a 10%, dependendo do corte escolhido e do tempo de defumação.

Fontes consultadas

USDA – Departamento de Agricultura dos EUA.

Bressan et al. Produtos Cárneos Curados e Defumados: Mais Sabor e Maior Valor Agregado. Ed Ufla.

0 Comments

  1. João Carlos de Campos Pimentel disse:

    Prezada Dra Licinia de Campos,

    Parabéns pelo excelente desenvolvimento do tema.

    Tenho uma dúvida. Em relação à seguinte afirmação:

    “As desvantagens da defumação tradicional estão relacionados com:
    a) a presença de compostos benzopirenos (cancerígenos), presentes na fumaça, que podem se depositar na superfície da carne, quando a distância entre a fonte de calor e o produto é pequena (igual ou menor do que 40 centímetros) ou na combustão incompleta da madeira;”

    Assim peço o seguinte esclarecimento:

    Existe algum outro método de defumação que não seja o tradicional e ao qual não esteja associada a presença de compostos benzopirenos nos defumados?

    Atenciosamente,

    João Carlos de Campos Pimentel
    CATI-SAA-SP

  2. Licinia de Campos disse:

    Prezado leitor João Carlos,

    Sim, existem maneiras não tradicionais de defumação.

    Antigamente, a defumação era feita em fumeiros caseiros ou improvisada em latões inapropriados, técnicas as quais ainda são utilizadas por leigos sem orientações convenientes sobre como construir um defumador caseiro apropriado.

    Atualmente, as indústrias, ainda que pequenas, se utilizam de defumadores industriais ou semi, com capacidades e distanciamento planejados, além de técnicas avançadas, nas quais são utilizados produtos químicos bactericidas e bacteriostáticos em dosagens controladas. Assim a chance de deterioração ou mesmo de formação de compostos nocivos fica minimizada.

    No caso dos produtos fumados, o aroma pode resultar do processo natural ou também da adição de aromas de fumo. Além de contribuir para uma boa conservação, a fumagem dá aos alimentos um aroma agradável. A carne, o peixe e os queijos são alguns dos produtos que podem ser fumados.

    Porém, os fumados podem trazer problemas para a nossa saúde, devido à eventual presença de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. Muitas destas substâncias, cuja toxicidade está comprovada, são potencialmente cancerígenas. É o caso dos benzopirenos e benzoantracenos, entre outros.

    Todos os alimentos que sofrem o cozimento, ou outros processos de combustão, como o café, carnes na brasa, assados e os que não sofrem combustão, mas que são embalados em materiais que liberam benzopirenos, como a água engarrafada em recipientes de plástico, possuem o benzopireno.

    Não existe em quase todos os países do mundo uma legislação que controle a quantidade mínima de benzopirenos .Na legislação espanhola, o limite para cada composto é de dois microgramas por quilo e o total não deverá ultrapassar os cinco microgramas por quilo de gordura.

    Quero esclarecer que não é minha especialidade técnicas de defumação de alimentos, tendo, portanto me baseado em livros especializados do setor, que aliás constam da bibliografia consultada.

    Atenciosamente,

    Dra Licinia de Campos
    CRN 17555P

  3. DANIELA NARCISO PACHECO disse:

    Licinia,

    Adorei seu artigo, mas em uma recente pesquisa sobre o tema, descobri outros tipos de defumação além dos que você cita em seu artigo (defumação a frio = cold smoke e defumação a quente = hot smoke). Porém, gostaria de saber se existe e como são chamados no Brasil, os seguintes tipos de defumação:

    * pan smoke (a defumação feita em recipiente sobre o fogão) e
    * smoke roast (a defumação feita com temperatura acima de 150c).

    Grata,

  4. Licinia de Campos disse:

    Cara colega Daniela,

    Existem vários métodos de defumação, caseiros, semi-industriais e industriais.

    Podemos citar como métodos indiretos a utilização de grills comuns como defumadores, e até pode-se obter excelentes resultados por esse método. É o que você chama de pan smoke. Há uma variação que é colocar uma panela de água acima das brasas para criar vapor, e quando a água ferve este vapor se mistura com a fumaça e cria um meio ambiente úmido, realizando o mesmo tipo de trabalho, mantendo a temperatura ambiente dentro do defumador (grill ou defumador) regulada a 100 graus C mais ou menos).

    Outro método requer um aparelho de defumação onde existe uma camada de brasas abaixo de uma panela de água (ou vinho ou sucos) e a carne é colocada diretamente acima da panela com água para a mesma proposta descrita acima.

    Existem alternativas utilizando combustíveis diferenciados: propano ou eletricidade.

    Em receitas estrangeiras é muito comum encontrar-se o nome smoke roast para peças assadas no forno comum a 220 graus C, utilizando-se temperos e condimentos semelhantes aos utilizados na defumação, e daí o nome.

    Qualquer outra dúvida, estamos às ordens,
    Licinia de Campos

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