Atacado –03-02-2015
4 de fevereiro de 2015
Impressora 3D de carne se tornará tecnicamente factível
5 de fevereiro de 2015

Bem-estar animal e preocupação da sociedade em busca do elo perdido – Temple Grandin – Parte 1/2

Por Temple Grandin, professora de Ciência Animal da Universidade do Estado do Colorado e especialista em manejo de bovinos, métodos de abate humanitário e bem-estar animal.

1. Introdução

A indústria de carnes precisa estar ciente de que os jovens, por volta dos vinte anos, são a primeira geração a crescer com computadores e telefones celulares. Isso muda a forma como eles se comunicam. As mídias sociais permitem que as pessoas interajam em rede umas com as outras. Esse é um fenômeno relativamente recente, com o Facebook sendo criado em 2004, o Twitter em 2006 e o YouTube em 2005.

Hoje, a maioria dos telefones possuem câmeras de vídeos e fotos de abusos feitos com animais têm mais chances de serem postadas na internet. Todos esses meios eletrônicos se somam ao fato de que muitos jovens nos países desenvolvidos têm pouco conhecimento sobre de onde vem seu alimento.

Candice Croney, da Purdue University, e seus alunos, conduziram uma pesquisa e descobriram que somente 31% dos adultos jovens dos Estados Unidos já visitaram uma fazenda (segundo informação pessoal de Croney passada para Temple Grandin em 2014). Uma pesquisa no Reino Unido mostrou que 50% dos adultos jovens de menos de 23 anos poderiam não relacionar o bovino de corte com o bife e 8% pensam que o bacon vem do trigo.

Os consumidores jovens têm o desejo de se conectar com a origem de seu alimento. A indústria de carnes precisa começar a se comunicar de forma mais eficaz com esses jovens abastados. Sua influência se estenderá além do mundo desenvolvido, porque eles escreverão a futura legislação e farão a política futura que terá um efeito no mundo todo.

Nesse artigo, Temple Grandin sumariza as questões mais importantes de bem-estar animal e como os diferentes segmentos da indústria de carnes serão afetados por elas. Nessa ampla revisão, não será possível fazer uma revisão profunda sobre todas as questões. A meta desse trabalho é destacar algumas das áreas mais críticas e fornecer referências que serão úteis aos cientistas que possam não estar familiarizados com questões de bem-estar animal.

2. Dois tipos de questões de bem-estar animal

Há dois tipos básicos de questões de bem-estar animal. Elas são abuso ou negligência com os animais, causados pela ação direta dos humanos e questões de bem-estar onde ou um processo, ou um equipamento, precisa ser mudado para melhorar o bem-estar animal.

2.1. Exemplos de tratamentos abusivos ou negligência

Durante a visita da autora a centenas de fazendas e abatedouros em mais de vinte países, ela observou que o abuso animal ocorre em locais que têm ou má supervisão dos funcionários ou métodos abusivos se tornam uma prática “normal” da indústria. Muitos dos vídeos revelados feitos nos Estados Unidos mostram funcionários em fazendas ou em frigoríficos abusando dos animais batendo, atirando-os ou os chutando. Os problemas mostrados nesses vídeos foram principalmente devido à supervisão inadequada dos funcionários. Há também vários vídeos de países em desenvolvimento que mostram manejo abusivo.

A correção de problemas com abuso requererá de gestores que estão comprometidos a acabar com isso. A negligência também pode levar a sérios problemas de bem-estar. Alguns exemplos de problemas de negligência com a saúde são neoplasia ocular avançada (câncer no olho) em bovinos ou prolapsos retais necróticos em suínos. Uma pesquisa feita nos Estados Unidos mostrou que os produtores de bovinos estão agora fazendo um trabalho melhor de comercializar as vacas antes que o câncer de olho avance.

Outro exemplo de negligência é deixar animais muito magros e fracos. Ahola et al. (2011) descobriram que uma porcentagem maior de vacas leiteiras são comercializadas com condição corporal baixa comparado com os bovinos de corte. Contusões ainda são problemas importantes em alguns países. As pessoas trabalharão para reduzir as contusões quando tiverem que pagar pelos danos à carne.

Muitos sérios problemas de bem-estar animal que ocorrem durante o transporte, como perdas elevadas por mortalidade, lesões e contusões podem ser facilmente reduzidos supervisionando os transportadores para parar de fazer entregas de forma brusca, reduzir as densidades de animais no veículo e treinar motoristas para reduzir paradas súbitas e evitar acelerar demais. Há extensas revisões de literatura sobre transporte em Grandin (2014), Schwartzkopf Genswein et al. (2012) e Appleby, Cussen, Garcias, Lambert, e Turner (2008).

2.2. Problemas de bem-estar que requererão mudanças nos equipamentos ou procedimentos na planta de abate

Esses problemas podem ser divididos em duas subcategorias. São problemas que podem ser corrigidos ou reparando ou fazendo uma ligeira modificação nos equipamentos ou procedimentos existentes. O segundo tipo de problema requererá mudanças importantes no equipamento.

2.2.1. Exemplos de mudanças pequenas

Um exemplo de uma pequena mudança é a melhora na pistola de dardo cativo usado para insensibilizar o animal através de uma melhor manutenção do equipamento.

Outros exemplos: o uso de bastões elétricos para mover bovinos ou suínos foi reduzido pelo treinamento de funcionários e pela adição de luz na área de contenção para reduzir tropeços e recusas em se mover. O treinamento de funcionários sobre métodos de manejo de bovinos e aves pode também reduzir contusões e lesões nas carcaças.

Outros exemplos de melhoras simples são instalação de pisos antiderrapantes no local da insensibilização, agendamento das entregas dos caminhões para reduzir o tempo de espera para descarregamento e instalação de suporte de cabeça para melhorar a precisão do processo de insensibilização.

Os suportes de cabeças precisam ser bem projetados e operados corretamente para reduzir o estresse. Os bovinos que são forçados a entrar contra a vontade no suporte de cabeça têm maiores níveis de cortisol comparado com os animais insensibilizados sem o uso desse suporte.

Um estudo no Chile mostrou que a porta da cabine de insensibilização causou muitas contusões. Modificações simples nas válvulas de controle de portas pneumáticas reduzirão as contusões permitindo que o operador tenha um controle mais preciso do movimento descendente da porta.

2.2.2. Exemplos de mudanças importantes

A segunda subcategoria será muito mais cara para remediar porque o equipamento ou a instalação animal na fazenda requererá de mudanças e renovações importantes. Alguns exemplos são a mudança em fazendas de suínos de estábulos de gestação individual de porcas para instalações grupais ou substituição de pequenas gaiolas para galinhas poedeiras com sistemas sem gaiolas ou sistemas de gaiolas equipadas.

3. Como questões de bem-estar animal afetam segmentos diferentes da indústria de carne?

3.1. Frigoríficos

Comparado com as fazendas, as questões de bem-estar animal nas plantas de abate são mais fáceis e menos caras de remediar. As pessoas sempre perguntam se os animais sabem que estão indo para o abate. Os dados de cortisol coletados em fazendas durante a contenção em suportes de cabeça e no abatedouro indicam que os níveis de estresse são similares em ambos os locais. Bovinos e suínos que ficam agitados um pouco antes do abate têm mais lactato e menor qualidade da carne.

Pesquisas mostraram que o uso de classificação numérica pode ser usado para documentar como mudanças simples melhoraram a insensibilização e manejo animal. Esse sistema de classificação foi descrito por Grandin. Algumas mudanças simples implementadas para prevenir o retorno da sensibilidade em suínos foram o monitoramento do local de insensibilização elétrica e melhora na sangria.

Outras mudanças simples que ajudam a prevenir o retorno da sensibilidade é a incisão no peito dos bovinos após a insensibilização com pistola de dardo cativo e substituição de insensibilização elétrica apenas na cabeça com insensibilização na cabeça e no coração.

Pessoas administram as coisas que medem. A mensuração é essencial, porque permite que o gestor determine se os procedimentos estão melhorando ou piorando.

Em uma pesquisa com mais de 40 plantas de carne bovina dos Estados Unidos que mantinham padrões relativamente altos, a porcentagem média de bovinos insensibilizados com um único tiro da pistola de dardo cativo foi de 97%, a porcentagem de vocalização (mu ou abaixo) na área de insensibilização foi de 2% e a porcentagem de animais que se moveram por influência do bastão elétrico foi de 15% para boi gordo e 29% para vacas e touros maduros.

Uma planta no México classificou mais de 8.000 bovinos e os escores foram de 51% insensibilizados com um único tiro, 10% de vocalização e 80% de animais se movimentando com o bastão elétrico.

A autora elogia a gestão das plantas para obtenção de extensivos dados de base, mas agora, eles precisam trabalhar para melhorar seus escores.

3.1.1. Abate sem insensibilização

A área mais controversa do ponto de vista de bem-estar é o abate religioso, onde a insensibilização pré-abate não é usada. Muitas autoridades muçulmanas permitirão a insensibilização pré-abate. O uso de insensibilização feita adequadamente pré-abate elimina problemas de bem-estar associados com o abate religioso sem a insensibilização. Entretanto, muitos rabinos judeus ortodoxos e muçulmanos requerem um animal consciente que é abatido sem insensibilização. Está além do âmbito desse artigo discutir se o abate sem insensibilização deve ou não ser proibido.

Há duas questões separadas sobre bem-estar animal quando se abate sem insensibilização que estão sendo avaliadas. Elas são o método usado para segurar e conter o animal e a dor do corte da garganta. Em alguns países, métodos altamente estressantes de contenção são usados, como suspender o animal por uma perna e arrastar e caixas apertando as pernas.

Vídeos feitos escondidos foram postados online sobre a suspensão e arraste do animal, que ilustra severos problemas de bem-estar animal. Suspender um animal por uma perna é mais estressante do que a retenção vertical. Para bovinos grandes, os dois principais métodos de contenção que podem ser usados para substituir a suspensão e o arraste ou a suspensão e a elevação são: caixa de contenção em uma posição vertical onde o animal é mantido na posição em pé ou um curral que rola o animal para que fique sobre suas costas.

Pesquisadores descobriram que inverter os bovinos por mais de 90 segundos é mais estressante do que a contenção vertical. A vocalização é uma medida útil para detectar problemas de bem-estar associados com uso de bastão eletrônico ou pressão excessiva exercida por dispositivos de contenção ou suportes de cabeça. A vocalização em bovinos durante a contenção e o manejo está associada com medidas fisiológicas de estresse.

Em um dispositivo de contenção vertical operado adequadamente e bem projetado usado para abates kosher sem insensibilização, a porcentagem de bovinos que vocalizam no box foi de menos de 5%. Em sistemas mal projetados, onde pressão excessiva foi aplicada, a porcentagem de bovinos que vocalizou foi de 25% e 32%. Soltar o dispositivo que serve para conter a cabeça de forma que ele aplique menos pressão ao pescoço do animal reduziu a porcentagem de bovinos que vocalizaram de 23% para 0%.

Os boxes de contenção vertical tiveram uma porcentagem menor de vocalização de bovinos comparado com a contenção invertida, mas a luta foi maior no box de contenção vertical. Eles não apresentaram diferença entre a luta que ocorreu antes ou depois da perda da capacidade de ficar em pé. O ato de se mexer em movimentos de luta não é uma questão de bem-estar animal depois que o animal perde a capacidade de ficar em pé e fica inconsciente.

O bem-estar animal para abates sem insensibilização pode ser melhorado pela contenção de um animal de uma forma menos estressante, mas existem ainda sérias questões de bem-estar animal relacionadas a dor e sofrimento do corte da garganta. Alguns dos principais problemas são aspiração de sangue na traqueia e fechamento das artérias que resultam em sensibilidade prolongada.

Um vídeo feito escondido postado online mostra um vitelo totalmente consciente com sensibilidade prolongada. Mudanças nas técnicas de corte podem reduzir os problemas acima. Pesquisadores afirmam que cortar perto da posição C1 (cervical 1) pode cortar os nervos sensoriais e reduzir sensações aversivas da aspiração de sangue. Boas técnicas podem reduzir o tempo requerido para um animal perder a sensibilidade e perder a consciência. Quando uma técnica hábil é usada, mais de 90% dos bovinos ficarão inconscientes dentro de 30 segundos.

Os bovinos requerem mais tempo para perder a sensibilidade comparado com ovinos. Isso pode ser devido às diferenças na anatomia. Dessa forma, os bovinos podem ter mais problemas de bem-estar animal do que os ovinos. Pesquisadores reportaram que cortar bezerros de 109-170 quilos com uma faca de 24,5 centímetros resultou em uma dor similar à descorna. A faca tinha sido afiada em um moedor e pode ter sido muito curta para alcançar totalmente o pescoço.

Grandin observou que acenar com a mão na cara do novilho levou a uma reação comportamental maior do que o corte kosher com uma faca especial longa e afiada em pedra de amolar. Essa observação foi feita em uma planta onde técnicas altamente habilidosas eram usadas.

Os autores também observaram que alguns bovinos podem permanecer totalmente sensíveis e por vários minutos e continuar com capacidade de caminhar. O comprimento da faca é outro fator que precisa ser estudado. Se a faca é muito curta, a ponta pode fazer uma ferida. A autora observou muitos casos de técnicas de abate religioso desleixado e que o bem-estar geral do animal teria melhorado com a insensibilização.

3.2. Pesquisadores

Os pesquisadores precisam entender que há uma diferença entre um método ou um procedimento que é adequado para uso em laboratório de pesquisa e a necessidade de procedimentos mais simples para uso em frigoríficos ou com produtores.

Os protocolos de Avaliação da Qualidade de Bem-estar Europeia para uso em fazendas são um bom exemplo de um sistema que é uma excelente ferramenta de pesquisa com muitas medidas de bem-estar, mas que é muito complexo e consome muito tempo para uso rotineiro por auditores e produtores comerciais.

Nesses sistemas, várias medidas de bem-estar animal, como escore de condição corporal e claudicação são combinados com medidas de comportamento, como a presença de estereotipias e comportamento de medo. Esse contém ferramentas muito boas de avaliação, mas é necessário ser simplificado para uso comercial.

A tendência na avaliação de bem-estar animal é afastar-se de recursos baseados em requerimentos, como especificações sobre design do equipamento para um resultado baseado em medidas no animal.

A Qualidade do Bem-estar também inclui Avaliações Qualitativas de Comportamento baseado na avaliação emocional dos animais. Depois de uma Avaliação da Qualidade do Bem-estar é conduzida, um simples escore de bem-estar é determinado. Um estudo conduzido nos Estados Unidos com vacas leiteiras mostrou que três variáveis de má condição de escore corporal, claudicação e falta de bebedouros eram os fatores mais relacionados às más condições de bem-estar.

O sistema de classificação não é transparente e é difícil de entender. Há sérios problemas como usar todas as múltiplas variáveis medidas na Auditoria de Qualidade do Bem-estar e agregar isso em um escore único de bem-estar. Pesquisadores descobriram que esse sistema permite que uma fazenda leiteira com 47% de vacas coxas alcançaram uma classificação de bem-estar aceitável e um rebanho com 25% de vacas coxas tiveram classificação para reforço no bem-estar. A claudicação causa dor em longo prazo e é um dos problemas mais sérios de bem-estar em vacas leiteiras.

A autora acredita que uma abordagem melhor seria ter certos pontos críticos onde um escore aceitável é requerido para todas elas. Uma alta porcentagem de vacas coxas não são aceitáveis independentemente dos escores de outras medidas de bem-estar.

Para um nível mínimo aceitável de bem-estar durante o abate, o sistema de classificação do Instituto Americano de Carnes tem cinco pontos críticos (critérios central). Eles são efetividade na insensibilização com aplicação única, insensibilidade, vocalização durante o manejo e contenção, queda durante o manejo e uso de bastões elétricos.

É da opinião da autora que passar em uma auditoria de bem-estar, a fazenda precisa receber um escore aceitável em todos os seguintes pontos críticos: qualidade do ar dentro das instalações, densidade animal, condição do pelo/pena, claudicação, lesões, condição corporal, limpeza do animal e baixos níveis de comportamento anormal.

Uma pontuação inaceitável em qualquer um dos pontos críticos acima levariam à desaprovação automática. Identificar problemas definidos de bem-estar animal, como alta porcentagem de animais mancando, falta de insensibilização com dardo cativo, lesões e animais obviamente doentes, é mais fácil do que determinar se o bem-estar animal é verdadeiramente positivo. Uma razão pela qual o Sistema de Qualidade do Bem-estar se tornou tão complicado é que mede o bem-estar positivo e negativo do animal.

3.2.1. Prioridades de pesquisa na planta de abate

A principal prioridade para o bem-estar animal na planta de carne é evitar o abuso do animal ou a dor e o sofrimentos óbvios. O abate sem insensibilização é outra grande prioridade da área. A insensibilização por dardo cativo ou elétrica de bovinos, suínos e ovinos têm uma base científica sólida de que induzem instantaneamente à insensibilidade. A penetração do dardo cativo é mais efetiva do que a não penetração do dardo cativo. Os pesquisadores precisam explicar às pessoas preocupadas com o bem-estar animal que apesar de o dardo cativo e a insensibilização elétrica desencadearem a liberação de hormônios do estresse, isso não afeta o bem-estar porque o animal está insensível quando essa liberação ocorre.

A insensibilização com atmosfera controlada não induz instantaneamente à insensibilidade, mas em muitos casos, o manejo animal é melhorado para suínos e frangos. Nos sistemas de grupo de CO2 de insensibilização de suínos, os bastões elétricos podem ser eliminados. A inversão de aves na linha de suspensão para insensibilização elétrica é estressante. Sistemas onde os contêineres de transporte contendo aves vivas são movidas através de uma câmara têm uma vantagem de eliminar as práticas estressantes pré-abate. Está além do âmbito desse artigo revisar toda a literatura sobre insensibilização atmosférica controlada. Dois sistemas comercialmente disponíveis onde frangos vivos são insensibilizados nos contêineres de transporte que a autora acredita que mantêm um nível aceitável de bem-estar são ou um aumento gradual nos níveis de CO2 ou baixa pressão do ar.

A autora sugere que a avaliação do bem-estar, uma medida de reações comportamentais das aves ou suínos antes de perder a postura e a capacidade de ficar em pé devem ser usados. Quando os animais perdem a capacidade de ficar em pé estão insensíveis e inconscientes. É da opinião da autora que o bem-estar fica severamente comprometido se um animal exibe comportamento de fuga e tentativa de pular fora do contêiner. É da opinião da autora que o animal estar ofegante ou balançando a cabeça pode ser aceitável como troca, porque o manejo estressante pré-abate é eliminado.

Os varejistas têm sido importantes direcionadores de melhorias no bem-estar animal, na fazenda e na planta de abate. Quando ativistas colocam pressão sobre os varejistas, eles reagem fortalecendo seus padrões. A autora teve a oportunidade de trabalhar com a McDonald’s Corporation, a Wendy’s International e a Burger King na implementação de auditorias de bem-estar animal de plantas de abate de bovinos e suínos.

O uso de um sistema de classificação numérica resultou em grandes melhoras. Os varejistas precisam de sistemas de avaliação de bem-estar animal que são fáceis para assessores e auditores entenderem. Nos Estados Unidos, o programa de treinamento de auditores PAACO é conduzido em um workshop de um dia e meio com duas visitas à planta. Os varejistas também precisam de orientações redigidas de forma clara para evitar ações judiciais de fornecedores que são removidos de sua lista de fornecedores aprovados. Os varejistas têm mais chances de implementar um sistema de auditoria que tem um forte sistema de auditoria independente feito por terceiros. A auditoria por terceiros é conduzida por uma companhia independente.

3.3.1. Mudança nas atitudes dos varejistas sobre bem-estar animal

A autora observou que as atitudes de gerentes corporativos de uma companhia de restaurantes mudou após eles verem sérios problemas de bem-estar animal, como uma vaca leiteira magra ou insensibilização ruim. Após visitas a fazendas e plantas de abate, a questão do bem-estar animal mudou, passando de um conceito abstrato para algo real que demanda atenção e ação da administração.

Não se trata mais de um incômodo abstrato que foi delegado ou a departamento legal ou a departamento de relações públicas. Os executivos estão agora motivados a usar seu poder econômico para fazer melhorias. Os varejistas frequentemente reagem aos vídeos feitos escondidos que são realmente ruins ou a uma emergência, como um incidente de intoxicação alimentar, tornando suas especificações mais rígidas.

Desde o começo dos anos noventa, uma série de recolhimentos de alimentos por questões de segurança nos Estados Unidos e uma sucessão de vídeos de bem-estar animal motivaram os varejistas e os reguladores do governo a fortalecer a vigilância.

A implementação de auditorias de bem-estar animal em plantas de abate é muito mais fácil comparado com auditorias em fazendas, porque existem menos plantas frigoríficas do que fazendas. Para manter os custos razoáveis, alguns auditores frequentemente conduzem auditorias de segurança alimentar e bem-estar animal.

Varejistas e vários grupos de certificação têm seus próprios esquemas de auditoria e bem-estar animal. Alguns dos mais comuns são RSPCA, Animal Welfare Institute, Humane Certi- fied, Whole Foods GAP e Tesco Foods. Esses padrões privados excedem os padrões da Organização Internacional de Saúde Animal (OIE).

Fonte: Tradução do artigo  “Animal welfare and society concerns finding the missing link”, publicado na Meat Science, Volume 98, Issue 3, Novembro 2014, Páginas 461–469. O artigo original pode ser acessado no link: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0309174014001314.

Por Temple Grandin, professora de Ciência Animal da Universidade do Estado do Colorado e especialista em manejo de bovinos, métodos de abate humanitário e bem-estar animal.

 

Os comentários estão encerrados.

plugins premium WordPress