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Avanço de agronegócio ajuda a turbinar indústrias e startups

Há uma relação direta entre investimento em ciência, tecnologia e inovação e o desenvolvimento de um país. No Brasil, o baixo investimento nessas áreas é um dos principais obstáculos para o crescimento, de acordo com o Confecon (Conselho Federal de Economia).

Na região Centro-Oeste, uma das menos populosas do país e com um dos maiores índices de crescimento econômico dos últimos 15 anos, essa realidade vem sendo transformada por meio de parcerias entre governos, iniciativa privada e universidades públicas.

Em cinco anos, a região ganhou uma dezena de parques tecnológicos e aportes de investimento que alcançam hoje a casa dos R$ 8 bilhões anuais, segundo a Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), agência pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

Parte desse crescimento é resultado do avanço do agronegócio e da pecuária na região: no ano passado, Mato Grosso do Sul teve produção de soja recorde, e Mato Grosso se tornou o maior exportador de grãos do país.

O presidente do parque tecnológico Gyntec, em Goiânia, Reilly Rangel, endossa essa percepção. “As soluções voltadas ao agronegócio estão salvando a economia da região. Estamos em um momento muito interessante no desenvolvimento das startups e da tecnologia da informação”, afirma.

Carlos Wolff, coordenador de inovações e empreendedorismo do Parque Tecnológico de Mato Grosso, calcula que 60% a 70% dos projetos de startups já desenvolvidos ali estejam relacionados ao agronegócio.

No entanto, do montante direcionado a inovações no país, apenas 35% vão para as regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste juntas, de acordo com Marcelo Camargo, gerente de operações descentralizadas da Finep.

Desde 2007, a instituição já apoiou 2.500 projetos de micro e pequenas empresas. Destes, 300 no Centro-Oeste.

Os frutos desse movimento já estão sendo colhidos. Um exemplo é a produção pecuária de Mato Grosso do Sul. Nos últimos dez anos, o estado perdeu 2,7 milhões de hectares para a agricultura, sem, no entanto, diminuir o rebanho. “E ainda aumentamos a taxa de abate”, afirma Jaime Verruk, secretário estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar.

É um erro comum, quando se fala em inovação, pensar apenas em grandes empresas e multinacionais.

“Elas têm maior acesso a recursos financeiros e equipes de pesquisa e desenvolvimento. Mas o que se percebe é que esse movimento não pode ficar preso às maiores. As pequenas e médias são mais flexíveis, mais ágeis, têm menos ranço e respondem rápido às mudanças”, diz Camargo.

De acordo com o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), as pequenas e médias empresas representam 98,5% dos negócios no Brasil. “Esses negócios têm capacidade de captar demandas mais específicas, como as que temos no setor agrícola”, diz Verruk.

“São eles que geram renda, emprego, que se viram nos 30 para fazer com que a inovação aconteça e chegue lá na ponta”, afirma Rangel.

Daí a importância de iniciativas como os parques tecnológicos de fomento a startups. “A gente apresenta os problemas e deixa que eles resolvam”, diz Verruk.

Foi assim que a Organoeste Campo Grande chegou a uma solução para transformar o material orgânico recebido das indústrias e fazendas da região em adubo em apenas 15 dias —contra cerca de cem dias das empresas de compostagem tradicionais.

No Parque Tecnológico de Mato Grosso, uma startup desenvolveu o aplicativo MaqFacil, espécie de Tinder do maquinário agrícola que conecta donos de equipamentos ociosos a fazendeiros com necessidade de ferramentas de ponta, mas sem condições para investir.

BARREIRAS

Um dos entraves para o aumento do investimento em inovação é a incipiência do mercado de capital de risco brasileiro. Com taxas de juros elevadas, o capital excedente gerado pela sociedade vai para as instituições financeiras, em vez de ser reinvestido. “É aí que entra o crédito equalizado, que é o que a Finep oferece”, diz Camargo.

A equalização do crédito é uma espécie de subvenção econômica, que repassa parte do custo do financiamento para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Isso significa taxas de juros competitivas e muito inferiores às praticadas pelos bancos.

O Inovacredi, linha de financiamento voltada a empresas com receita anual de até R$ 90 milhões, é um bom exemplo: oferece taxas de juros de 6,75% ao ano, 24 meses de carência e 72 de amortização da dívida.

A falta de continuidade é outro problema. “Os investimentos em inovação não podem ser pontuais, porque existe um processo que inclui pesquisa, prototipagem e reciclagem da tecnologia até a produção para o mercado”, diz Camargo. Afinal, ressalta Wolff, “só é inovação se virar nota fiscal”.

Fonte: Folha de São Paulo, resumida e adaptada pela Equipe BeefPoint.

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