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Austrália: confinar sabendo para quem vender

Entre os dias 4 e 14 de maio de 2012, o BeefPoint realizou uma viagem técnica (junto com a CAEP) à Austrália para conhecer a pecuária do país, visitando algumas fazendas e também a feira nacional de pecuária, a Australia’s National Beef Exposition, em Rochampton no estado Queensland (nordeste do país) que acontece a cada três anos.

O grupo da viagem estava formado por 26 pessoas, entre pecuaristas, consultores e professores. Suas experiências com pecuária eram diversas, já que havia desde gaúchos a tocantinenses ou mato-grossenses entre os viajantes.

Na primeira visita, o grupo foi ao confinamento Grassdale localizado entre os municípios de Brisbane e Toowoomba. A empresa controladora chama-se Mort & Co, é proprietária de três plantas confinadoras e possui um sistema de venda de cotas para investidores, pagando dividendos a cada trimestre. O valor total informado do investimento para construção do confinamento visitado foi de AUS$ 40 milhões.

O confinamento Grassdale tem capacidade estática para 32 mil animais, sendo que no dia da visita a lotação era de 31 mil e contando as outras duas plantas da empresa, a capacidade total é de 80 mil animais. Como mão-de-obra, são 55 funcionários no total, revezando para manter um homem a cada 1000 animais no dia-a-dia.

Na Austrália, o rebanho total é de 26 milhões de animais, 50% deste número fica no estado de Queensland e 53% dos animais abatidos no país são terminados em confinamento.

A capacidade estática de todos os confinamentos do país é de 1,28 milhão de animais, anualmente são confinados 2,5 milhões e 58% destes são terminados no estado de Queensland.

Um dado interessante é que 20 anos atrás, somente 10% dos animais abatidos na Austrália eram terminados em confinamento.

Logo ao chegar à fazenda, fomos recepcionados por Jordan e seguimos de ônibus para visitar o confinamento. A primeira diferença vista pelo grupo comparando com o Brasil foi o embarcadouro com um corredor sobre o outro, em dois andares.

A presença de dois embarcadouros também chamou a atenção, um para chegada de animais e outro para saída, que segundo o funcionário, além de questões sanitárias, o embarcadouro de saída é mais estreito que o de chagada de animais, evitando pancadas e lesões nos animais terminados.

O curral de manejo fica ao lado do confinamento, com capacidade de operar 1.200 animais/dia.

Na entrada dos animais, os principais procedimentos utilizados nesta planta são a pesagem, a aplicação de implante, de brincos de rastreabilidade, a verificação da dentição (para confirmação da idade) e leitura de ultra-som somente em animais Wagyu para verificar condição corporal e estimar quantos dias de confinamento serão necessários.

Durante o período de cocho, é realizada somente uma pesagem 10 dias antes do embarque para apartação e seleção dos animais a serem abatidos.

Apresentando o confinamento, Jordan explicou que a empresa tem animais próprios e também presta serviço de boitel.

A seleção de animais para serem confinados depende do mercado para qual será ofertado, e os animais utilizados são taurinos ou zebuínos, sem restrição quanto ao grau sanguíneo, 100% castrados.

Os taurinos mais utilizados são o Angus, Hereford, Charolês, Shorthorn ou cruzamentos com o zebuíno Brahman: Charbray, Brangus ou Santa Gertrudes.

A empresa têm três principais mercados como objetivo:

1) Japanese OX: 80% dos animais confinados são terminados para o mercado japonês, dentro dessa classificação: 100 dias de cocho, peso de entrada entre 420 e 470kg com 20 meses de idade, peso de saída entre 650 e 700kg.

2) Mercado interno: 15% da planta é destinada para terminação de animais exclusivos para o mercado australiano, com nível de acabamento menor do que o Japanese Ox. Os animais ficam 60 dias no cocho, tem peso de entrada de 350kg com 18 meses, e saída com 500kg.

 

3) Wagyu Long Fed: 5% dos animais confinados são destinados para o mercado japonês específico de alta gastronomia do país, que busca carne da raça bovina Wagyu, com alto teor de marmoreio. Esses animais ficam confinados de 400 a 500 dias, entram com 350kg de peso e são abatidos com 700 a 800kg. O Grassdale não possui animais próprios para este mercado, por decisão estratégica a empresa somente presta serviço neste caso por se tratar de um mercado muito específico e de baixo giro. A empresa prefere operar em ciclo mais curto com gado próprio.

Em relação à alimentação, o Grassdale possui dois floculadores de milho, servindo como base da dieta.

São oferecidas três dietas de adaptação sendo a dieta final constituída de 60% de concentrado. Como volumoso são utilizados silagem de sorgo e resíduos da indútria cervejeira.

O caroço de algodão também é utilizado, respeitando o limite de 7% da matéria seca segundo Jordan.

Os lotes são de 350 animais e como espaçamento, cada animal tem 15m2  de área, 2,7m2 de área de sombra e 24cm de linha de cocho.

A ração é fornecida duas vezes por dia por um caminhão misturador/distribuidor, sendo os ingredientes todos colocados em uma caixa pré-mistura antes de serem transferidos para o caminhão.

Desta forma, o veículo recebe todos de uma vez, ficando menos tempo parado esperando o carregamento de cada componente.

Questionado sobre o preço médio dos animais de reposição e de venda do boi gordo na Austrália, Jordan respondeu que o valor de compra é em torno de AUS$ 1,85/kg de peso vivo e o preço de venda médio é de AUS$ 3,60/kg de carcaça.

Como objetivo, o confinamento busca resultados entre AUS$ 30,00 e 60,00 de lucro por animal. O rendimento de carcaça médio é de 55%, tanto animais taurinos ou zebuínos.

Como forma de negociação, na Austrália não há contratos de boi gordo no mercado futuro, por isso a empresa trava o preço de venda de 70% em média de seu rebanho diretamente com o frigorífico.

Nos casos de boitel, os parceiros pagam o custo da alimentação e qualquer medicação necessária.

Como percepção geral do grupo, o confinamento Grassdale é de alto nível, capacitado e profissional. No entanto, são encontrados confinamentos no Brasil com o mesmo nível de gestão e tecnológico, não surpreendendo assim os brasileiros visitantes.

O ponto mais importante observado e que geralmente não se encontra no Brasil é a proximidade do produtor com seu mercado consumidor.

O confinador sabe para quem quer vender, qual animal precisa oferecer e qual o sistema de produção precisa utilizar para produzir o produto demandado pelo mercado escolhido.

Desta forma, verifica-se a estruturação da cadeia produtiva de carne bovina da Austrália.

Como em qualquer outra cadeia produtiva, o fornecedor deve planejar sua produção de acordo com seu mercado consumidor, independentemente se há ou não indústrias processadoras entre o produtor e consumidor.

Matéria escrita por Marcelo Whately, analista da Equipe BeefPoint.

6 Comments

  1. Bruno Grossi Costa Homem disse:

    Parabéns pelo conteúdo, pois nos mostra a realidade da cadeia produtiva da carne na Austrália, que é uma forte corrente nossa na exportação de carne bovina. Demonstra ainda, como ainda podemos melhorar no ramo do confinamento, principalmente no aspecto que vocês ressaltaram da relação entre os confinadores com os frigoríficos.

  2. Dermeval Ferreira Flores Neto disse:

    A literatura brasileira cita que a área de cocho por boi confinado deve ser de 70cm linear. Foi uma surpresa para mim, saber que neste confinamento visitado na Austrália a área de cocho foi de 24 cm. Poderiam me dizer o porquê?
    Obrigado.

    • Marcelo Alcantara Whately disse:

      Dermeval, obrigado pela participação.

      Creio que o espaçamento de cocho por animal depende do número de tratos durante o dia.
      Quanto mais tratos, menor pode ser o espaçamento por proporcionar maior número de chances aos animais submissos.

      Outro ponto é a concentração energética da dieta. Quanto mais concentrada, menos tempo o animal fica no cocho para consumir sua porção diária. Assim mais animais podem ter acesso ao alimento por dia.

      Um abraço,
      Marcelo

  3. Fabiano Pagliarini Santos disse:

    O que a Austrália faz e em especial essa empresa, é na verdade direcionar produção ao consumo, como é feito no frango e suínos aqui no Brasil, o ponto que me deixou curioso é a verdadeira participação da indústria frigorífica, sendo que no final do texto diz que independe a indústria. Pois no nosso país a concentração de plantas frigoríficas nas mãos de poucas empresas e principalmente com recursos públicos estranhos, que nos deixa em uma situação desconfortável, para planejar muito.
    Um exemplo disso é o boi castrado que na matéria a empresa australiana é 100%, aqui tem um diferencial de valor por boi castrado, mas não é compensatório, pois para o produto o custo as vezes é maior. Isso já seria um exemplo de diferenciado de comportamento mercadológico.

  4. mario wolf filho disse:

    Parabens pela reportagem, exelente fotos e conteudo.

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